Grécia-2015 dC, uma nova Corcira-427 aC

Os gregos inventaram a democracia e foram vítimas do Oriente, pois a Grécia foi invadida pelo império Persa. Nem toda a História é contada por este axioma ideológico da extrema direita que prega o conflito de civilizações.

“Gregos” é um vocábulo que significava bem pouco para os habitantes de cidades-estados que só conheciam um patriotismo: aquele devotado à sua cidade. A democracia não foi e não poderia ter sido uma invenção dos gregos. O regime político incensado pelos ideólogos do Ocidente foi uma invenção dos atenienses, mas não de todos os atenienses. Aristocratas como Platão desdenhavam ou detestavam a democracia, regime que foi abandonado tão logo Atenas perdeu a guerra do Peloponeso.

O conflito entre Oriente e Ocidente não é uma realidade histórica. Quando Xérxes invadiu a península grega em 489 a.C Demarato, um rei espartano exilado, o acompanhava como consultor. Submetido ao ostracismo, o herói de Salamina foi se exilar na Pérsia. O impasse da Guerra do Peloponeso, que opunha uma potência territorial (Esparta) a uma potência naval (Atenas), foi solucionado quando os persas financiaram a construção da frota espartana. As pontes existentes entre a Pérsia e alguns líderes e cidades estados gregas foram mais duradouras do que a ponte de barcos construída durante a II Guerra Médica.

Não bastasse isto, o que chamamos de democracia é algo bem diferente da democracia ateniense. Sobre este assunto vide https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/democracia-ou-liberalismo-oligarquico. O Ocidente e o Oriente estão e sempre estarão mais ou menos juntos, mais ou menos separados. A crise grega revela esta realidade.

A esquerda foi eleita pelos gregos modernos. Mas o Ocidente se recusa a negociar a dívida da Grécia em bases justas. A justiça econômica e financeira do Ocidente é inexistente. O Irã foi hostilizado pela UE por fornecer petróleo subsidiado à Grécia http://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/2012_04_10/ira-petroleo-grecia/. A democracia e o bem estar da população da Grécia não significam nada para os ideólogos financeiros ocidentais.

Give me your money and die!– dizem à Grécia em uníssono o FMI, os banqueiros e os governos europeus. Isto levou dois economistas renomados a reconhecer o absurdo da proposição http://www.publico.pt/mundo/noticia/krugman-e-stiglitz-defendem-que-gregos-votem-nao-no-referendo-1700523. Governos também têm obrigações humanitárias gostem ou não os banqueiros. A política não pode se resumir à submissão aos interesses daqueles que governam o vil metal digitalizado.

O Banco criado pelo BRICS se propõe a fazer o que o Ocidente julga impensável http://br.rbth.com/economia/2015/06/02/banco_do_brics_promete_credito_a_grecia_30529.html. O Oriente, do qual faz parte um Brasil ocidental-oriental, retoma sua influência no berço da civilização. A história de um conflito de civilizações que nunca existiu está chegando ao fim? Creio que não. Ideologia também é irracionalidade. O mais provável é que a salvação da Grécia pelo BRICS leve os credores europeus, ingleses e norte-americanos daquele país à loucura.

Os banqueiros e os governantes títeres que eles controlam dos dois lados do Canal da Mancha acusarão o Oriente de ter recomeçado a guerra justamente onde ela deveria findar (mesmo que isto significasse o fim da Grécia e de boa parte do povo grego). Russos e chineses serão provavelmente mais hostilizados que os brasileiros e sul-africanos. Não porque o Brasil não seja uma potência mundial (como disse Obama) e sim porque o alcance mundial do Brasil se limite à América do Sul e a África. Além disto, todo mundo sabe que os músculos financeiros e militares do BRICS estão na China e na Rússia, desafiados pelas Frotas dos EUA no Mar da China e pelas tropas do Tio Sam na Ucrânia.

A Grécia é, neste momento, apenas um peão no tabuleiro mundial. Ela desempenhará nos próximos dias entre EUA-UE x Russia-China o mesmo papel que a Corcira desempenhou ao incendiar o conflito entre Atenas e Esparta  no século V aC? Esta meus caros é a verdadeira pergunta.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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