Gregório Duvivier apresenta Manoela Miklos

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Folha

Coluna de Gregorio Duvivier

Doces e furiosas

Com vocês, Manoela Miklos

Está acontecendo uma revolução. As mulheres tomaram as ruas. Cabe a mim ceder espaço -onde tenho. A coluna de hoje foi escrita por uma mulher. Com vocês, Manoela Miklos.

“A voz do coletivo sempre é masculina. Nas marchas. No estádio. Nos shows. Quando junta todo mundo, o que se ouve é o grave dos todos homens bem mais alto, ocultando o agudo das todas e a diversidade dos todxs. Sintomático.

Aí, na semana passada, ouviu-se um brado raro de se ouvir. Agudo. Doce, mas furioso. Era a voz de milhares de mulheres juntas. Na semana passada, a voz do coletivo foi feminina. Um brado raro. O meu. O nosso. E foi o som mais bonito que eu já escutei.

Feministas incansáveis que lutam desde sempre receberam com generosidade novas companheiras como eu. E muitos homens sensíveis e sensibilizados souberam ser coadjuvantes, emocionaram-se ao engrossar o coro sem engrossar o coro. Sem roubar nosso protagonismo. Porque o coro precisa seguir assim como está: agudo. Doce, mas furioso. Feminino e feminista.

Fomos pra rua contra o projeto de lei 5069/2013, de autoria de Eduardo Cunha. Aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, o projeto dificulta o atendimento pelo SUS de vítimas de estupro e o acesso ao aborto legal e seguro. Perderemos direitos duramente conquistados e perderemos a vida. Morreremos mais, porque o aborto clandestino mata. Porque a desigualdade de gênero mata. E como a espiral dos privilégios é implacável, a mulher negra e pobre vai morrer primeiro. Mas vai ser a última a ser lembrada pelos centros de poder. Não vai aparecer nos jornais, não vai ser compartilhada nas redes.

Fomos pra rua pra dizer o que temos dito on-line: ser mulher é perigoso. É inseguro, arriscado. Ser mulher é sentir medo. E sentir culpa. Porque quando o tema é a interrupção da gestação, a escolha não é nossa. Mas quando a mão indesejada passa pela nossa perna no ônibus, aí nossas escolhas importam: o tamanho da nossa saia, o jeito que a gente senta, a hora que escolhemos voltar pra casa. Somos seres menos livres.

Falamos do nosso primeiro assédio, falemos agora desse último: uma onda conservadora quer nos levar, quer arrancar de nós um pouco mais da nossa pouca liberdade. Não vamos deixar. Uma parte significativa desse
Congresso quer nos matar. Em decorrência de um aborto ilegal. De tiro, ao flexibilizar o estatuto do desarmamento. Quem sobreviver, eles querem matar de desgosto.

Fomos pra rua. E não sairemos dela -doces, mas furiosas. O brado raro que se ouviu vai deixar de ser raro. E os machistas que comprem tampões de ouvido. Ou transformem-se.”

MANOELA MIKLOS, 32, é doutora em relações internacionais e criadora do projeto #AgoraÉQueSãoElas, em que mulheres ocupam o espaço de escritores e jornalistas homens durante uma semana

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Onda conservadora.

    Venho dizendo (sei que não é novidade) que no Brasil vivemos (e a cada dia, fica cada vez mais claro para as grandes massas da população) 2 apartheids:

    O apartheid racial e o apartheid social. Brancos (não todos) de um lado e negros e negras e pardos e pardas de outro.  Ricos (não todos) de um lado e pobres de outro.

    Manoela Miklos me fez entender que existe um outro apartheid que também precisa ser eliminado: o apartheid entre homens (não todos) e mulheres.

    A tentativa do sr. Eduardo Cunha de estuprar mulheres através do Congresso Nacional, o episódio racista envolvendo a atriz Taís Araujo e a proposta do deputado federal Ricardo Barros (PP), relator do orçamento da união, de cortar 10 bilhões de reais do bolsa-família me fizeram crer que estamos chegando em um ponto de virada, um ponto de mutação.

    Negros e negras e pardos e pardas, pobres e mulheres precisam se autoempoderar para que possam sobreviver com dignidade, dirigindo seu próprio destino.

    Essa onda de retrocesso só foi possível porque os fascistas de todas as espécies: racistas, machistas e conservadores foram às ruas no 1º semestre e conseguiram reunir, é fato, milhares de pessoas. Sem esse apoio, os parlamentares do Congresso Nacional não teriam ousado tanto e deflagrado essa onda conservadora.

    Entretanto, essa onda fascista é claramente minoritária. Seus protagonistas estão tentando golpear porque sabem que não tem apoio da maioria da população..

    Mulheres, negros e negras e pardos e pardas e pobres são a imensa maioria da população que está sendo sufocada em seus direitos porque não tem representantes em número suficiente no Congresso Nacional. Portanto, não tem poder para barrar a onda conservadora e, muito menos, fazer avançar a pauta progressista.

    A ÚNICA SAÍDA É IR PARA AS RUAS.

    Gigantescas manifestações pacíficas de negros e negras e pardos e pardas. Gigantescas manifestções de mulheres. Gigantescas manifestações de pobres.

    Já imaginaram essa gente toda ocupando a av. Presidente Vargas, a av. Atlântica, a av. Paulista, o Farol da Barra, as pontes do Recife, a av. Beira-mar, o centro de BH , a praça dos Três Poderes ? e exigindo seus direitos.

    Basta que as lideranças populares entendam que a ruptura com o mundo velho é a única alternativa para fazer surgir um mundo novo.

    As condições estão dadas.

     

     

    1. Enfrentar os fascistas

      JORGE

      Estou com você e com a maioria do povo brasileiro.

      Precisamos dar um basta nessa corja de fascistas que estão tentando destruir o Brasil.

  2. Estamos ai.

    Temos sim que sair às ruas e lutarmos para mantermos direitos conquistados e pelo tanto que ainda precisamos consquistar. So acho que nessa luta, os homens, nossos iguais e companheiros, são nossos parceiros. Venham conosco e lutem por suas companheiras, suas filhas, suas mães, suas avos, tias, professoras, amigas. Vamos lutar para que a violência sob todas as formas contra a mulher, instituida no seio da sociedade brasileira – que tantos homens e mulheres acham normal – seja denunciada, que se coloque luz nessa ferida que doi em tantas meninas que tornam-se mulheres traumatizadas e envergonhadas de serem (constantemente) assediadas agressivamente ou violentadas. 

  3. Apoio as manifestações das

    Apoio as manifestações das mulheres, contra mais esse retrocesso, proposto pelo denunciado (por crime de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas), que atualmente preside a Câmara Federal. Abôrto é questão séria; e de saúde pública. As mulheres têm o direito à inviolabilidade de seus corpos; se vítimas de violência sexual e estupro, devem ter o direito de interromper a gestação. Vou mais longe: as mulheres devem ter, sempre, o direito a interromper uma gestação, se assim o desejarem e decidirem. Nenhum burocrata engravatado, que jamais engravidou ou engravidará, que jamais carregará no ventre um feto fruto de um estupro, que jamais passará pelas agruras e dores de um parto, pode decidir se as mulheres podem, ou não, interromper uma gravidez.

    As mulheres brasileiras precisam levantar a voz e ir para as ruas; mas não apenas contra o PL 5069, do sr. Eduardo Cunha. A presidente Dilma, uma mulher, é, há anos, vítima de ofensas na imprensa e nas redes sociais digitais. Essa mulher que, mal ou bem, preside atualmente o Brasil – após ter conseguido se eleger e reeleger presidenta da república – é vítima de sórdida e brutal campanha de ofensas, injúrias, calúnias e difamações, além de terrorismo e golpismo político. 

    Negros, índios, pobres, homossexuais, transgêneros, os que se identificam com a esquerda política são hostilizados e agredidos por uma pseudo-elite, que se acha acima com direitos acima e sobre os demais. a Casa Grande não se conforma e não aceita a inclusão social, não apenas das mulhers, como é fácil perceber.

  4. Doces e Furiosas – coluna da folha 02/11

    Manoela,

    Concordo e apoio as manifestações sobre o assunto em palta. Sua coluna na Folha de São Paulo de 02/11, me instigou a lhe escrever, uma vez que hoje você está sendo uma mulher que será ouvida e lida.

    Temos sim, que continuar com a luta contra essas malditas leis populistas em um momento onde estamos vendo a degradação da mulher, a violência aumentando, os estupros sendo cada dia mais frequentes. Triste que esses temas precisam ser discutidos, não deveria existir, mas existe e só cresce. Temos que discutir sempre que pudermos.

    Peço também sua atenção para um tema que ninguém mais fala e, Por favor defenda, o planejamento familiar, a orientação para que as meninas se respeitem e não balizem o sexo como está acontecendo hoje. Meninas de 12 anos (só podem ter sido violentadas, não acredito que seja por prazer ou consentimento) engravidam aos borbotões, meninas com 15 anos já no segundo filho, até mesmo terceiro.

    Isso tem que ser falado, lutado contra, é um crime e a cada dia aumentando significativamente. As mulheres tem que aprender a exigir que o homem use a camisinha, que ela não tem que estar a mercê de passar por um aborto clandestino, tomar medicamentos para  “resolver sozinha (até mesmo morrer) um problema” que ambos criaram.

    Uma vez, em 89, um ginecologista de um hospitalzinho de carapicuiba, chorando , me disse que havia feito um parto em uma menina de 15 anos, que nunca tinha passado por isso. E hoje? 12 anos ser normal?

    Estava no Rio de Janeiro esse final de semana, conversando com os parentes (moram em Ramos, na rua da escola de samba Imperatriz Leopoldinense). Ele é taxisita, tem muitas histórias para contar e nos falaram, que nos bailes Funk, as meninas já vão sem calcinha, os homens fazem fila. Parenteses.

    Voltando ao tema Pílula do dia seguinte hoje, está sendo usada como método contraceptivo, as meninas não se previnem, apenas tomam essa pilula como se fosse algo simples. Significa que ela está tomando a cartela de 21 ou 28 comprimidos de uma única vez, comparando a concentração de hormonios de ambas. Sua saúde no futuro está comprometida.

    Vamos conscientizar essas meninas que sexo na hora certa, exigir a camisinha, esses são temas que tem que ser falado. Vamos salvar nossas meninas, serão as mulheres do futuro.

    Obrigada,

    Genira

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