Desocupação do prédio da OI no Rio de Janeiro é marcada por violência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O Batalhão de Choque da Polícia Militar está concluindo o violento processo de desocupação do prédio da OI, no Engenho Novo, na zona norte do Rio de Janeiro. O edifício da empresa Telemar – controladora do grupo Oi, estava ocupado por cerca de 5 mil moradores há 11 dias. 

Após uma das lideranças dos manifestantes ser presa, o confronto se acirrou e os policiais usaram bombas de efeito moral e gás lacrimogênio para controlar a situação. Um repórter do jornal O Globo foi detido e demais repórteres e fotógrafos que fazem a cobertura foram agredidos fisicamente e verbalmente por policiais.

Manifestantes atearam fogo a um carro da Polícia Militar (PM) e também em um ônibus e feriram três policiais com pedradas. Homens da tropa de Choque da PM usaram balas de borracha para afastar os manifestantes.  Um carro de uma emissora de televisão também foi parcialmente destruído a pedradas.

No interior do prédio, que fica na Rua 2 de Maio e está abandonado há mais de dez anos, homens do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), usaram retroescavadeiras para destruir os barracos de tábuas de compensado. Batalhão de Choque, Guarda Municipal e três helicópteros, além de uma retroescavadeira estão sendo usados para a reintegração de posse.

A tensão também se estendeu na entrada da favela do Jacarezinho, onde policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dispensaram manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta, no acesso pela rua Álvares de Azevedo. De acordo com o tenente P. Norberto, da UPP do Jacaré, o policiamento foi reforçado e os militares fazem a guarda com fuzis, pistolas e escudos.

Um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), instalado na Rua Álvares de Azevedo, foi atingido a pedradas. O acesso à rua foi bloqueado por manifestantes que fecharam a pista com pedaços de paus, pedras e pneus. Uma equipe de policiais do 3º Batalhão da PM chegou à Rua Álvaro Seixas e disparou tiros para o alto, para tentar controlar manifestantes.

Depois de passado o tumulto, no momento, dezenas de moradores estão fazendo um ato pacífico, gritando: “Queremos residência”. Poucas pessoas ainda permanecem no prédio. Muitos dos que conseguiram sair do local se mantêm na calçada em frente ao edifício, com os pertences que conseguiram levar. É o caso do desempregado Reginaldo Pereira, de 31 anos, que resolveu participar da  ocupação com a mulher e o filho de 1 ano, porque não conseguia pagar o aluguel  no Jacarezinho. “Chegaram às 4h e jogaram gás de pimenta nos olhos de todo mundo sem termos oferecido nenhuma resistência”.

Lúcia Helena Santana, 61 anos, também recorreu à ocupação para fugir do aluguel. “Eu não tinha onde morar, porque não tinha mais dinheiro para pagar aluguel”. Humalira Ribeiro, de 25 anos, veio de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, onde morava em uma casa com quatro irmãs. “Todas elas têm filhos, imagina como era difícil viver lá”.

O tráfego está  congestionado em vários pontos da zona norte. A RioÔnibus, que representa o sindicato patronal, confirma que um ônibus da Linha 629 (Saenz Peña/Irajá) foi totalmente destruído. Outro foi incendiado há pouco na Rua Vigilante Serafim, no Engenho Novo, a poucos metros.

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Simões, contou a Agência Brasil que a Polícia Militar começou a cercar a área por volta das 4h30 de hoje e iniciou a desocupação antes das 6h, o que, segundo ele, é proibido. Disse, ainda, que não houve nenhuma negociação e que nenhuma liderança dos moradores ou mesmo dos movimentos que apoiam a ocupação foram ouvidos.

“O que está acontecendo aqui em tempos de Copa e de mega-eventos é gravíssimo. O tratamento que está sendo dado ao povo do Rio de Janeiro é algo difícil de aceitar. Estamos vendo um verdadeiro massacre. Não há eufemismo nenhum nisto, a policia militar já entrou quebrando tudo. Há relato de feridos e eu mesmo já vi três pessoas feridas, inclusive uma criança ferida por uma bomba de gás lacrimogêneo”, disse.

“Tudo o que temíamos está acontecendo e de uma forma ainda pior”, avaliou o presidente da 55ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (Méier), Humberto Cairo, que vinha tentando mediar um consenso entre os invasores do antigo prédio da Telerj, no Engenho Novo, e a Telemar, que é dona do terreno. 

Representante dos moradores da ocupação, Maria José Silva, também criticou a ação: “Estamos sendo tratados como bichos. A solução que eles deram é um massacre. Fomos até eles e pedimos para acompanhar a reintegração, mas eles não aceitaram e o que estamos vendo é esta violência, com ônibus queimado, policial ferido e criança ferida”.

“Muitas pessoas saíram desesperadas e deixaram as coisas lá dentro. Teve gente que saiu para trabalhar e agora não está conseguindo voltar nem para pegar os documentos”, completou a moradora.

Com informações da Agência Brasil.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. FHC continua solto

    Esse imóveis espalhados por todo o Brasil valem muito mais que o preço pelo FHC privatizou o Sistema Telebrás, são enormes edifícios de altíssimo valor, que jamais retornarão à União, uma pena, noutro pais FHC estaria atrás das grades mas no Brasil arrota soberba poi ai, não foi nem mesmo denunciado pelo MPF, a Vale, no valor de uns 300 bilhões, foi vendida por míseros 3 bi de reais, com jazidas de ouro, navios, trens, imobliário. a União arcou com débitos fiscais e trabalhistas, os tais 3 bi foram emprestados pelo BNDES a serem pagos com moedas podres,,..eh essa gente que hoje reclama de Pasadena apesar do lucro de mais de 3 bi,,,apesar  de a Petrobrás, que na Era FHc dava lucro de menos de 2 bi, hoje lucra mais de 20 bi,,,uma empresa que na Era FHc valia 15 bi e hoje vale mais de 80 bi…que nojo dessa máfia,,que tristeza me dá quando vejo nas ruas belos moços e moças transformados em homens-placa da Veja, sic, Oi, Vivo, Claro, Tim,…toda a grana que poderia estar sendo investida no Brasil vai para as matrizes no exterior e porrete na senzala que se atreveu ocupar um dos prédios que na verdade pertencem aos brasileiros, nos roubaram com a ajuda dos tucanos

    1. Quanta besteira!
      Se quisesse

      Quanta besteira!

      Se quisesse o PT reestatizaria a telefonia toda por menos do que foi vendido…

      Melhor se informar antes! Até para fazer propaganda política é necessário um pouco de estudo!

       

      1. Nada a ver

        Não é tão fácil assim como vc pensa, imagine vc que até mesmo para mudar uma cláusula dos contratos firmados por FHC é praticamente impossível pq envolve questões como comércio exterior, estabilidade jurídica, que comprometem o país e envolvem organismos como OMC

  2. Olha o tamanho do canhão na

    Olha o tamanho do canhão na mão do policial ao centro, se esse cara se resolver atirar em alguém, uma abraço. Até aonde sei é proíbido o uso de arma fria em serviço.

  3. Olha o tamanho do canhão na

    Olha o tamanho do canhão na mão do policial ao centro, se esse cara se resolver atirar em alguém, uma abraço. Até aonde sei é proíbido o uso de arma fria em serviço.

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