Colheita Maldita, uma trilogia norte-americana que explica a realidade brasileira, por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

Colheita Maldita, uma trilogia norte-americana que explica a realidade brasileira

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Desde que Dilma Rousseff foi covardemente deposta pelo “quadrilhão” liderado por Michel Temer, o qual só agora foi denunciado pelo MPF, nosso país foi atingido por um crescente furacão político.

Programas sociais foram revogados e privatizações suspeitas são realizadas sem a autorização dos eleitores. A violência dos evangélicos contra as religiões de origem africana aumentou. Índios e sem terra tem sido exterminados sem qualquer oposição séria das autoridades. Os meninos do MBL consolidaram seu poder e se transformaram nos pastores de um novo culto fascista que se caracteriza pela difusão de uma doutrina que mescla anti-petismo, machismo estético e amor incondicional aos endinheirados que financiam o movimento. Manifestações de resistência a onda conservadora artificialmente fomentada pelo MBL, lideranças evangélicas e pela mídia são reprimidas com crescente violência policial.

Tolerância religiosa, igualdade perante a Lei, pluralidade política, liberdade de consciência, expressão e manifestação, valorização estatal dos direitos humanos, respeito ao programa econômico aprovado pelas urnas, etc… todas as garantias genuinamente liberais da CF/88 estão sob ataque. O pesadelo está apenas começando.

Os fatos, sempre noticiados de maneira acrítica ou com uma ponta de satisfação sadista, sugerem que o quadro irá piorar.O Judiciário demonstra claramente que aderiu ao golpe, pois os juízes cada vez mais usam o Direito Penal do Inimigo como instrumento de exclusão política e social enquanto reservam o Direito Penal do Amigo para proteger mafiosos como Perrela, Aloysio Nunes, Aécio Neves, Anastasia, José Serra, Geraldo Alckmin e outros líderes políticos comprometidos com o novo regime. Desprestigiadas, as Forças Armadas parecem ter se conformado ao novo papel que lhes foi outorgado: uma tropa de ocupação territorial garantidora da violenta imposição da desnacionalização da economia e dos recursos naturais (minerais, petrolíferos e hídricos) brasileiros.

Quando a realidade transforma a Constituição numa ficção, nada melhor do que usar a própria ficção como instrumento de análise. Hoje farei isto utilizando a trilogia Colheita Maldita.

No primeiro filme a motivação das crianças que matam os adultos é patológica e de inspiração maligna. O culto é interrompido, a plantação é queimada e a divindade bestial é destruída.

No segundo filme, adultos gananciosos querem vender milho velho contaminado junto com o que será colhido. O fungo do milho estocado pode ter causado o surto psicótico coletivo. As crianças matam os adultos antes da colheita, mas o culto é novamente interrompido. A entidade maligna é morta por uma colheitadeira.

No terceiro filme dois garotos de Nebrasca são adotados por um casal de Chicago. O mais jovem planta o milho maldito numa fábrica abandonada e reinicia o culto daquele que anda atrás das fileiras. Cenas dos dois primeiros filmes se transformam nos pesadelos do padre que cuida da escola onde os garotos estudam. Eli não é um garoto normal, ele é a própria encarnação da entidade maligna. Mas o culto é destruído quando Eli e sua bíblia profana são mortos ao mesmo tempo. O milho maldito, porém, acaba sendo exportado.

A complexidade crescente dos enredos é evidente. O que começou como um culto rural violento se transformou num fenômeno urbano exportado para o mundo inteiro. Entre uma ponta e outra da trilogia, a ganância pelo lucro acaba unindo os adultos às crianças antes que os próprios adultos sejam exterminados. Isto ocorre quando o policial resolve matar John Garret e Frank Redbear porque eles descobriram que o milho velho contaminado será comercializado junto com a nova safra de milho.

“Qualquer religião sem amor e compaixão é falsa. É uma mentira.”

A fala de Burt num dos momentos cruciais do filme Colheita Maldita (1984), se ajusta perfeitamente às duas religiões que fomentam o ódio no Brasil. Os pastores evangélicos e meninos do MBL que se esforçam para controlar a vida pública impondo violentamente suas crenças e cerceando a liberdade religiosa e artística dos “outros” brasileiros são protagonistas de uma falsa religião. Portanto, eles deveriam ser combatidos e não protegidos pelas autoridades policiais e judiciárias.  

“Eu vi a luz que vem do milho! Aquele que anda atrás das fileiras ordena que matemos todos que desonram o milho!

O jovem Micah, Colheita Maldita 2 (1992), prega o ódio homicida. O ódio homicida contra petistas, sem terra, índios e gays tem sido pregado diariamente na internet. Mas isto não parece preocupar os policiais federais que varrem a internet a procura de pessoas que demonstram insatisfação com o novo regime infame imposto ao país por uma quadrilha que deveria estar na prisão e não comandando Ministérios.

-Esta reunião amanhã é sobre o meu milho?

-Sim. Essa especial pode ser exportada para o mundo todo.

-Para crianças também?

-Principalmente.

Este breve diálogo entre Eli e seu pai adotivo Willian, Colheita Maldita 3 (1995), que sugere a internacionalização do mal, evoca as relações entre pastores evangélicos brasileiros e norte-americanos e o financiamento que o MBL recebeu dos irmãos David e Charles Koch. As sementes do mal que foi plantado e vicejou no Brasil foram importadas. Vulneráveis ao dinheiro farto e fácil dos estrangeiros que cobiçam nossas riquezas, as crianças brasileiras foram envolvidas por um culto destrutivo exatamente como os personagens da trilogia.

Os prejuízos provocados pelo golpe são evidente. Redes varejistas que incentivaram e financiaram as manifestações contra Dilma Rousseff foram as primeiras a sentir o impacto da incompetência econômica do quadrilhão liderado por Michel Temer. A retomada econômica não ocorreu, o comércio segue afundando. A desnacionalização da produção industrial ligada à cadeia petrolífera afetou negativamente os interesses dos industriais paulistas. A FIESP pagou o pato duas vezes, quando o colocou nas ruas em favor do golpe de 2016 e quando colheu os prejuízos decorrentes da nova política econômica. Como os seguidores de Micha (Colheita Maldita 2) os meninos do MBL não estão muito interessados em salvar o comércio e a indústria nacional.  

Algumas vezes a arte imita a vida. Quando a vida começa a imitar a arte a única coisa que podemos fazer é rir dos idiotas que adoram os filmes norte-americanos e não conseguem ver o que eles podem ensinar.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

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  1. FILHOS DA PUTA. Somos

    FILHOS DA PUTA. Somos prototelepaticos preparando nossa propria sociedade bem debaixo dos seus putos narizes:  QUEM SAO VOCES e QUAIS sao suas qualificacoes tecnicas mesmo?

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