Ineficiência e conflito de interesses no programa educacional de Bolsonaro

Ensino à distância para crianças a partir dos 6 anos e voucher para universitários de baixa renda têm lacunas, avaliam especialistas
 
Arquivo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – As principais propostas para a educação apresentadas por Bolsonaro durante sua campanha foram o ensino à distância (EaD), começando para crianças a partir dos 6 anos de idade, e o uso de tickets (ou vouchers) para educação no ensino superior. 
 
O ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, Aléssio Souto, responsável pela coordenação de campanha do presidente eleito na área declarou também que considera a revisão da bibliografia utilizada nas escolas brasileiras, com preocupação especial na ditadura militar do país, entre 1964 e 1985. A respeito do ensino à distância, a Folha de S.Paulo publicou nesta terça-feira (30) uma matéria onde escutou especialistas sobre a viabilidade da proposta, junto com o outro pilar pretendido pelo programa de governo do presidente eleito: o voucher para universitários.
 
A conclusão dos entrevistados é que não há garantia de eficiência para a implantação das duas propostas, eficiência em termos econômicos e em termos educacionais. Especificamente sobre o ensino à distância, o argumento levantado por Bolsonaro é porque iria “baratear o ensino no Brasil” e “combater o marxismo”, o programa também seria considerado “como alternativa para as áreas rurais, onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais”.
 
De fato, o ensino à distância, modalidade que se popularizou no país no ensino superior, custa menos para as instituições de ensino porque reduz os gastos com infraestrutura e despesas com professores. Entretanto, ao analisar a aplicação do EaD financiado pelo governo, o jornal mostra que o modelo remoto não é necessariamente mais barato. 
 
Pelo menos, é o que mostra um estudo do Centro Nacional de Políticas de Educação (NEPC), da Universidade do Colorado. Em 11 de 16 estados daquele país que aplica o modelo remoto de educação, a redução de custo em relação ao modelo presencial foi de apenas entre 5% e 8%.
 
O pesquisador da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Allan Kanji, entrevistado pela Folha, apontou, ainda, a preocupação de tirar crianças do contexto escolar.
 
“A escola não é só informação. O professor acompanha o desenvolvimento das crianças e faz um conjunto de mediações como figura referencial para elas”. O especialista também avalia que a implementação do ensino à distância para crianças não será tão simples, porque exigirá a presença de um adulto em casa para ensinar o menor e isso trará impactos na força de trabalho do país.
 
“Usar ensino a distância para crianças e alunos da zona rural, que mais precisam de acompanhamento, é rasgar dinheiro. Fora o conflito de interesses”, disse outro especialista entrevistado, José Marcelino, professor da USP em Ribeirão Preto.
Em relação ao voucher para universitários de famílias de baixa renda, o jornal mostra que atualmente, o gasto com ensino superior no Brasil, por aluno, gira em torno de R$ 9.700 por ano. Mas calculando a soma de todos os recursos utilizados hoje e repartidos para a população de baixa renda com idade para fazer o ensino superior, cada aluno receberia cerca de R$ 800 para custear a graduação anual. Valor insuficiente para arcar com todos os custos que exigem a formação universitária, incluindo infraestrutura.
 
Usando a mesma proposta de voucher para o ensino básico, o valor de transferência ao estudante seria R$ 530. Os cálculos são do professor do Insper Naercio Menezes. “A ideia básica de gerar mais concorrência no sistema escolar é interessante, mas o que ele poderia escolher com R$ 500?”, pondera. 
 
Mas o que chama mesmo atenção, em torno das propostas educacionais de Bolsonaro, é o possível conflito de interesses. Stavros Xanthopoylos, outro conselheiro do presidente eleito para a área e, provavelmente, o novo ministro da Educação, foi vice-presidente e hoje é diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). 
 
Já o provável ministro da Fazenda, Paulo Guedes, é um entusiasta do ensino a distância. Sua consultoria, a Bozano Investimentos, aplica em oito empresas de educação, entre elas a Wide, que oferece soluções de EaD, e a QMágico, uma plataforma online para conectar estudantes e professores. 
Redação

4 Comentários

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  1. Imbecil, imbecil, imbecil!

    Só porque fez a campnha “a distância” não siginifica que pode-se fazer o ensino a distância, principalmente para as crianças. Esse ser repulsivo não pensa e não respeita nada nem ninguém. Os pais trabalham e não têm com quem deixar os meninos, mais ainda, acompanhar o ensino em tempo real. Segundo, muitos dependem da merenda, sim, dependem da merenda que é ofererecida. Terceiro, a criança necessita do acompanhamento de um profissional preparado para ensinar, o “tal professor”, que em qualquer parte do mundo civilizado é reconhecido e valorizado.

  2. Ele é imbecil, mas não

    Ele é imbecil, mas não podemos esquecer dos 57 milhões que votaram nele sem nem mesmo saber de suas propostas para governo. Seriam pessoas sensatas e inteligentes? Como diz o Mino Carta, a imbecilidade tomou conta do pais.

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