Erika Marena: de estilingue a vidraça, por Marcelo Auler

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Marcelo Auler

Erika Marena: de estilingue a vidraça

De seu blog

Protagonista de inúmeras investigações alardeadas pela mídia, muitas delas com repercussão acima da necessária por provocação dos próprios responsáveis pelas apurações, a delegada federal Erika Mialik Marena, atualmente responsável pelo combate à corrupção e desvios de recursos públicos na Superintendência Regional da Polícia Federal de Santa Catarina (SR/DPF/SC), de estilingue, deverá virar vidraça. Alvo de uma investigação.

Há três semanas tramita no ministério da Justiça, endereçado ao ministro Torquato Lorena Jardim, requerimento assinado pelo matemático e servidor público  federal aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Acioli Antônio de Olivo, irmão do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo.

Cancellier foi alvo da Operação Ouvidos Moucos, presidida por Erika, que obteve da Justiça Federal um mandado de prisão contra o então reitor, executado em 14 de setembro. A pedido da delegada, ele ainda foi proibido de ingressar na universidade que considerava extensão de sua casa. Ao se sentir “banido” (termo adotado pelo próprio no bilhete encontrado em seu bolso), entrou em depressão e se matou.

No requerimento, seu irmão, em nome de toda a família – o também irmão, Júlio, e o filho, Mikhail Vieira Cancellier de Olivo -, solicita a abertura de “procedimento de responsabilidade administrativa, civil e penal”, contra a delegada.

Noticiado com exclusividade pelo Blog Jornalistas Livres, na segunda-feira (20/11), no requerimento Acioli pede que seja apurada “a responsabilidade da Delegada Érika Mialik Marena pelos abusos e excessos cometidos na denominada ‘Operação Ouvidos Moucos’”. No documento, expõe:

“Todo o espetáculo hollywoodiano conduzido pela representada em detrimento dos mais comezinhos princípios e garantias individuais constitucionalmente previstos foram fatores determinantes para o desfecho trágico da operação, que culminou na morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo”.

A primeira queixa na representação é relacionada ao vazamento da Operação, que foi desencadeada após uma investigação que estava sob sigilo. Ou seja, repetiu-se a prática de vazamentos comumente vista nas últimas grandes operações da Polícia Federal. No documento, o irmão do ex-reitor denuncia:

Aniversário de Luiz Carlos Cancellier (de camisa branca) tendo ao lado Acioli (ao centro) e Júlio. Foto: Arquivo Pessoal/Reproduzida no site Jornalistas Livres

Deflagrada a Operação com larga e instantânea cobertura da imprensa local e nacional, que, apesar do sigilo, contou com o fornecimento de informações processuais privilegiadas, a exemplo da exato momento de cumprimento dos mandados de prisão, Luiz Carlos Cancellier de Olivo não resistiu a pressão de ser humilhado publicamente pela injusta acusação por um fato anômalo, jamais praticado (tentativa de obstrução administrativa), tendo este fato sido determinante para a prática do ato extremo que culminou em seu falecimento precoce e que tem acarretado danos irremediáveis aos familiares ora signatários”.

Para Acioli, a ação comandada pela delegada provocou mais do que o suicídio do seu irmão, em 2 de outubro passado:

Agora, além da imensurável tristeza para os familiares e amigos por esta insuperável perda, fica a reputação manchada por inverdades indevidamente divulgadas pela representada aos meios de comunicação, que se estendem a todos da família de Luiz Cancellier“.

A delegada, na representação, é acusada de veicular “informação equivocada” sobre a participação do ex-reitor no caso. Segundo Acioli, ela se baseou em “única acusação genérica contra ele (o reitor), movidp (sic) por um subordinado e oposicionista político“:

No Facebook da Polícia Federal, nesta terça-feira (21/11) permanecia a “informação equivocada” denunciada por Acioli. (Reprodução)

A título de exemplo, na página oficial do Facebook da Polícia Federal foi divulgada no dia da deflagração da operação (14/09/2017) a informação equivocada de que teria sido desviado da Universidade Federal de Santa Catarina o valor de R$ 80 milhões de reais, permanecendo publicada até a presente data, com a hashtag “#issoaquiépf”, demonstrando nítido propósito promocional da notícia.

(…) “Além disso, também no dia da deflagração da operação (14/09/2017), a delegada representada, antes mesmo de concluir a oitiva de Luiz, que durou mais de 5 (cinco) torturantes horas, convocou coletiva de imprensa e deu entrevista ao vivo, divulgada pelo canal do Youtube da Polícia Federal para “denunciar” o suposto desvio de mais de 80 milhões de reais na UFSC, informação equivocada, pois o montante se refere ao total de repasses feito pela CAPES a todos os cursos de EAD, e não ao suposto desvio, que, segundo apurado até agora, não ultrapassa, ao que se sabe, 400 (quatrocentos) mil reais“.

(…) “A ausência do necessário sigilo, com a divulgação excessiva de informações equivocadas pela PF, estigmatizou todos os investigados, especialmente Luiz Carlos Cancellier de Olivo, a quem foi atribuída pela autoridade presidente do inquérito e, posteriormente, pela mídia, a participação em desvio milionário, quando, na verdade, a única acusação genérica contra ele, movido por um subordinado e oposicionista político, era de ter tentado “obstruir” investigação no âmbito administrativo da UFSC, o que nem de longe configura crime.” (grifos do original).

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. finalmente alguém vai ter que se virar…

    ir até o inferno

    para encontrar a tal da extrema e compravada necessidade, exigida em lei, para o que fez…………………………….

    pode até alegar que a lei precisa ser alterada, mas quem altera lei são outros, não eles.

    E pouco importa a necessidade de alterar a lei ante outra necessidade muito mais importante e de aplicação imediata, para o bem da sociedade, que é a mudança de postura de quem trabalha desse jeito, fazendo questão de escapar de todo exame racional

  2. Demissão a bem do serviço público

    Se estivéssemos sob um Estado Democrático de Direito, ao final do procedimento esta senhora seria demitida a bem do serviço público. É muita perversidade numa só pessoa!

  3. Não vai dar em nada, como não

    Não vai dar em nada, como não deu em nada o escaninho do De Grandis, os excessos do Moro, o partidarismo do Gilmar Mendes etc.. Mas tomará que dê. Essa delegada desumana e exibicionista merece, ao menos, ser tirada do seu conforto autoritário.

  4. Cmbada de funcionarios

    Cmbada de funcionarios públicos irresponsáveis, estrelinhas de merda. Nós ainda pagamos eses fdp para matarem inocentes. Junto com mídia bandida, globo, band, jp, veja, tudo de mal e ruim.

  5. Nao eh essa a delegada de

    Nao eh essa a delegada de merda que liberou enfiar o dedo no cu de professor universitario pra que ela possa aparecer no jornal literalmente “travestida” de honesta?

  6. O corporativismo vai atuar.

    Estou cansado de ver impunidade entre marginais do serviço público e não espero ver condenação penal, ou outra qualquer, contra os autores do assassinato do reitor Cancellier. Afinal são agentes públicos com poder de destruir demais cidadãos a quem lhes caberia defender, mesmo que só para defender suas mais estúpidas convicções. Estão levando a nação brasileira ao caos e a perda de todo nosso processo civilizatório. Vivemos o tempo mais nefasto de nossa história, com agentes de nossa justiça acumpliciados neste criminoso empoderamento da quadrilha golpista mandante.Aqui, agora só a justiça divina, e se ela vier. Minha total solidariedade aos familiares e amigos do Magnífico Reitor Cancellier.

  7. Justiça brasileira virou uma quadrilha

    Infelizmente, não vai dar em nada

    A Justiça Brasileira virou uma quadrilha.

    Aliás, não sei para que pagamos toda esta inteligência, se basta o alcagueta e este não precisa dizer a verdade, basta que atenda as expectativas do inquisidor

    Luiz Rodrigues

    1. Bordel!!!

      Permita-me um adendo: o sistema judiciário brasileiro virou um autêntico bordel!

      Bordel de quinta categoria, nem de longe se compara ao de Jacutinga! 

      O serviço é ao gosto do freguês, basta PAGAR. E cada membro do bordel faz o seu preço, tem as suas preferências, trata cada cliente de acordo com as suas convicções pessoais.

      Temer pagou e está feliz da vida! Os obsequiosos membros do lupanar estão reinventando todo o Kama Sutra para mantê-lo satisfeito no poder.

       

  8. A mídia

    “Todo o espetáculo hollywoodiano conduzido pela representada em detrimento dos mais comezinhos princípios e garantias individuais constitucionalmente previstos foram fatores determinantes para o desfecho trágico da operação, que culminou na morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo”.

    O espetáculo existe quando a mídia o converte em tal

    Esta delegada não é a única empolgada e turbinada com a campanha da mídia.

    Acho que ela deve ser indiciada sim e culpada pelo abuso, mas, ela assim como outros meritocráticos está propensa a estes espetáculos graças à mídia que tem levado ao palco este tipo de trabalho eficiente e discreto que devia ser o trabalho policial e da justiça.

  9. Até que emfim alguém traduziu

    Até que emfim alguém traduziu à perfeição o que é uma operação de prisão da tal operação lavajato. Até que enfim alguém disse o que eu e os leitores deste blog pensa sobre esta sacanagem macabra desta operação lavajato. Que os céus proteja esta irmão do reitor e que alguém faça justiça a tantas injustiças. E que seja a primeira de muitas e muitas ações contra este estado de exceçaõ.

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