Delação do fim do mundo: relembre quem são os cerca de 300 nomes da lista da Odebrecht

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A delação de mais de 70 executivos da Odebrecht ganhou o apelido de “delação do fim do mundo” não à toa. Com centenas de nomes de políticos envolvidos, esse acordo de cooperação da Lava Jato, que deve ser assinado até esta sexta (25), tem potencial para intensificar a crise política que se arrasta desde a reeleição de Dilma Rousseff.

Em março, pouco depois de a lista da Odebrecht ser apreendida pela Lava Jato, o Congresso em Foco fez um extenso trabalho apontando quem é quem no documento com cerca de 300 políticos citados.

Os partidos com mais políticos que receberam doações da Odebrecht são, de acordo com o portal, PT (76), PSDB (48), PMDB (41), PP (22), PSB (17) e DEM (16). “A relação traz ainda 48 prefeitos, 33 vereadores e 23 deputados estaduais, fora uma infinidade de ex-governadores, dirigentes partidários e candidatos nas eleições disputadas no Brasil desde 2010.”

Veja a lista completa aqui.

Do Congresso em Foco

Com o fechamento do acordo de delação premiada de 77 executivos da maior empreiteira do país, cresce a expectativa pela divulgação dos nomes que serão arrastados para o centro da Operação Lava Jato. O potencial explosivo da maior delação já feita no Brasil é certo. Uma mostra dos danos que a colaboração pode causar já foi dada no começo do ano, quando a Polícia Federal apreendeu planilhas na casa de um ex-diretor da Odebrecht que listava valores atribuídos a pelo menos 316 políticos de 25 partidos. O aprofundamento das investigações, com o acordo de delação da Odebrecht, vai permitir esclarecer caso a caso – pode tanto reparar injustiças como arruinar carreiras políticas. Os repasses foram feitos nas campanhas municipais de 2012 e para a eleição de 2014. Porém, não se pode afirmar com certeza de que se tratam os números das planilhas: podem ser doação legal, caixa dois, ou propina.

O material foi apreendido em fevereiro com o então presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior, no Rio de Janeiro, durante a fase Acarajé da Lava Jato. Os papéis, entre os quais cópias de planilhas com várias anotações a mão, atribuem doações eleitorais a cerca de três centenas de políticos. O número de citados é menos expressivo que a sua importância. Se os citados na papelada formassem, digamos, um “Partido da Odebrecht”, ele superaria todos os outros em número de governadores (8), teria a segunda maior bancada no Senado (16) e a terceira na Câmara dos Deputados (55).

Entre eles, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RN), do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que patrocinam no momento medidas de reação ao Judiciário e ao Ministério Público. Maia costurou ontem, com líderes partidário, a proposta que pretende anistiar todos o crime de caixa dois praticado antes da vigência da lei de combate à corrupção em votação na Casa. Também estão na relação, além de ex-auxiliares de Dilma, sete ministros do presidente Michel Temer: José Serra (Relações Exteriores), Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário), Raul Jungmann (Defesa), Roberto Freire (Cultura), Bruno Araújo (Cidades), Mendonça Filho (Educação) e Ricardo Barros (Saúde).

Há na lista apurada pelo Congresso em Foco ainda em março nomes do Distrito Federal e de todos os estados brasileiros. Estão entre eles grande parte das principais lideranças políticas nacionais, incluindo chefes de Executivo das unidades federativas economicamente mais fortes do país. Em ordem decrescente, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia têm os maiores contingentes de candidatos possivelmente financiados pela Odebrecht.

PT, PSDB e PMDB

Nada menos que 25 partidos são contemplados. PT (76), PSDB (48), PMDB (41), PP (22), PSB (17) e DEM (16) lideram as doações. A relação traz ainda 48 prefeitos, 33 vereadores e 23 deputados estaduais, fora uma infinidade de ex-governadores, dirigentes partidários e candidatos nas eleições disputadas no Brasil desde 20120.

A lista publicada com exclusividade pelo Congresso em Foco em março envolveu um complexo trabalho para confrontar indicações de datas, nomes e locais constantes dos documentos originais, além da eliminação de erros de grafia e da decodificação de certos apelidos. Por exemplo, no contexto encontrado nos papéis, há pouca margem para dúvidas quanto à identidade do “Gato Angorá”. Trata-se do secretário do Programa de Parceria de Investimentos, Rio Moreira Franco (PMDB), assim conhecido pelos seus cabelos brancos.

Nem por isso é possível garantir que a presente lista é 100% completa e livre de equívocos. Se você notar a necessidade de algum acréscimo ou retificação, escreva para redaçã[email protected]. O mesmo e-mail está à disposição dos interessados em esclarecer a menção a seus nomes. Foram desconsideradas as referências a repasses feitos diretamente aos partidos.

Vale acrescentar, finalmente, que as doações – cujo montante total supera as contribuições da Odebrecht registradas pela Justiça eleitoral nos pleitos de 2010, 2012 e 2014 – envolvem valores contabilizados oficialmente pelos candidatos ou partidos, mas não só eles.

Em off, alguns dos citados admitem que o dinheiro foi entregue por caixa dois, mas não se confundiriam com propinas pagas em troca da defesa dos interesses da empresa.

Mistérios

Também há casos em que os políticos mencionados garantem que a transferência do dinheiro não ocorreu. Outro ponto a ser esclarecido é se aqueles que aparecem nos documentos como “históricos” são, como sugere a palavra, políticos habitualmente premiados com contribuições do grupo Odebrecht – regulares na periodicidade com que foram feitas, mas irregulares por estarem à margem de qualquer previsão legal.

A qualificação é dada a um seleto grupo de políticos poderosos, quase todos do PMDB: o ex-deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL); o ex-presidente José Sarney (AP); o senador Romero Jucá (PMDB-RR); o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ); o ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves; o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani; e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, preso desde a semana passada. Há dois “históricos” não peemedebistas: o senador e presidente nacional do DEM, José Agripino (RN), e o líder licenciado do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

Enfim, não falta material para ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Nesse aspecto, a decisão da Odebrecht – e em especial do seu herdeiro e principal executivo, Marcelo Odebrecht – de aderir à delação premiada deve esclarecer muita coisa. Ou seja: a Operação Lava Jato continua a prometer novos e impactantes revelações sobre o relacionamento espúrio entre os políticos e as grandes empreiteiras.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Uma campanha pelo “Partido Odebrecht”

    poderia ser a seguinte: todos os que estiverem metidos nesta lista deveriam ser expulsos do Serviço Público, de cargos eletivos, cargos nomeados, etc. Além de devolverem aos cofres públicos as roubalheiras realizadas.

    Essa campanha deveria coletar assinaturas pelo Brasil para pressionar o parlamento,  todos os dirigentes e as altas cúpulas dos diversos órgãos públicos pelo Brasil para exterminar esses culpados. 

    Poderíamos tomar emprestada uma frase do Millor: “Ou restaura-se a moralidade, ou locupletmo-nos todos”. 

    1. Delacao é comprovacao de

      Delacao é comprovacao de culpa? Agora faca-me o favor, vamos lutar para restaurar a legalidade e nao aprofundar a ilegalidade

  2. Muito barulho e alarde. A chuva pode não corresponder ao alarido

    Prezados,

    Criou-se muita expectativa, muita celeuma, muito alarde, muito alarido, muitos estão com o c. na seringa, por causa dessa decantada “Delação do fim do mundo”. Não tenho toda essa expectativa em relação ao que será revelado a partir dos já corriqueiros ‘vazamentos’, procurando incriminar os de sempre (petistas ou que serviram aos governos encabeçados pelo partido).

    O jogo de ameaças, chantagens, coação e tortura psicológica a que foi submetido o empresário Marcelo Odebrecht, ao longo desse um ano e meio em que está encarcerado é muito pesado. Está na cara que os integrantes da Fraude a Jato coagiram o empresário a delatar e incriminar pesadamente os políticos e líders do PT, aliviando ou limpando a barra dos tucanos. É sintomático o fato do juiz sérgio moro ter decretado sigilo da famosa “Lista da Odebrecht”, após esta ter sido vazada a diversos veículos de mídia. Os integrantes da ORCRIM da Fraude a Jato são frios e calculistas; seguraram a lista, coagiram e torturaram o empresário Marcelo Odebrecht a dizer exatamente aquilo que eles desejam e só então, foi assinado o acordo de delação premiada. O lapso entre a primeira divulgação da lista e a assinatura do acordo foi  o necessário para que o golpe de Estado se consumasse, a lei da Partilha fosse derrubada e a Petrobrás retalhada e eprivatizada pelos saqueadores liderados por Pedro Parente (que na era FHC, juntamente com José Serra e Pedro Malan deram um prejuízo de cerca de R$4 bilhões à mesma Petrobrás e por isso são réus no STF, por improbidade administrativa), assim como o necessário tempo para que os tucanos de alta plumagem possam se safar.

    Com a brilhante atuação dos advogados que defendem o ex-presidente Lula, toda  trama golpista tornou-se de conhecimento público, inclusive o fato de que sérgio moro e os comparsas da Fraude a Jato são prepostos dos EUA e atuam em defesa dos interesses econômicos e geopolíticos desse país. Não tenho dúvidas de que TODAS as instituições e poderes estão apodrecidos e que as integrantes do ‘sistema de justiça’ (polícias, MP e PJ) são tão corruptas quanto as que integram os poderes políticos; e com uma agravante: essas instituições não são democráticas e nós, simples cidadãos, não podemos destituir, muito menos punir os que descumprem suas obrigações e cometem crimes. O Estado Fascista de Exceção, que já vigora no Brasil, é filho desse ‘sistema de justiça’ corrompido, oligárquico, plutocrata, escravocrta, cleptocrata, seletivamente punitivista, irmão gêmeo das oligarquias e quadrilhas políticas herdeiras da casa grande.

  3. Lista não são provas

    Lista não são provas concretas… pode ter acusados de verdades e acusados falsos. Por isso, investigação isenta, imparcial e que não seja com o time da lava jato. Convoque-se uma junta de juizes, de procuradores e delegados de vários Estados do Brasil trancado a 7000 mil chaves para que a grande mídia não tente obter os famosos vazamentos…

  4. Enquanto não houver uma

    Enquanto não houver uma reforma política, doação para campanha não é crime .

    Politiqueiros e seus crimes inexplicáveis :

    José Chevron Serra (depósito de milhões em contas secretas na Suiça + propinas desviadas por Paulo afrodescendente Preto)

    Aécio perdedor Neves (conta secreta em Luxemburgo + propinas da hiperinflacionada construção da sede de governo de MG) 

    FHC e a inexplicável compra do fantástico apartamento em Paris, compra de fazendas em MG etc…

    A escancarada e nababesca vida do Sérgio Cabral, politiqueiro de origem pobre, criado na Zona Norte do RJ .

    O enriquecimento vertiginoso do politiqueiro Jorge Picciani, politiqueiro de origem pobre, do subúrbio de Anchieta/Ricardo de Albuquerque, e hoje, um grande fazendeiro em MG e RJ .

     

  5. Só eu que creio que, no

    Só eu que creio que, no fringir dos ovos, essa “lista” da Odebrecht como que “por encanto” ferrará apenas o PT e alguns bagrinhos?

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