Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Uma nova ordem na produção mundial de alimentos, por Rui Daher

Francisco Graziano da Silva

Uma nova ordem na produção mundial de alimentos

por Rui Daher 

em CartaCapital

Os sistemas agroalimentares caminham para a diferenciação de produtos, nichos, circuitos curtos de transporte e valorização de mercados locais. Mais do que a concentração fundiária, com o avanço de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, o que sobrará para caboclos e campesinos?

Caso o ilegítimo presidente Michel Temer, menos de 3% de aprovação entre os brasileiros, como no caso de Lula, possa interferir na ONU a seu jeito e maneira, o agrônomo José Graziano da Silva, reeleito diretor-geral da FAO, poderá não terminar seu mandato que vai até julho de 2019. Sabem vocês, golpes e filhotes vicejam qual tiriricas na Federação de Corporações.

Não que a opinião mundial fosse se incomodar. O desalojamento poderia, até mesmo, agradar aos membros da Organização. Hoje em dia, tudo e todos com o carimbo Brasil, são motivos de piadas e chacotas no exterior.

Na coluna da semana passada, critiquei as projeções feitas pelos “cabeças de planilha” (grato, Luís Nassif) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o crescimento da agropecuária brasileira de commodities. Ironicamente, perguntava: por que não seguem com a projeção dez anos à frente? Excel fácil, PowerPoint à Dallagnol, e o melhor: provável eu não durar para me irritar com essa bobagem.

O bom é que nosso professor da Unicamp não é um “cabeça de planilha”. Está na FAO, também, para estudar, pensar, perceber tendências, e nos fazer refletir.

Em recente participação no 56º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Não compareci, mas aproveito relato de Luiz Sugimoto – que reconheço sério – da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp.

Graziano afirma: “Projetar o consumo da demanda de commodities agrícolas pari passu com o crescimento da população me parece um erro (…) está em curso no mundo uma transformação muito profunda no padrão de alimentação e nos sistemas agroalimentares, com a diferenciação de produtos, a criação de pequenos nichos de mercado e a opção por circuitos curtos de transportes, valorizando assim a capacidade de produção local”.

Lembro já ter teclado coisas assim. Finalmente, alguém levanta a bola para este colunista voltar à lupa e denunciar desastre brasileiro em não fazer evoluir, ou pior, cortar recursos das pequena e médias produções familiares ou de grupos pobres rearranjados para dedicação agrícola e mesmo para agregação de valor à cadeia dos agronegócios.

Mas não. A galera fiada nos poleiros das commodities se mantém descrente de qualquer ameaça e sem coragem de dizer não à tecnologia química. Preferem o assalto a experimentar o sapato velho reformado.

Percepções de Graziano que, creio, algumas já anunciadas na coluna, embora com ralo destaque.

Mudanças no padrão de alimentação: sistemas agroalimentares caminham para a diferenciação de produtos, pequenos nichos de mercado, circuitos curtos de transporte, valorização de mercados locais;

Desaceleração do impacto do aumento da renda sobre o consumo médio, inclusive na China: minha concepção, na cadeia alimentar o Mercosul estará fadado menos à produção de bens primários, mas sim sub-primários, matérias-primas para produção da nova tendência de consumo;

Visão da obesidade: entre os maiores consumidores e importadores de commodities agrícolas, cresce a demanda por produtos mais naturais, proteicos, mas voltados para a “nova saúde”. Cresce o número de vegetarianos e veganos;

Destinação regional detectada pela ONU: Grande parte do crescimento da produção de commodities está no Mercosul (Brasil, Argentina e Paraguai (Brasil?);

Impactos sociais: Mais do que a concentração fundiária, com o avanço caríssimo de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, o que sobrará para caboclos, campesinos, sertanejos e tabaréus?

Apoio governamental: Hoje em dia, nem pensar. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) foi extinto pelo neoliberalismo de fancaria;

Guerra comercial: EUA, Canadá e União Europeia juntam-se para combater a China. Óia nóis aí mermãos! Quem seremos? Simples: os fornecedores de terras, água e luz. Num tá bom demais? Dio, grazie.

Apesar de ser essa a minha visão, não pensem que minha fé é cega. Ela é muito mais faca amolada. Corri à USDA. Na próxima coluna, se não mudar de ideia, volto para o assunto.

Uma galhofa apenas: perguntem a Jair e Cabo Daciolo qual sua opinião sobre o assunto.

Nota para o GGN:

Os vídeos aqui sugeridos servem para dizer que não estamos fragmentados. Estamos unidos pelo amor e pela excelência da cultura brasileira. Daí, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Luiz Melodia e Walther Salles (pai), terem constituído o Conselho Consultivo do “Dominó de Botequim” para que nos devaneios de minha finitude, possa explodir uma realidade inconteste: que merda vocês fizeram, por que tanta sordidez, golpes, infâmias, delações infundadas e premiadas, partindo do pior da raça, com tudo isso, arrebentam, prendem, e não conseguem tirar nossa aprovação a Lula, o maior estadista que o Brasil já teve? Sabem o que vocês merecem, não? Eu sei. A cena está no filme “Bonitinha, mas ordinária”, sobre obra de Nélson Rodrigues e filmada por Braz Chediak, com os magníficos Lucélia Santos e José Wilkerundefined].  

https://www.youtube.com/watch?v=qUawNS9JTP8]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=lvt2HpwQ62M

[video:https://www.bing.com/videos/search?q=+Luc%c3%a9lia+Santos+bonitinha+mas+ordin%c3%a1ria&&view=detail&mid=6CEC99B30482043CFF3E6CEC99B30482043CFF3E&&FORM=VRDGAR

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. A IMBECILIDADE ENCONTROU SEU ESTADO. E SEUS ESTADISTAS

    88 anos de Estado Absolutista. Indústria da Pobreza. Grupo Coreano compra cerca de 5.000 Alqueires no interior da BA. Toda produção agropecuária deste Empreendimento para ser enviado a este país. Graziano, acho que os Coreanos, asim como eu, não entenderam sua Teoria. A Norte-Americana Universidade de Harvard é dona de 140.000 Alqueires também nesta mesma Bahia. A maioria do Povo do interior deste Estado vive de Assistencialismo Estatal, escravizados por Bolsa Família. Anteriormente escravizados por Sudene’s e Cobal’s da vida. Indústria da Seca. De qualquer forma, escravizados. A Coca Cola importa ‘extrato’ de Refrigerante via Zona Franca de Manaus. Superfatura seus preços importados da Matriz e recebe vultosas e milionárias somas em dinheiro, como reembolso do Imposto Brasileiro que nunca pagou. Suspensa esta mamata, ameça abandonar bilionário mercado brasileiro. Será? Na divulgação deste crime cujo cúmplice é o próprio Governo Brasileiro, correram em prender o Proprietário dos Refrigerantes Dolly. 100 % Nacionais. Concorrente da mesma linha de produtos da multinacional norte-americana Coca-Cola. Hoje no Estadão, Articulista comprova que MultiNacionais Estrangeiras tem 2,5 vezes mais chance de receberem Incentivos Fiscais e Financiamentos Subsidiados do Governo Brasileiro que as Empresas Nacionais. O problema do Brasil é a Pobreza? E nossos Governos lutam em combatê-la? Pobre país rico. A mediocridade ganha uma nova perspectiva e dimensão a partir da Estrutura Politica Brasileira. abs.      

  2. Quer dizer que não vais mais precisar da soja brasileira?

    Não é que eu defenda que um país tenha que produzir apenas commodities, mas a Europa e a América do Niorte, por exemplo, tem como valorizar seus mercados locais sem as commodities do terceiro mundo?

    1. Xará,

      é claro que não, e exatamente o que expressa o texto. Este será o papel do Mercosul. O problema é ficarmos SÓ com tal papel. Precisamos empreender e ampliar o mercado interno não apenas com produção, mas também com diferenciação. São tendências que se contarão em décadas, porém, hoje já explícitas. E temos uma quantidade enorme de pessoas dispostas a acelerar essa transformação abandonadas pelas iniciativas públicas e privadas.

      Abraços

  3. Concordo Zé Sérgio,

    creio que a minha resposta ao Rui Ribeiro poderia complementar os seus argumentos. Talvez, a “Teoria” do Graziano é de que um Estado precisa ser muito incompetente para não entender o tamanho de sua riqueza e entregá-la de mão beijada a coreanos, chineses, norte-americanos, europeus e japoneses. Aliás, qualquer absolutismo é burro. Ou você acha que esses investimentos no Brasil é por que a estrangeirada está olhando para o passado ou o presente? Seus faros vêm de longe e o alvo sempre foi aqui. Deixemos. Eu não estarei aqui para lembrá-los do que o Graziano alertou. Mas isto, quando fiz Ciências Sociais, se chamava Política de Estado, o que nunca tivemos.

    Abraços    

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