Os relatos dos adolescentes feridos pela PM no Paraná

Enviado por José C. Lima

PM do Paraná feriu 4 adolescentes. Eles gritavam “sem violência, sem violência”

Por Claudia Belfort

Da Ponte.org

Ícaro, 16 anos, junto com mais três amigos, estava com as mãos erguidas quando foi atingido por bomba, durante a manifestação, em Curitiba, contra o governo Beto Richa (PSDB). Advogado vê crime de tortura. Governo diz PM apenas reagiu

Ferimentos nos adolescentes agredidos na manifestação em Curitiba. Foto: Facebook Felipe Perez

Quatro jovens menores de 18 anos estavam com as mãos para cima gritando “sem violência, sem violência” quando foram atingidos por bombas de gás lacrimogênio lançadas pela Polícia Militar do Paraná, durante o protesto que deixou entre 180 e 200 feridos, em Curitiba, na quarta-feira, 29/04.

Ícaro Moura, 16 anos, aluno do Colégio Estadual do Paraná (CEP), atingido por estilhaços de bomba, levou cinco pontos na testa, os irmãos Felipe Sebastian e Emília Perez, de 17 e 16 anos, também alunos do CEP e integrantes do Grêmio Estudantil, foram atingidos por estilhaços de bombas nas pernas, joelho, tornozelo, peito e pescoço. Mateus dos Santos, 17 anos, desmaiou com a fumaça das bombas e saiu da manifestação carregado por colegas.

“Tava todo mundo com braço levantado para mostrar que a gente não estava armado, que ninguém queria violência… e gritando sem violência, sem violência…e só vendo bomba e foi uma dessas bombas que veio e me atingiu”.

Ícaro estava ao lado do presidente do Grêmio Estudantil do CEP, Felipe Sebastián Perez, que completou 18 anos no dia seguinte ao protesto. Eles foram à manifestação com mais cerca de 60 a 70 jovens. De acordo com Perez, quando o clima começou a ficar tenso e os policiais passaram a atirar eles levantaram os braços e sentaram no chão:

“A gente foi gritando ‘sem violência’ com a mão para cima…Eu tive a ideia de me agachar e tampar a rua para impedir a passagem (dos policiais) para pedir paz. Quando fui sentar na rua, uma bomba de gás me acertou no peito e estorou no meu peito…Ela pegou meu peito, na minha boca, meu pescoço. Quando estava no meio das bombas pedindo paz, o Ícaro foi agachar com as mãos levantadas e uma bomba estourou no chão na frente dele, quando a bomba estourou o estilhaço pegou na cabeça dele…e pegou na perna da minha irmã.

Ouça o relato de Ícaro:

https://www.youtube.com/watch?v=Gmed02O61Dw

Ouça o relato de Felipe Sebastián Perez:

https://www.youtube.com/watch?v=LEVliX0rRTM

Para Ariel de Castro Alves, advogado e integrante do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), os jovens foram vítimas de crime de tortura “as crianças e adolescentes estão sob proteção especial do Estado, esses adolescentes estavam passivos e foram agredidos covardemente, isso é crime de tortura previsto na lei 9455.”

Alves explica que a ação também fere os artigos 5 do Estatuto da Criança e do Adolescente e o 277 da Constituição Federal que prevê que o Estado deve colocar a criança e o adolescente a “salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

A agressão, segundo Alves, tem como outro agravante o fato de ter sido cometida por um agente do Estado e no caso tanto o governador do Paraná, Beto Richa, seu secretário de Segurança Pública, Fernando Franscischini, e o comandante da PM do Estado, César Vinícius Kogut podem ser responsabilizados pelo crime cuja pena varia de 1 a 4 anos de prisão. “A Promotoria da Infância e da Juventude do Paraná deve abrir uma investigação específica sobre esse caso”, afirma.

No final da tarde, o MNDH soltou uma nota de repúdio ao Governo do Estado do Paraná na qual destaca que “os policiais não podem usar de força desproporcional e de extrema violência contra educadores, profissionais da imprensa e militantes sociais presentes nas manifestações públicas e garantidas pela Constituição Federal.”

A manifestação era contra a votação do projeto apresentado pelo governador Beto Richa que reduz a contribuição do governo sobre as pensões pagas ao funcionalismo. Apesar dos protestos, o projeto foi aprovado pela Assembleia Legislativa. A votação foi fechada e o acesso ao público foi impedido pela Justiça atendendo a uma solicitação do Governo do Paraná.

A Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Estado do Paraná disse em nota que orienta os policiais militares a evitar qualquer tipo de confronto e a respeitar o livre direito à manifestação. Diz a nota ainda que a ação policial se deu “a partir do momento em que os manifestantes tentaram entrar com um caminhão de som na área de isolamento, inclusive tentando virar uma viatura policial que estava estacionada. Vídeos amplamente divulgados pela imprensa mostram que a PM apenas reagiu à investida dos manifestantes.”

Na nota o governo voltou a dizer que havia black blocs infiltrados na manifestação e que a PM está preparada para garantir a preservação do patrimônio público e o cumprimento da ordem judicial.

* Edição de áudio e vídeo: Rafael Bonifácio

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. GREVE, DIREITO, DESENVOLVIMENTO E LUTA ARMADA
    Após o massacre promovido pelo governo do Paraná contra os professores, li alguns comentários nas redes sociais de pessoas defendendo o fim do direito à greve porque, além de tudo, em suas cabeças, ela só serve para gerar violência. Para contestar esta visão, publiquei, em meu facebook, a seguinte pensata. Greve é, acima de tudo, instrumento de preservação e conquista de direitos. Por sua vez, os direitos são um sintoma de desenvolvimento de uma sociedade. Deste modo, a greve é, também, instrumento de desenvolvimento de uma sociedade. Vale lembrar de que a greve só é deflagrada por uma categoria quando as negociações entre as partes conflitantes se esgotam como instrumento de pressão. Dizer que a greve não funciona é negar toda a história da classe trabalhadora. Lembremos, também, de que a greve já é uma conquista, um direito adquirido após muitas lutas, ao custo de muitas vidas humanas. Ela substituiu a luta armada da classe trabalhadora contra o patronato, que jamais cedia por meio das negociações. Se abrirmos mão da greve como direito, abrimos mão dos nossos direitos como um todo, dado que são as greves que tem garantido a manutenção da maior parte dos direitos conquistados pelos trabalhadores. Outrossim, vale lembrar que nenhuma sociedade se desenvolve sem o avanço das garantias e direitos individuais, políticos e sociais. O avanço destes direitos, nos quais se incluem os direitos trabalhistas, é um sintoma de desenvolvimento de uma sociedade. Não é à toa que todo ataque aos direitos sociais, políticos e individuais promovido pela onda neoliberal nas três últimas décadas redundou no avanço da concentração de renda, das injustiças e desigualdades sociais em nível global. Se abrirmos mão da greve só nos resta dois caminhos: ou aceitar a destruição dos nossos direitos sociais, políticos e individuais, ou se lançar à luta armada. Porém, tanto uma quanto outra opção levam a um acentuado flagelo social e humano. Logo, a greve continua sendo, também, o mecanismo civilizado mais importante de luta política, o que a torna, portanto, um instrumento civilizatório. Se queremos lutar por desenvolvimento não podemos deixar de apoiar e nos engajar nas mobilizações, manifestações e greves. Isto é, concretamente, aprofundar a democracia. 

  2. abjeta lição de urbanidade

    Jovens procuram exercitar seus limites, interesses e angariar valores. Percebe-se que a presença de jovens estudantes acompanhando mestres escolares era sua forma de solidariedade. não se sabia que ponto tal movimento despertaria a bestialidade do governo paranaense e seu braço armado. Infelizmente esta nefasta experiência os acompanhará no futuro indicando a cautela que se tem que tomar com governos espúrios, desumanos, cruéis e mal escolhidos.

  3. Não há explicação nesse

    Não há explicação nesse caso.

      Mesmo dizendo que os professores queriam invadir a assembleia.

         Há ”N” meios pra impedir.

            Uma estupenda falta de tato do governador.

             Em SP é quase a mesma coisa.

              Uma coisa é certa: O PSDB não sabe lidar com o povo.

             E quem sabe lidar com o povo, não sabe governar.

                   Então….

                   Estamos fritos e enfarinados!

  4. Enquanto eles gritavam Sem

    Enquanto eles gritavam Sem Violência, uma chuva de bombas de gás ia daqui pra lá e outra chuva de pedras vinha de lá pra cá…

    1. quem não estava lá.

      Paulista Fabio, eu não esperaria de você, aí de longe,nem um pingo de respeito ou inteligência.

      Não viu e dá sua chula opinião.

      Assim você prossegue a jogar bombas sobre os professores e estudantes brasileiros.

      Triste.

       

  5. Insanidade

    Teve até ataque aéreo a civis, coisa que nem em uma guerra é permitido. O helicóptero jogou diversas bombas do alto.

    O que as pessoas se perguntavam era porque o desespero do governador de aprovar o confisco daquele modo, sem dialogar e sem esperar o parecer do Ministério. A única explicação mais plausível é o fato dele já ter usado este dinheiro.

    Esta história não pode ficar impune. Nem que seja necessário recorrer aos tratados internacionais que o Brasil assinou.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador