O otimismo tecnológico, por Almeida

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Almeida

Ref. ao post: Michael Löwy: “Crise civilizatória e Eco-socialismo”

Com toda a “gigantesca revolução tecnológica em andamento”, a forma das sociedades humanas obterem, mais de noventa por cento da energia que consomem, está resumida basicamente na oxidação de substâncias compostas de carbono. Um processo conhecido popularmente como FOGO. Vivemos no auge da Era do Fogo; é o mesmo processo usado pelo nosso ancestral Homo erectus, há trezentos mil ou mais anos. Não se enxerga nenhuma tecnologia de uso comercial na praça, que tenha a mesma versatilidade, custo baixo e facilidade de uso, para sua substituição. As fontes de obtenção moderna de fogo são três; o carvão, o petróleo e o gás, todas elas recursos não renováveis, com reservas finitas e previsão de esgotamento no presente século, que uma vez queimadas desaparecerão.

O otimista tecnológico é aquele sujeito que vai ao médico, com pressão alta, vinte quilos acima do peso e um histórico familiar de doenças cardiovasculares; declara na consulta que durante o dia, além de manter uma dieta muito gorda, fuma no mínimo dois maços e bebe meio litro de etanol, diluído em litros de diversas  biritas. Encontra um médico, igualmente tecnotimista, que lhe recomenda para não se preocupar, uma “revolução tecnológica” está acontecendo, no futuro surgirão pílulas que tratarão as doenças decorrentes dos seus excessos, como um simples resfriado. Ele volta para casa e mantém todos os seus hábitos, na espera das pílulas milagrosas, num futuro de data incerta, provavelmente após o seu AVC. O otimista tecnológico acha que se pode jogar com o futuro da humanidade, com a esperança de tecnologias que não se sabe se serão viabilizadas. Ele vê as transformações tecnológicas rápidas acontecidas em pequenosgadgets e acha que a tecnologia de gigantescas plantas e processos industriais sofre transformações iguais.

A “gigantesca revolução tecnológica em andamento” não foi capaz até o momento, nem se vê um horizonte favorável para que venha a acontecer, de encontrar uma tecnologia com viabilidade comercial, para a substituição dos “modernos” automóveis de motores a explosão de combustíveis de hidrocarbonetos. Como se sabe, o “moderno” automóvel e o motor a explosão que o movimenta, são tecnologias criadas em fins do século XIX. Do mesmo século também são as máquinas elétricas aplicadas no uso comercial; motores, geradores e transformadores são praticamente os mesmos, com pouco ou quase nada de melhoria em seus rendimentos. Os navios movidos a petróleo surgiram, quando Churchil decidiu converter a marinha militar inglesa, em 1911, antes da I Guerra Mundial, de carvão para óleo, o que lhe deu grande vantagem no conflito; o então moderníssimo Titanic lançado no ano seguinte era movido a carvão. O “moderno” avião a jato apareceu há setenta anos, no final da II Guerra, e não se vê no horizonte tecnologia de uso comercial para sua substitução. As tecnologias “modernas” para obtenção industrial do aço, do cobre, do alumínio, da soda, da cal, do cimento e de muitas outras substâncias e materiais de largo emprego, são tecnologias datadas do século XIX ou muito mais antigas.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Ponto perdido

    Não se trata de “otimismo tecnológico”, muito pelo contrario. Quem acompanha minimamente as tendencias e os pontenciais dessa confluencia tecnológica (que não deve ser o seu caso, já que você não a menciona em nenhum momento) sabe que existem motivos de sobra para temermos a concretização das piores distopias…e em um futuro bem próximo.

    1. Ovo no c* da galinha é potencial.

      A sabedoria popular ensina que não se pode contar com ele. Não se planeja com varíáveis não existentes. Não menciono “confluencia tecnológica” por alguns motivos. Primeiro porque não sei exatamente, o que você quer significar com isto. Depois você mesmo diz que isso são “as tendencias e os pontenciais”, portanto, nada do que é verificável em realidade concreta no presente. Não se pode tecer roupas com tecidos inexistentes, você pode ficar nu, dei essa resposta na outra postagem. Não se planeja com recursos, instrumentos e técnicas inexistentes.

      Dou um pequeno exemplo: amanhã tenho horário marcado com o meu dentista no centro; tenho de planejar minha ida; não tenho carro e penso como alternativa pegar um ônibus; se algum vizinho amigo estiver indo para onde vou, no mesmo horário e oferecer carona, ótimo, mas não conto com isto no meu plano; se me atrasar para sair de casa ou houver alguma greve dos ônibus, eu conto com os telefones de alguns taxistas que já me prestaram serviço. Pronto, assim fecho meu plano para amanhã, não vou contar com “confluencia tecnológica” que me oferte um carro hi-tech, movidos por baterias de células combustíveis, etc; assim perco o horário. Veja bem, posso até fazer o planejamento mirabolante que você sugere, o máximo que pode acontecer é o dentista ficar puto comigo; mas não posso propor para o futuro da humanidade, alternativas sem, como diz o Ciro Gomes, concretude.

      Quando você descrever a “confluencia tecnológica”, para resolver o impasse ambiental, poderemos discutir com rigor o alcance do que você está a imaginar. Fique bastante a vontade para descrevê-las, se eu não tiver a mesma intimidade que você, como economista, tem com as aplicações das tecnologias, outros leitores do blog eu sei que terão e assim assistiremos um animado debate, sobre o alcance das promessas tecnológicas que ainda virão.

      1. Almeida, ele apenas acredita!

        Ele deve estar acreditando na mesma coisa que me contaram. Que no momento certo sera dado de presente a humanidade a energia definitiva. Ela já foi descoberta e está para ser divulgada num futuro muito próximo com o conhecimento de todas as nações. Dai vem o conceito “Nova Era Global” acredite quem quizer.

  2. Tecnologias estão sempre

    Tecnologias estão sempre vinculadas a interesses.

    Nicola Tesla quando tentou implantar sua tecnologia de corrente alternada foi ridicularizado e humilhado. Quando ouvido e bem sucedido, abriram lhe novas portas onde ele poderia desenvolver a transmissão de energia sem fios. Foi sabotado e ignorado. A tecnologia nuclear, também baseada na queima e destruição de matéria, já tem a utilização em declínio em função do grande volume de rejeito radiotivo que produz. Ou seja, enquanto queimamos lenha, carvão ou petróleo a sensação de desgraça é imperceptível, apesar de muito danosa, mas a sensação provocada pela nuclear é quase instatanea, provocando a reação da opinião pública .

    Mas já existem novos conseitos de tecnologia que revolucionarão o mundo nos próximos 20 anos. Nanoecnologia, Magrav, bionanorobótica são conceitos novos, não tão simples, mas muito revolucionários. Sem medo de errar posso predizer que daqui 30 anos o mundo será outro. Conseitos como de esquerda-direita, desenvolvimentista populista, serão coisas tão ultrapassadas como hoje nos é a escravidã. Porque a energia, que hoje define quem manda no mundo, será baratíssima e facilmente distribuída a todos.

    Só não me atravo a reduzir o tempo para este deleite porque hoje os interesses petrolíferos, automotivos, hidroelétricos, ainda são muito poderosos funcionam como freios da prosperidade humana.

  3. Isso aí, Almeida.

    Os grandes mitos do capitalismo são os do “progresso” e do “desenvolvimento”. Por mais que em muitos aspectos da vida tenha havido melhoras significativas nos últimos tempos, o buraco é mais embaixo. Em termos de infra energética, estamos mesmo a criar um inferno. É preciso que as esquerdas tenham uma efetiva preocupação ecológica, como defende Löwy, e Dilma perde pontos com Marina Silva, por exemplo, no caso das eleições atuais, não porque a carona do PSB seja realmente ligada nisso, mas por conta do descaso de vastos setores do PT com relação a isso. O pior é que parece que o mundo, não só o Brasil, parece ter vocação suicida… E não só por causa das distopias que nos aguardam na esquina, mas também por conta de utopias retrospectivas, inócuas e puristas frente à “perfumaria” falsamente ingênua da ecologia de butique, do capitalismo dito sustentável.

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