Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Genocídio armênio – O assassinato de Talaat Pasha em Berlim, por André Araújo

Por André Motta Araújo

O primeiro registro em escala mundial do genocidio armenio foi o processo no Tribunal Criminal de Berlim em 1921 pelo assassinato do politico turco Taalat Bey, um dos tres dirigentes do Imperio Otomano durante a Grande Guerra, do chamado Comité dos Jovens Turcos, um triumvirado que tinha Taalat, Enver Pasha e Djemal Pasha.

Taalat Pasha foi assassinado por um armenio exilado de nome Soghomon Telemian , que preso e julgado por homicidio relatou na corte alemã da Republica de Weimar toda a saga do genocio dos armenios, ainda puco conhecido,  onde morreu toda sua familia e por esta razão matou o que ele julgava ser o mandante da ordem para essa exterminação de seu povo.

O julgamento foi sensacional, coberto dia a dia pela imprensa alemã, com todos os detalhes das descrições do genocidio.

O Imperio Otomano tinha sido aliado do Imperio Alemão na Grande Guerra e o tema tinha especial interesse em Berlim.

O relato do genocidio por essa vitima e testemunha ocular foi o primeiro grande registro historico do genocidio.

O testemunho foi tão impressionante que o Tribunal alemão ABSOLVEU o assassino, julgando que suas razões eram atenuantes e justificadoras do assassinato. Tecnicamente o Tribunal o liberou por julga-lo louco mas na realidade foi o pano de fundo do genocidio que propiciou a não condenação do armenio.

Há varios livros, inclusive em português, sobre o julgamento do Tribunal de Berlim, que é considerado o primeiro grande documento sobre esse evento que hoje completa cem anos.

O massacre se deu por marchas forçadas pelo deserto, sem comida e sem agua, pela venda das mulheres de 8 a 60 anos para mercadores arabes para serem abusadas como objetos, pelo fuzilamento daqueles homens que pudessem marchar por exaustão, pelo confisco de todas as casas, animais e propriedades dos armenios.

O depoimento de Soghomon Telemian teve 220 paginas e as descrições são absolutamente detalhadas e impressionates.

O julgamento tambem teve impacto destruttivo sobre o papel do Imperio Alemão que se não colaborou no massacre fingiu não ver porque o Imperio Otomano era um alaiado-chave dos alemães.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

6 Comentários

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  1. Há algumas omissões no texto.

    Um dos motivos que levam os Turcos não aceitarem a pecha de genocídio contra os Armênios está na postura dos governos que sucederam o governo dos Jovens Turcos.  Já em 1919 o triunvirato que formava os Jovens Turcos foram julgados na Turquia e condenado a morte pelos crimes cometidos. Ou seja, a própria Turquia condenou os lideres do massacre a morte, dentre ele está Taalat Bey.

    A história do massacre dos Armênios é bam mais complexa do que está se resumindo, havia uma guerra em andamento e as mais espúrias e bizaras alianças nela foram feitas.

    1. E claro que a historia do

      E claro que a historia do genocidio armenio é muito mais complexa do que pode ser relatado em um simples post de algumas linhas. Aqui não estou relatando essa historia e sim um assassinato em Berlim causado por esse genocio.

      Tampouco o exilio dos tres comandantes do Comité de União e Progresso conhecido como Jovens Turcos se deve ao genocidio armenio e sim à luta politica entre o CUP e a nova liderança de Mustafa Kemal “Ataturk”.

      Os tres morreram assassinados, dois por armenios, Taalat Pasha e Djamal Pasha e o terceiro Enver Psha pelo Exercito Vermelho.

      A justifiativa da Primeira Guerra para o genocidio não cabe, se for por justificativa os nazistas tambem tinham para o Holocausto, “os judeus trairam a Alemanha na Primeira Guerra”. Não houve nenhuma justificativa racional para o genocidio armenio e sim mero delirio conspiratorio que presumia uma pretensa traição dos armenios ao Imperio Otomano.

      1. A grande semelhança do massacre Armênio com a Shoah

        A grande semelhança do massacre Armênio com a Shoah esta no status que as duas populações possuíam onde elas viviam. Tanto os Judeus europeus como os Armênios eram povos com um grau de instrução bem melhor do que outras minorias, podemos comparar a relação entre os judeus e ciganos e os armênios e curdos, em ambos os casos o massacre foi o mesmo e mais ou menos na mesma época. Porém como tanto os ciganos como os curdos não tem uma organização social tão elaborada e são tratados como povos “mais primitivos” não se dá tanta ênfase ao assunto.

        Só para dar um exemplo, os médicos que tratavam os Califas e o Sultão geralmente eram armênios, pois como por princípio religiosos os médicos muçulmanos não podiam tocar no corpo do paciente, logicamente os armênios eram melhores médicos, logo o status dos armênios era relativamente elevado.

        O que se vê na história que povos menos importantes nas sociedades sofrem o mesmo tipo de massacres e ninguém tenta qualificá-lo como genocídio. Se nos determos no conceito de genocídio, talvez na América (norte, central e sul) é que tivemos o maior número de genocídios, na África os europeus cometeram vários genocídios e a história europeia tem outros conflitos que poderiam ser classificados como genocídios.

        É importante lembrar a todos que massacres sobre povos inteiros visando a sua extinção a história está cheia, logo ou o tratamos todos como genocídios ou simplesmente aceitamos a brutalidade e a ignorância da raça humana.

  2. Indignação mundial, como sempre é seletiva….

    Como os judeus são os  “dono$ da bola”  atualmente, toda indignação ao horrendo evento do holocausto sempre toma  ares  de hecatombe mundial.  Realmente  o foi !!

    Já  para os demais ” passageiros ” deste mundo, assim como os  pobres armênios em questão, qualquer tragédia  fica restrita  aos rodapés  da história….

    Digo isto relembrando o extermínio dos curdos, palestinos, índios latinos, croatas, kosovares, tutsies, etc…etc…

    Lamentável este comportamento do ser humano !!!

  3. Genocídio na África

    E quando será lembrado o genocídio na África, provocado pelo Rei Leopoldo II da Bélgica, entre 1890 e 1910? Parece que perto dele Hitler não passsou de um principiante. Mas como foi na África e com negros isso não tem muita relevância, né?!

    ‘O rei Leopoldo II da Bélgica e o holocausto negro no Congo’

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    Reproduzimos a seguir o artigo O rei Leopoldo II da Bélgica e o holocausto negro no Congo, de Israel Junior Silva, que retrata as atrocidades do colonialismo europeu na África.

     

    Quando se fala em atrocidade, um nome, inevitavelmente, vem à cabeça: Hitler! Mas, agora, outro nome se juntará à galeria dos monstros da história da humanidade: o do rei Leopoldo II, da Bélgica. E isso graças ao escritor polonês, naturalizado britânico, Adam Hochschild, que no livro “O Fantasma do Rei Leopoldo”, relata uma das maiores chacinas já cometidas em nome do poder, a mando do rei belga, quando colonizou o Congo (atual Zaire), no continente africano. As piores atrocidades aconteceram entre 1890 e 1910, tudo isso sem que o rei colocasse os pés na África e com o aval dos líderes mundiais, que fizeram “vista grossa”, enquanto milhares de congoleses sucumbiam ante a tirania do “filantrópico e humanitário” rei, que aos olhos do mundo “apenas libertava aquele povo medieval de uma ignorância crônica, levando até eles as benesses da civilização”.

    Congo Belga, como ficou conhecido na época, foi uma das grandes fontes de riqueza para a minúscula Bélgica, que se enriqueceu com a venda de marfins, que eram extraídos em detrimento da morte de centenas de milhares de elefantes africanos, hoje ameaçados de extinção. Outra fonte de riqueza foi a extração da borracha, responsável pelo desaparecimento de muitas espécies de árvores nativas daquela região.

    Mas foi em outro aspecto que a tirania do rei Leopoldo mais se acentuou: na instituição do trabalho escravo. A ordem era lucrar muito com pouco investimento, e isso, logicamente, significava não se preocupar com a folha de pagamento. Muitos oficiais belgas foram enviados ao Congo, após previamente estudarem um “Manual”, onde se ensinavam as “técnicas” de como subjugar o povo. No dizer do próprio autor, “poucas vezes a história nos oferece uma chance como essa de ver instruções detalhadas de como executar um regime de terror”.

    No livro, pode-se observar uma fotografia onde um oficial belga exibe, orgulhoso, o seu “jardim de crânios”, que consistia em uma cerca ao redor de sua casa, toda construída com cabeças africanas decepadas, numa clara intenção de intimidar os que, porventura, ousassem desobedecer as ordens de “Sua Majestade”. Num assombroso relato de uma africana, pode-se imaginar o inferno em que viviam os congoleses: “Quando estávamos todos reunidos – e havia muita gente de outras aldeias […] – os soldados trouxeram cestos de comida para nós carregarmos, dentro dos quais havia carne humana defumada […] ”.

    A extração do marfim era relativamente simples, pois os oficiais armavam-se com rifles, matavam centenas de elefantes e os africanos, amarrados por grossas correntes nas pernas, formavam longas filas e carregavam cargas pesadíssimas até a margem do rio Congo, onde navios esperavam para dali partirem rumo à Europa. Não é preciso dizer que nesse trajeto – dos locais das matanças até o rio – os negros eram constantemente açoitados e muitos morriam por não suportar o peso da carga. A comida era uma ração, distribuída uma única vez ao dia e muito inferior àquela que era destinada aos cavalos do rei.

    Para extrair a borracha, houve um impasse. Como os negros precisavam subir nas árvores, era impossível mantê-los acorrentados uns aos outros, o que dificultava o recrutamento de “voluntários”. Mas, como não existia obstáculo que pudesse deter o regime de terror, os belgas invadiam as aldeias, raptavam mulheres e crianças e exigiam como pagamento por sua liberdade uma quantia de látex que necessitava de 24 dias para ser extraído. Dessa forma, vários africanos eram obrigados a se embrenhar na mata para conseguirem a matéria-prima da borracha e muitos eram devorados por leões e leopardos. Os que retornavam, muitas vezes encontravam esposas e filhos mortos, ou violentados pelos soldados do rei. As mulheres mais bonitas eram entregues aos oficiais, como forma de amenizar o celibato forçado em que viviam.

    Muitos aventureiros de toda a Europa foram para o Congo, nessa época, atraídos pelo dinheiro fácil conseguido através da venda de escravos. Outros invadiam as aldeias que resistiam ao trabalho de extração da borracha e, para cada bala disparada, tinham que apresentar a um oficial belga a mão direita do africano morto, para só assim receberem o pagamento. Como alguns utilizavam a munição para caçar, decepavam mãos de pessoas vivas, no intuito de justificar a bala desperdiçada. A prova disso são várias fotos espalhadas pelo livro, onde se vê homens, mulheres e até crianças mutiladas.

    A cena presenciada pelo missionário presbiteriano William Sheppard, descrita pelo autor, é chocante e dispensa maiores comentários: “No dia em que chegou ao acampamento dos saqueadores, chamou-lhe a atenção um grande número de objetos sendo defumados. O chefe ‘nos levou até uma estrutura de paus, sob a qual queimava um fogo lento, e lá estavam elas, as mãos direitas, contei-as todas, 81’. O chefe disse a Sheppard: ‘Veja! Aqui está nossa prova. Eu sempre tenho que cortar a mão direita das pessoas que matamos, para poder mostrar ao Estado quantas foram’. Com muito orgulho, mostrou a Sheppard alguns dos corpos de onde as mãos tinham saído. A fumaça era para preservar as mãos no calor e umidade, já que podia levar dias, ou semanas, até o chefe poder exibi-las ao oficial encarregado e receber os créditos por suas matanças”.

     

    O castigo belga – mãos cortadas

     

    Para se ter uma ideia de tanta desumanidade, basta observar o que disse um oficial, conhecido por Fiévez, tentando justificar a chacina de cem pessoas, quando estas não conseguiram fornecer aos seus soldados o peixe e a mandioca exigidos: “Eu fazia guerra contra eles. Um exemplo bastava: cem cabeças cortadas fora e a estação voltava a ser abastecida com fartura. Meu objetivo final é humanitário. Eu mato cem pessoas […] mas isso permite que outras quinhentas vivam”. Como afirmou Edmund Morel, uma das maiores vozes que ecoaram contra o trabalho escravo dos africanos, “o Congo é uma sociedade secreta de assassinos, tendo um rei como cabeça”.

    São muitas as atrocidades, impossíveis de serem descritas em apenas um artigo. Mas, para quem pensava que no ranking dos monstros da humanidade, Hitler fosse imbatível, uma novidade: o pódio é também ocupado pelo rei Leopoldo II, da Bélgica, que traz em seu currículo 8 milhões de africanos dizimados, contra 6 milhões de judeus mortos, inseridos no histórico do austríaco.

    A diferença entre os dois é que Hitler gostava de fazer propaganda de suas bestialidades e suas vítimas foram um povo branco, enquanto o belga, que optou pelos negros, como todo psicopata que se preze, matava com discrição, com um inevitável sorriso nos lábios, além de passar uma imagem de bonzinho para o resto do mundo. No mais, foram monstros paridos pela escória, embora nascidos em épocas e circunstâncias diferentes.

    O poeta norte-americano Vachel Lindsay traduziu bem a impressão deixada por Leopoldo, após sua morte: “Ouçam como grita o fantasma de Leopoldo/A queimar no inferno por suas hostes sem mãos./Escutem como riem e berram os demônios/Lá no inferno, a lhe cortar fora as mãos”.

    http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content&view=article&id=394:o-rei-leopoldo-ii-da-belgica-e-o-holocausto-negro-no-congo&catid=2:artigos

  4. Mais de 200 anos de

    Mais de 200 anos de Iluminismo e essa sombra do animal que nos habita está cada vez mais presente. Desconfio que ela nunca se afastou, tampouco se distanciará jamais. Deixei de acreditar nas luzes após ler John Gray em Cachorros de Palha. Este livro foi um marco na minha trajetória intelectual, uma mundança radical de curso. Gray é o Nietzsche contemporâneo; ele derruba aquela crença ingênua na ciência como suprema redenção humana. Nos traz de volta a um mundo em que o homem é posto no mesmo nível que os genocidas o colocaram: o animal não é exceção, mas regra que, dependendo da necessidade – e ela sempre aparece – nos mostra que o abismo está logo ali em frente. Escravidão, bombas atômicas, apartheid, capitalismo, ditaduras… Alguém aí realmente acredita que somos anjos? 

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