Bancos brasileiros ampliam participação no exterior

Do Correio Braziliense

Setor financeiro lidera a internacionalização de companhias brasileiras

Nos últimos anos, os bancos têm ampliado a participação nos mercados internacionais com a aquisição de instituições financeiras e a abertura de escritórios e subsidiárias

Autor(es): VICTOR MARTINS DECO BANCILLON ROSANA HESSEL

Apesar da crise econômica que ainda assola boa parte do mundo, as instituições financeiras que apostaram na compra de participações acionárias no exterior vêm obtendo resultados positivos. Segundo dados do Banco Central, o segmento lidera as remessas de lucros feitas pelas filiais de empresas brasileiras para as matrizes. Apenas no ano passado, os investimentos externos nesse ramo somaram US$ 4,6 bilhões. Os lucros enviados ao Brasil, no período, chegaram a US$ 3,6 bilhões — o equivalente a 59,3% de toda a receita obtida por companhias nacionais fora do país.

Nos últimos anos, os bancos têm ampliado a participação nos mercados internacionais com a aquisição de instituições financeiras e a abertura de escritórios e subsidiárias, aproveitando as oportunidades criadas pela crise internacional e a quebra de instituições nos Estados Unidos e em outras regiões. Nos países mais atingidos pelas turbulências, há uma procura intensa por instituições sólidas e de qualidade. Como o mercado brasileiro é um dos mais fechados e mais supervisionados do mundo, os bancos nacionais sofreram pouco com a crise e se tornaram referência em segurança para outras nações. 

Os problemas globais também tornaram mais acessíveis as aquisições de bancos e a participação em negócios financeiros. “Os ativos estão muito baratos no exterior. A questão é só encontrar qualidade e avaliar o risco”, diz José Luís Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues. Para Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a internacionalização é uma tendência que ganhou força nos últimos anos. “É importante sair do país para obter mais escala e para operar com exportadores e empresas brasileiras e outros clientes institucionais”, argumenta. 

Paulo Caffarelli, vice-presidente de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do Banco do Brasil, observa que, se a instituição não ocupar espaço lá fora, a concorrência vai fazê-lo. “Temos um caixa razoável para aquisições ao longo deste ano, ao redor de US$ 70 bilhões. Estamos prospectando algumas operações nos Estados Unidos e na América Latina”, informa. O foco do banco brasileiro é adquirir bancos com até 50 agências, operações consideradas de tamanho médio.

Segundo Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a internacionalização ocorre apenas entre as instituições maiores. Para as pequenas e médias, sair do país é mais difícil. As margens de lucro são menores lá fora, o que exige um nível elevado de capacidade operacional. “Os bancos que estão indo para o exterior buscam assumir um posicionamento estratégico. Isso lhes permite atuar mais fortemente com grandes clientes”, pondera Oliva. 

Rentabilidade

Para Caffarelli, a internacionalização fortaleceu o BB. De 2010 a 2012, a rentabilidade do banco com operações no exterior saiu de 1% para 8,4%. A meta para 2013 é chegar a 12%. “Você não pode entrar no mercado internacional levando suas deficiências. Primeiro você tem de saná-las. Neste ano, nós vamos crescer de maneira orgânica e com aquisições”, observa Caffarelli.

De acordo com o Banco Central, existem 30 instituições sediadas no Brasil com operações no exterior. No total, elas possuem 51 agências, 22 escritórios e 78 subsidiárias. O Banco do Brasil mantém 24 operações fora do país. O Itaú Unibanco, 23. Até mesmo a Caixa Econômica detém três dependências em solo estrangeiro.

O destino preferido dos investimentos brasileiros são os Estados Unidos, que respondem por 9% de todos os recursos aplicados. A maioria de todo o capital investido fora do país, porém, passa pelas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal próximo de Cuba e pertencente ao Reino Unido. Praticamente todas as instituições com operações fora do território nacional mantêm ali um escritório. De todo os recursos direcionados, em 2012, à aquisição de participações em empresas estrangeiras, US$ 2,9 bilhões foram registrados em Cayman.

Caminho mais curto

Mais de uma centena de companhias brasileiras chegam ao mercado externo por meio de franquias. Atualmente, existem 112 marcas nacionais presentes em 53 países. E a Associação Brasileira de Franquias (ABF) pretende chegar, até 2015, em 150 empresas. “O Brasil vem ampliando a presença no exterior. O país está na moda, e é associado a conceitos inovadores, principalmente na área de serviços”, destaca o diretor da ABF André Friedheim. 

Ele conta que o número de estrangeiros nas feiras de franqueados é crescente, sobretudo de México, Estados Unidos, África e Oriente Médio. Atualmente, o principal mercado é a Argentina, onde há 11 marcas e 144 franquias brasileiras. Em segundo, vem Portugal, com 118 franquias e 38 companhias. Os EUA estão em terceiro — 64 franquias e 19, respectivamente.

Desbravar o mercado internacional tem as suas particularidades. O diretor da Fundação Fisk Christian Ambros lembra que viveu uma experiência interessante em Angola. “A carga tributária lá é extremamente baixa, mas levamos seis meses para conseguir uma licença que no Brasil teríamos em 30 dias.” O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, ressalta que uma das principais barreiras para a expansão de uma empresa lá fora, além da língua, é o enorme mercado doméstico. Mesmo assim, ele destaca que existem 11,6 mil pequenas empresas nacionais exportando e que, em 2011, o volume de vendas chegou a US$ 2,2 bilhões.

Luis Nassif

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