Guantánamo e Julian Assange

Do Estadão

Guantánamo é ”monstruosidade”, afirma Assange

Fundador do WikiLeaks diz que divulgação de documentos serve para trazer justiça para presos e ex-presos da base 

26 de abril de 2011 | 0h 00

Natalia Viana – O Estado de S.Paulo

ESPECIAL PARA O ESTADO

“Os arquivos de Guantánamo, que o WikiLeaks começou a publicar, revelam essa monstruosidade da era (George W.) Bush que o governo (Barack) Obama decidiu continuar”, afirmou Julian Assange para a agência Pública ontem. A declaração resume a importância do vazamento mais recente da organização, que começou a ser publicado na madrugada de domingo para segunda-feira.

São milhares de fichas de prisioneiros ou ex-prisioneiros de Guantánamo, em Cuba, e outros documentos relacionados, emitidos pela Força-Tarefa de Guantánamo (JFT-GTM) e enviados na forma de memorandos ao Comando Sul dos Estados Unidos, que coordena operações militares americanas nas Américas Central e do Sul.

AsfiAs fichas relatam o estado de saúde dos atuais presos, refazem a teia investigativa que os levou à prisão e revelam que boa parte dos acusados foi incriminada com base em depoimentos de outros presos, obtidos sob tortura em Guantánamo e nas prisões secretas da CIA.

Uma revisão cuidadosa dos documentos revela que o mercado de recompensas promovido pelos Estados Unidos levou à detenção de inocentes por acusações formuladas por informantes interessados apenas em prêmios em dinheiro.

Também revelam como são feitos os “pareceres”, que recomendam ou não a permanência dos presos na base de Guantánamo, não apenas pela força-tarefa mas também pelos responsáveis pela investigação criminal e psicólogos encarregados de avaliar a maneira pela qual devem ser utilizadas as informações obtidas em outros interrogatórios.

“A publicação dessas informações é importante para o público, para os prisioneiros e ex-prisioneiros e para os juízes que se ocupam desses casos. Muitos estão presos há anos sem acusação formal e com base em testemunhos falsos”, disse Assange.

“Está na hora de reacender a discussão pública sobre a prisão de Guantánamo, na esperança de que, finalmente, se possa fazer alguma coisa para fazer justiça”, afirmou o fundador do WikiLeaks, que qualificou a base americana em Guantánamo de “um estabelecimento de lavagem de pessoas”.

A comparação com a lavagem de dinheiro, em que bancos internacionais “escondem” recursos suspeitos, é empregada por Assange pelo fato de Guantánamo esconder da sociedade a verdadeira história dessas prisões para justificar a política criminosa de detenções sem julgamento e os meios ilícitos empregados para deter seus suspeitos.

Assange fez questão de destacar que seus veículos parceiros continuam sendo Washington Post, El Pais, Telegraph, Der Spiegel, Le Monde, Aftonbladet e La Repubblica. A menção foi para justificar o fato de os jornais New York Times e Guardian terem publicado antes reportagens com base nos mesmos documentos, que foram entregues por uma fonte anônima.

Abusos

JULIAN ASSANGE
FUNDADOR DO WIKILEAKS
“A publicação dessas informações é importante para o público, para os prisioneiros e ex-prisioneiros. Muitos estão presos há anos sem acusação formal e com base em testemunhos falsos” 

Luis Nassif

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