Leonardo Sakamoto: a complexidade da luta de Mandela

Do blog do Sakamoto

Chora por Mandela, mas acha um absurdo pobre querer os mesmos direitos

Precisamos de mais pessoas como Mandela.

Pessoas que são capazes de usar a força quando necessário e adotar uma atitude conciliadora quando preciso. Mas que não descartam qualquer uma das duas acões políticas.

Por conta da morte de Mandela, estamos sendo soterrados por reportagens que louvam apenas um desses lados e esquece o outro, como se as folhas de uma árvore existissem sem o seu tronco e os galhos. O apartheid não morreu apenas por conta do sorriso bonito e das falas carismáticas do líder sul-africano, mas por décadas de luta firme contra a segregação coordenada por uma resistência que ele ajudou a estruturar.

É fascinante como regimes execrados pelo Ocidente foram, muitas vezes, os únicos que estenderam a mão a Mandela e à luta contra o apartheid. E como, décadas depois, muitos países prestam suas homenagens a ele, sem um mísero mea culpa por seu papel covarde durante sua prisão. Ou, pior: como veículos de comunicação desse mesmo Ocidente ignoram a complexidade da luta de Mandela, defendendo que o pacifismo foi o seu caminho.

Desculpem, mas a necessária conciliação para curar feridas ou a tolerância são diferentes de injustiça. E ser pacifista não significa morrer em silêncio, em paz, de fome ou baioneta. A desobediência civil professada por Gandhi é uma saída, mas não a única e nem cabe em todas as situações em que um grupo de pessoas é aviltado por outro.

“Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer”, disse ele, ao ser condenado a 27 anos de prisão.

As histórias das lutas sociais ao redor do mundo são porcamente ensinadas. Ao ler o que os jovens aprendem nas carteiras escolares ou no conteúdo trazido por nós jornalistas, fico com a impressão que a descolonização da Índia, o fim do apartheid na África do Sul ou a independência de Timor Leste foram obtidas apenas através de longas discussões regadas a chá e um pouco de desobediência. Dessa forma, a interpretação dos fatos, passada adiante, segue satisfatória aos grupos no poder.

Muitos que hoje lamentam por Mandela detestam manifestações públicas e mudanças no status quo.

Adoram um revolucionário quando este é reconhecido internacionalmente e aparece em estampas de camisetas, mas repudiam quem ocupa propriedades, por exemplo, “impedindo o progresso”.

Leio reclamações da violência de protestos quando estes vêm dos mais pobres entre os mais pobres – “um estupro à legalidade” – feitas por uma legião de pés-descalços empunhando armas de destruição em massa, como enxadas, foices e facões. Ou contra povos indígenas, cansados de passar fome e frio, reivindicando territórios que historicamente foram deles, na maioria das vezes com flechas, enxadas e paciência. Ou ainda professores que exigem melhores salários e resolvem ir às ruas para mostrar sua indignação e pressionar para que o poder público mude o comportamento. Todos eles são uns vândalos.

Daí, essa pessoa que ama Mandela, mas não sabe quem ele é, pensa: poxa, por que essa gente maltrapilha simplesmente não sofre em silêncio, né?

Muitas das leis criticadas em protestos e ocupações de terra ou mesmo no apartheid não foram criadas pelos que sofrem em decorrência de injustiça social, mas sim por aqueles que estavam ou estão na raiz do problema e defendem regras para que tudo fique como está. Nem sempre a legalidade é justa. E essa frase assusta muita gente.

Mandela é a inspiração. Com ele, é possível acreditar que manifestações populares e ocupações resultem nos pequenos vencendo os grandes. E, com o tempo, os rotos e rasgados sendo capazes de sobrepujar ricos e poderosos.

Por isso, o desespero inconsciente presente em muitas reclamações sobre a violência inerente ou involuntária desses atos. Ou na tentativa de reescrever a história editando aquilo que não interessa.

Enquanto isso, mais um indígena foi morto no Mato Grosso do Sul. Mas tudo bem. Devia ser apenas mais um vândalo, não um homem de bem como Mandela.

Enfim, precisamos de mais pessoas como Mandela. Pois os bons do século 20 estão morrendo antes que realmente entendamos suas mensagens.

Redação

30 Comentários

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  1. “Nelson Mandela foi condenado

    “Nelson Mandela foi condenado por um tribunal da África do Sul a trinta anos de prisão por ter colocado bombas em lugares públicos. Em Cuba, Armando Valladares foi condenado à mesma pena – trinta anos de prisão – por haver-se recusado a colocar uma plaquinha com louvores a Fidel Castro na mesa do seu escritório. Qual dos dois foi celebrado pela mídia internacional como um mártir e vitima de opressão? O primeiro. Qual dos dois países foi repetidamente punido pela ONU por violar direitos humanos? A África do Sul. Qual ganhou uma cadeira na Comissão de Direitos Humanos da ONU? Cuba.”

    1. Claro

      Claro, ele deveria combater o regime de apartheid, que assasinava garotos negros como se fossem moscas, que impedia, à força, que os negros circulassem livremente pela África do Sul ocupada pelos africaners, que negava aos negros os direitos mais básicos de qualquer cidadão, apenas com discursos indignados contra a dominação pela minoria branca. Deveriam continuar sua luta política, mesmo sem ter direito a voto, de forma pacífica e quem sabe, um dia, mesmo sem o apoio das potências ocidentais,  talvez os brancos se compadecessem com tanto sofrimento e resolvessem por permitir uma abertura lenta e gradual em direção à igualdade de direitos e oportunidades. Me poupe!

    2. De todas as pessoas de

      De todas as pessoas de direita que comentam aqui, eu SABIA, eu TINHA CERTEZA de que você seria o primeiro a expor sua insignificância, a mesquinharia de espírito e mente que te toma da cabeça aos pés.

        Essa montagem ridícula mostra não o quanto você é medíocre, mas até mesmo que você não teve capacidade de entender o que está escrito no post, vestindo a carapuça da forma mais perfeita possível.

        Se não sinto vergonha alheia é unicamente por você já ter mostrado que você se opõe aos conceitos de humanidade, interesse geral e a mais básica moralidade.

    3. A mesma tática de sempre

      Omite os crimes dos opressores e coloca fermento nas ações daqueles que lutaram contra a opressão.

      Não há nada de diferente quando falam sobre a ditadura brasileira.

      Neste ponto, a Globo é mais eficiente (como foca o texto), para não criticar as ações dos resistentes (como faz com a ditadura aqui no Brasil) e ser taxada como racista, ignora os horrores do apartheid e minimiza as resistências focando na pacificação (o que aliás é bem explorado no texto quando diz que as nações Ocidentais levaram 27 anos para se posicionar contra o apartheid).

      1. “Omite os crimes dos

        “Omite os crimes dos opressores e coloca fermento nas ações daqueles que lutaram contra a opressão.Não há nada de diferente quando falam sobre a ditadura brasileira.”

        Em meus 45 anos nunca vi a tv brasielira abordar a vilolência praticada pela esquerda pelo mundo afora.Nunca vi um documentário sobre estes crimes na tv aberta.

        Tem cidadão brasileiro que nunca ouviu nada sobre a violência que acorreu no país na década de 1960-70 por parte da esquerda só sabem uma versão da história.

        Não é uma questão de apoiar isso ou aquilo é uma questão de informar sobre a verdade não apenas um  lado falando sozinho.

        Toda vez que denuncio as violências praticadas pela esquerda sempre tem defensores desta violência, que usam a minha denuncia como sendo um apoio a violência, o que é uma contradição.

        1. AL, quem lutou contra a

          AL, quem lutou contra a ditadura naquele período era chamado de terrorista pelos jornais e TVs. Sútil, mas eficiente.

          ” … Tem cidadão brasileiro que nunca ouviu nada sobre a violência que acorreu no país na década de 1960-70 por parte da esquerda só sabem uma versão da história. … “

          Qual seria a versão? A dos militares?

          Tudo o que a esquerda fez contra os militares saiu nos jornais, mas nem tudo (ou quase nada) que os militares fizeram saiu nos jornais.

          Tanto que quem mais temia a abertura dos arquivos eram as grandes mídias apoiadoras do golpe e os próprios militares. O que ele têm a esconder? Porque não foram espontâneamente com os arquivos e assumido os próprios erros e denunciado os da esquerda? Será porque o que eles fizeram é muito mais grave? E que a esquerda já pagou e os militares não?

          Sobre lados de história, no seu primeiro comentário, colocou somente um lado da história.

           

        2. Uma pergunta simples: Se o

          Uma pergunta simples: Se o Congresso Nacional Africano foi considerado ilegal e as ideias de igualdade racial por eles defendidas enquadradas como “traição à pátria”, qual espaço restava para Nelson Mandela e seus companheiros continuarem lutando?

          O mesmo aconteceu com Mariguela.

          Vejo vocês da direita se regozijarem com o fato dele ter sido um guerrilheiro. Prova cabal de que haveria terroristas organizados no Brasil. Mas esquecem, ou nem sabem, que Mariguela só foi para as ações violentas depois de ter seu mandato de deputado eleito e seus direitos políticos cassados, bem como seu partido declarado ilegal.

          Mariguela, assim como Mandela, estava plenamente inserido na disputa democrática e abraçou com afinco outra estratégia mais radical de influência quando essa tal “democracia” o perseguiu, prendeu e tentou calá-lo.

          A tal “violência de esquerda” faz sentido quando se reconhece os movimentos dos governos e ditaduras para alijar a esquerda da democracia. 

          1. “Mariguela, assim como

            “Mariguela, assim como Mandela, estava plenamente inserido na disputa democrática”

            Roberto Jefferson e cia devem ir para a luta armada?

            Eu posso alegar que estou impedido de ser eleito pela esquerda e ir para a luta armada e atentar contra a vida da presidenta?

            “A tal “violência de esquerda” faz sentido quando se reconhece os movimentos dos governos e ditaduras para alijar a esquerda da democracia.”

            Posso usar a violência para acabar com um regime de ditadura esquerdista?

            Indique um regime socialista “democratico”, seria Cuba, URSS, RDA, Camboja, Miamar, China, Coréia do norte, Leste europeu pré queda do murro.

            No século XX, 70% da população mundial esteve (ou ainda esta) sobre regimes totalitários em sua grande maioria regimes socialistas que só trouseram a miséria, morte e a morte.

            A liberdade é uma exceção no mundo.  Vcs não tem o monopólio da verdade e da honestidade pelo contrário.

             

    4. A mesma tática de sempre

      Mandela, Mariguela e Dilma são muito parecidos na trajetória e detrações fáceis da direita.

      Primeiro criam um regime de segregação oficial e continuam hipocritamente se dizendo uma democracia.

      Depois declaram o Congresso Nacional Africano ilegal e o retiram da vida política. Suas manifestações e resistência populares são consideradas atos de terrorismo e seus líderes perseguidos, presos e assassinados.

      Aí, por fim, reclamam que os militantes que foram jogados na clandestinidade apelem para a luta armada, sabotagem e revolta popular contra o regime “democrático” ao invés de usar as vias institucionais (que estão fechadas terminalmente para eles e suas ideias).

      Aí vem o “Aliança Liberal” com sua inteligência anormal dizer que Mandela é que era o terrorista! Cômico.

  2. Santa hipocrisia!!!!!!

    Estamos vendo neste dia, muitas manifestgações de pesar pela mortge do Nelson Mandela!!! Quje bom!!!

    Mas, então pergunto aos meus botões, copiando Mino Carta

    – Mandela como lider, foi preso vários anos (aprox. 31 anos), uma geração, e os governos ocidentais durante este período, pouco ou nada fizeram em sua defesa. Quando, imagino eu, as minas de diamantes já estavam quase que totalmente esgotadas, as multinacionais ocidentais, resolveram libertá-lo e entregar o poder aos negros!!

    Assim, foi eleito Presidente Nelson Mandela, o primeiro negro a ocupar a presidencia daquele país!!!!

    O ocidente, melhor, a imprensa ocidental, sempre aliada àqueles governos, aplaudiram, e chegaram ao orgasmo pois tinha àquele país, na figura de Nelson Mandela, conseguido derrubar o aparthaid, e puderam então, sairem dos guetos e serem libertos dos preconceitos!

    Tolo engano!!!! Conforme diz  Leonardo Sakamoto, mais uma vez seremos enganados pelos governos/imprensa

    ocidentais,que juntos, chorarão lágrimas de crocodilo pela perda do homem chamado Mandela!!!!

    Santa hipocrisia!!!! que nos faz pensar o quanto parecemos à eles, idiotas!!!!

    Se bem que há muitos!!!!!!!

  3. .

    e no brasil há uma figura que se aproveita da cor que tem para solapar as conquista do povo brasileiro inclusive dos seus irmaos negros o nome dele é Joaquim barbosa…Comparando o golpe militar e o judiciário – O militar tinha o lacerda e o jdiciario o barbosa, o pensamento e o mesmo..,,,,a midia é a mesma de antes e agora,,,os presos politicos são os mesmos…a elite sacaneando com os presos e uma parte da população desinformada ou de má fe apoiando…o que mais…o objetivo é o mesmo o de manter o status quo…a palavra que justicava a tortura a partir de 64 era “terrorista” e agora é ‘mensaleiro”,,gente cá pra nós,,,há algo de diferente? Nada.

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  4. Belo texto… Mandela agora

    Belo texto… Mandela agora vai ser objeto do consumismo capitalista, vai ter sua foto estampada em camisetas, botons, etc.,ou seja, vão mistificá-lo e mitificá-lo,da mesma forma que fizeram com Che Guevara e outros, sua luta por uma África do Sul democrática e igualitária vai ser esquecida, deixará de ser o grande ser humano e líder que foi, 

  5. Mandela

    Nunca devemos esquecer que durante os 27 anos que Mandela esteve preso pela ditadura fascista da Africa do Sul, só os EEUU e Israel sempre votaram contra recomendações da ONU para sua liberdade e SEMPRE venderam armas e tecnologias repressivas para  aquele regime ditatorial. São, portanto, culpados de Mandela  ter permanecidade preso durante tanto tempo.Hoje, hipocritamente, a mesma mídia que lamenta sua morte, apoiou e/ou silenciou tudo o que fizeram ao lider negro. 

    1. E tem mais, EUA e a maioria

      E tem mais, EUA e a maioria dos países desenvolvidos apoiaram o fim do Apartheid em troca de maior abertura comercial.

      Mandela iniciou seu governo com o país dependente do FMI e obrigado a fazer uma política neoliberal.

      Na época, a China não tinha grande presença na África, Rússia e América Latina com governos pró-EUA.

    2. Negativo. Os EUA votaram

      Negativo. Os EUA votaram contra o apartheid nas Resoluções 134, 181, 1899 e 554 do Conselho de Segurança, a 1899, de 13 de novembro de 63, impondo sanções sobre fornecimento de petroleo foi fundamental, estrangulou a economia da Republica Sul Africana. Israel não tem voto no C.S. e sua opinião não tm nada a ver com o apartheid. O maior empresario da Africa do Sul, Sir Harry Oppenheirmer, o rei dos diamantes,  judeu, era contra o apartheid.

  6. Na série sobre a África

    Na série sobre a África produzida por Frankin Martins para a Discovery ele perguntou ao Jacob Zuma, atual presidente da África do Sul e companheiro de luta de Madela, qual era a luta mais dificil, a do partheid ou da inclusão social? Sem titubear Zuma disse que a luta da inclusão social do negros africanos é muito mais díficil.

    Sakamoto foi preciso ao falar da lembrança seletiva da luta de Mandela. Alguns direitos foram conquistados mas falta muito para que os negros recuperem a sua condição de cidadãos da África do Sul. Não é de estranhar portanto que os apresentadores da  Rede Globo  estão se derramando em lágrimas pelo grande líder africano, enquanto no Brasil a mesma Rede Globo encabeça a escaramuça para encarcerar homens que lutaram contra um regime ditatorial e participam da luta contra o apartheid social brasileiro.

    Na guerra da injustiça social a luta é imensa. Mandela participou de uma batalha, outras batalhas terão que ser vencidas ainda nesta guerra. Foi um grande guerreiro e que seu exemplo permaneça nas novas batalhas que os negros da África do Sul terão que lutar.

     

  7. QUEREM CONFUNDIR MANDELA COM MARTIN LUTHER KING JR.

     

     Essa imprensa que adora um golpe, é de lascar com suas manipulações.

    De curioso. Beira a extravagância. Não bastasse as distorções, as adulterações da imprensa. Me vem o cinismo hipócrita manifestado pelos mandatários de nações que sustentaram por longos e longos anos, o regime racista da África do Sul. Aliás, as mazelas do apartheid, eram, e são bem conhecidas dos norte-americanos. Digo, dos afro-americanos. Os negros, vítimas da sanha do branco racista, logo depois destes, terem tornado os nativos, à condição de animais à beira da extinção.

    O líder comunista, e comandante do braço armado do CNA, conhecido como o “Lança da Nação” Nelson Mandela. Foi um revolucionário que soube avaliar corretamente as condições objetivas para aplicar as ações adequadas de luta.

    Esta estória de pacifista bem comportado é apropriada ao Pai Thomas, que era um negro de alma branca. De boa fé, não se pode aplicar ao Homem Mandela, que da prisão, envia declaração para os companheiros do CNA, onde dizia: “Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna, que é a ação da massa unida, e o martelo, que é a luta armada, devemos esmagar o apartheid!”

    Evidente que mudando-se as condições de vida, muda-se o modo de lutar pela dita cuja.

    Orlando

     

    Abaixo, algumas ideias de Mandela:                                                                                                                                                                                                       

    “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

    “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria é uma concha vazia.”

    “Sonho com o dia em que todas as pessoas levantar-se-ão e compreenderão que foram feitas para viverem como irmãos.”

    “Uma boa cabeça e um bom coração formam uma formidável combinação.”

    “Não há caminho fácil para a Liberdade.”

    “A queda da opressão foi sancionada pela humanidade e é a maior aspiração de cada homem livre.”

    “A luta é a minha vida. Continuarei a lutar pela liberdade até o fim de meus dias.”

    “O bravo não é quem não sente medo, mas quem vence esse medo.”

    “Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.”

    “Se quiser fazer as pazes com o seu inimigo, você tem que trabalhar com ele. Daí, ele se torna seu parceiro.”

    “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”                                      ( recolhidas na wikipedia )

  8. Ninguém fala, mas o apartheid

    Ninguém fala, mas o apartheid só ruiu até se estilhaçar com a chegada dos cubanos a Angola. À contragosto dos soviéticos atenderam ao pedido de Agostino Neto que enfrentava um inimigo mais poderoso em armas e tecnologia e os detiveram, exaurindo seu poder de combate. Quando livre, Mandela viajou até Cuba para reconhecer a Fidel pessoalmente sua contribuição para o fim do regime racista de Pretoria. Não mais que isso.

    1. Cubanos? Não dá para

      Cubanos? Não dá para acreditar na audacia. Não tem nada a ver. O problema sul africano foi resolvido pela pressão da ONU que foi enorme e durou 33 anos. o APARTHEID CAIU PELA PRESSÃO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL.

      1.1º de abril de 60 – Resolução 134 do Conselho de Segurança codenando o apartheid.

      2.Resolução 181 do Conselho de Segurança vetando qualquer fornecimento de armas, municções e equipamentos belicos

      ao governo da Africa do Sul ( 7/8/1063)

      3.Resolução 1899 do Conselho de Segurança vetando o fornecimento de PETROLEO À aFRICA DO SUL. (13.11.63)

      4.Resolução 554 do Conselho de Segurança vetando a promulgação da Constituição com o Aparthaid (17.09.89)

      4.Resolução da Assembleia Geral CONDENADO TOTALMENTE o Apartheid (14/12/89)

      A luta em Angola não teve nada a ver com o processo sul-africano.

      1. Eu ia desmenti-lo, mas o
        Eu ia desmenti-lo, mas o Nassif publicou uma reportagem do Terra falando do apoio dos EUA, Europa e Israel ao Apartheid. Também lembro que Mandela era marcado como terrorista pelos norte-americanos até 2008! E que precisou de longa negociação diplomática para ir à ONU quando já era Chefe de Estado, pois não podia entrar nos EUA.
        Recentemente, no enterro de Thatcher os ex-presidentes do Apartheid foram convidados de honra.
        Por fim, não por acaso Cuba foi o primeiro país visitado por Mandela. Ao contrário dos oportunistas que sempre apoiaram o regime, os comunistas sempre estiveram na linha de frente da resistência.

  9. Mandela x demagogia e terrorismo

    Quando vemos a corja midiática do Brasil prestando homenagens ao Mandela  ” REVIRA O ESTÔMAGO’.  Afinal, onde exatamente os abutres da mídia lideradas como sempre pela CORJA DOS MARINHO, se identificam  com  os ideais que norteram a vida de Mandela???? . Em que parte da história a demagogia e o terrorismo praticados pela Rede Globo e seus capangas se cruzaram com a luta de Mandela???. è pra vomitar até as tripas ou morrer de rir, por motivos óbvios vamos dar GARGALHADAS…

  10. Dilma se iguala a Mandela na trajetória

    A oposição e a imprensa chiaram muito quando Lula comparou Dilma a Nelson Mandela por causa da trajetória de ambos: lutaram pela liberdade, foram presos e depois se tornaram líderes no período democrático.

    Lula fez isso na pré-campanha de 2010 e levou tanta paulada que largou de lado o assunto. Mas, polêmicas à parte, o único político em todas as eleições presidenciais brasileiras que podia ter sua história comparada a Mandela era mesmo Dilma. Nem Lula tem trajetória parecida.

    A imprensa sempre fez um esteriótipo pacifista de Mandela, como se ele fosse uma mistura de Ghandi, Madre Thereza, Jimmy Carter e Al Gore, num esforço para desacreditar outras formas de luta, esconder seu ateísmo liberal e principalmente o apoio solitário do comunismo na sua luta contra o Apharteid.

    Ambos aderiram à luta armada contra regimes opressores que lhes havia cassarado os direitos políticos, à livre organização e defesa de suas ideias. Foram presos, torturados e por pouco não foram mortos. Com o fim do terrorismo de Estado, voltaram a atuar na democracia e se tornaram seus maiores defensores.

    Se Mariguela e outros tivessem sobrevivido à sanha assassina dos militares e seus sádicos subalternos, teriam esse mesmo bom legado para transmitir às gerações futuras de brasileiros. Mas não tiveram a mesma sorte.

     

    Em propaganda do PT, Lula compara Dilma a Mandela

    http://primeira-edicao.jusbrasil.com.br/politica/4796718/em-propaganda-do-pt-lula-compara-dilma-a-mandela

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, voltaram a estrelar a propaganda eleitoral de 10 minutos do partido exibida na noite desta quinta-feira em rede nacional. 
    Além de destacar a história pessoal e política de Dilma, Lula a compara com o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que chegou ao cargo depois de 27 anos de prisão. 
    “Uma parte da história da Dilma me lembra muito a do Mandela. Uma vez o Mandela me contou que só foi para o confronto porque não deram outra saída pra ele. O tempo passou e ele virou um dos maiores símbolos da paz e da união no mundo”, afirma Lula. Ele completa: “o que mais admiro na Dilma é a história dela”. 
    A peça lembra a luta de Dilma durante a ditadura militar. “Foi uma época muito difícil. Vivíamos nas trevas”, afirma a petista. O vídeo volta a dizer que ela não fugiu. 
    Enquanto Lula aparenta ler de improviso, Dilma lia o teleprompter. “Com Lula e Dilma, o Brasil cresceu como nunca”, diz o locutor. 

    1. Absolutamente NADA A VER, nem

      Absolutamente NADA A VER, nem o Pais, nem o Continente, nem o Povo, nem a Economia, nem a Sociedade, nem a Historia, não há a MAIS REMOTA SIMILIARIDADE entre trajetorias de Lula, Dilma e Mandela, NADA mas NADA MESMO A VER. Querer encontrar parecenças é para lá de RIDICULO.

      1. A realidade é dura, eu sei.
        A realidade é dura, eu sei. Mas nenhum historiador da África descola o encrudescimento da resistência dos negros à efervescência político-social no mundo nos anos 60. E, é claro, à Guerra Fria. O mesmo anti-comunismo que justificou o Golpe de 64 por aqui e que fez as grandes potências apoiarem o Apartheid por 5 décadas.
        Os negros não podia votar na AS, o NA fora declarado ilegal, Mandela não tinha direitos políticos. Enfrentou aquela falsa democracia e foi preso.
        Como não comparar com a luta e a prisão de Dilma? A diferença é que a ditadura aqui era declarada. Mas os ideais fascistas eram os mesmos.

  11. mandela

    Falta pouco para os meios de comunicação ocidentais, compreendidos os pseudo brasileiros, dizerem que Mandela foi um bom escoteiro a vida toda, tendo se mantido sempre alerta até o último alento. É que, além do vício contumaz de mentir e mistificar os fatos reais, esta escumalha sente a necessidade de já ir criando um Mandela artificial para se contrapor ao que certamente virá nos próximos anos na Africa do Sul. A correlação de forças no mundo e, em particular, no sofrido Continente Negro, mudou de forma substancial. O fim do apartheid, imposto pelo isolamento no mundo do regime criado pelos boers (camponeses) holandeses e britânicos, não significou a redenção econômica da massa de negros pobres que outrora sustentava com o seu trabalho a minoria racista do país. A eleição de Mandela se deu no momento quando apenas começava o recuo do sistema imperialista dos países ocidentais, agrupados na OTAN. A segunda revolução ocorrida recentemente no Zimbabwe, sob a batuta de Robert Mugabe, é o prelúdio das mudanças que terão lugar na Africa do Sul, em futuro próximo. Mandela não se opunha a tais mudanças. Ele sabia perfeitamente que a liberdade de dormir debaixo das pontes não era o que desejava o seu povo, com o fim do apartheid. Os sulafricanos queriam e ainda querem o fim das injustiças, da exploração e da miséria, além da liberdade. Mandela será, com certeza, a inspiração das novas lutas que se avizinham naquela grande nação.   

  12. Do apartheid ao neoliberalismo na África do Sul

    Via Resistir.info

    Do apartheid ao neoliberalismo na África do Sul

      John Pilger

    Quando era correspondente na África do Sul nos anos 60, quem ocupava a residência do primeiro-ministro em Cape Town era o simpatizante nazi Johannes Vorster. Trinta anos depois, enquanto eu esperava à porta, era como se os guardas não tivessem mudado. O meu BI foi verificado por africânderes brancos com a confiança de homens com um emprego seguro. Um deles tinha um exemplar de Long Walk to Freedom , a autobiografia de Nelson Mandela. “É muito inspirador”, disse.

    Mandela havia terminado a sua sesta da tarde e estava sonolento; tinha os atacadores por atar. Usava uma camisa amarelo vivo e atravessou a sala devagar. “Bem-vindo de volta”, disse, radiante, o primeiro presidente de uma África do Sul democrática. “Deve compreender que ter sido expulso do meu país foi uma grande honra”. A graça e o encanto do homem faz-nos sentir bem. Riu-se discretamente quanto à sua elevação à santidade. “Não era esse o emprego que eu pretendia”, disse ironicamente.

    No entanto, ele já estava bem habituado a entrevistas cerimoniosas e eu fui admoestado várias vezes – “esqueceu-se completamente do que eu disse” e “já lhe expliquei essa questão”. Sem tolerar qualquer crítica ao Congresso Nacional Africano (CNA), revelou porque é que milhões de sul-africanos vão chorar a sua morte mas não o seu “legado”.

    Perguntei-lhe porque é que não se tinham mantido as reivindicações que ele e o CNA tinham feito na altura da sua libertação da prisão em 1990. O governo de libertação, havia prometido Mandela, assumiria a economia apartheid, incluindo os bancos, e “é impensável uma alteração ou modificação das nossas perspectivas quanto a essa questão”. Uma vez no poder, foi abandonada a política oficial do partido para acabar com a pobreza da maior parte dos sul-africanos, o Programa de Reconstrução e Desenvolvimento (PRD), e um dos seus ministros gabou-se que a política do CNA era thatcherita.

    “Pode pôr-lhe o rótulo que quiser”, respondeu, “…mas, para este país, a privatização é uma política fundamental”.

    “Isso é o oposto do que o senhor disse em 1994”.

    “Temos que pensar que cada processo incorpora uma mudança”.

    Poucos sul-africanos comuns tinham consciência de que este “processo” começara no maior segredo dois anos antes da libertação de Mandela, quando o CNA no exílio fez um acordo com importantes membros da elite africânder em reuniões na Mells Park House, uma casa imponente perto de Bath. Os pioneiros foram as empresas que tinham apoiado o apartheid.

    Mais ou menos pela mesma altura, Mandela estava a efectuar as suas negociações secretas. Em 1982, foi transferido da Ilha Robben para a prisão Pollsmoor, onde podia receber e conversar com pessoas. O objectivo do regime apartheid era dividir o CNA entre os “moderados” com quem se podia “negociar” (Mandela, Thabo Mbeki e Oliver Tambo) e os da vanguarda dos subúrbios que lideravam a Frente Democrática Unida (FDU). A 5 de Julho de 1989, Mandela saiu da prisão para se encontrar com P.W. Botha, o presidente da minoria branca, conhecido por Groot Krokodil (Grande Crocodilo). Mandela sentiu-se encantado por Botha ter servido o chá.

    Nas eleições democráticas de 1994, terminou o apartheid racista e o apartheid económico conheceu um novo rosto. Durante a década de 80, o regime de Botha ofereceu generosos empréstimos a empresários negros, permitindo-lhes fundar empresas fora dos bantustões. Surgiu rapidamente uma nova burguesia negra, juntamente com um compadrio excessivo. Os chefões do CNA mudaram-se para mansões em “propriedades de golfe e campo”. Enquanto as disparidades entre brancos e negros diminuíam, aumentavam entre negros e negros.

    O refrão familiar de que a nova riqueza “chegaria a todos” e “criaria emprego” perdeu-se em duvidosos acordos de fusão e de “reestruturação” que reduziram postos de trabalho. Para as empresas estrangeiras, um rosto negro na direcção era a garantia de que nada tinha mudado. Em 2001, George Soros disse no Fórum Económico de Davos, “a África do Sul está nas mãos do capital internacional”.

    Nos subúrbios, o povo sentiu poucas alterações e foi sujeito a despejos como na era do apartheid; alguns sentiram a nostalgia da “ordem” do antigo regime. As realizações pós-apartheid na vida quotidiana des-segregacionista na África do Sul, incluindo nas escolas, foram suplantadas pelos extremos e pela corrupção do “neoliberalismo” a que o CNA se dedicou. Isso levou directamente a crimes estatais como o massacre de 34 mineiros em Marikana em 2012, que fez recordar o vergonhoso massacre de Sharpeville mais de cinquenta anos antes. Foram ambos protestos contra a injustiça.

    Obama visita a cela de Mandela na África do Sul.

    Também Mandela fomentou relações de compadrio com brancos ricos do mundo empresarial, incluindo os que tinham beneficiado com o apartheid. Considerou que isso fazia parte da “reconciliação”. Porventura, ele e o seu querido CNA estiveram em luta e no exílio tanto tempo que estavam dispostos a aceitar e a pactuar com as forças que tinham sido inimigas do povo. Havia os que queriam de facto uma mudança radical, incluindo uns quantos do Partido Comunista da África do Sul , mas foi a poderosa influência do cristianismo missionário que provavelmente deixou a marca mais indelével. Os liberais brancos no país ou fora dele apreciaram isso, ignorando ou bendizendo a relutância de Mandela em formular uma visão coerente, como fizeram Amílcar Cabral ou o Pandita Nehru.

    Ironicamente, Mandela parece ter mudado depois de reformado, alertando o mundo para os perigos pós 11/Set de George W. Bush e de Tony Blair. A sua descrição de Blair como “o ministro dos estrangeiros de Bush” foi maliciosamente atempada; Thabo Mbeki, o seu sucessor, estava a chegar a Londres para se encontrar com Blair. Pergunto a mim próprio o que é que ele faria com a recente “peregrinação” à sua cela de Robben Island, feita por Barack Obama, o carcereiro implacável de Guantanamo.

    Mandela pareceu-me extremamente afável. Quando a minha entrevista acabou, deu-me uma palmadinha no ombro como a dizer que eu estava perdoado por tê-lo contraditado. Fomos até ao seu Mercedes prateado, onde a sua cabeça grisalha desapareceu no meio de um grupo de homens brancos com armas enormes e arames nas orelhas. Um deles deu uma ordem em africânder e desapareceu.

  13. The “Brand Mandela” Steamtrain Rolls On

    The “Brand Mandela” Steamtrain Rolls On

    by  Tina Sizovuka
    (Tokologo African Anarchist Collective)

    RandelaNelson Mandela has become a brand, “Brand Mandela,” his image, name and prison number used to generate cash and to promote the legend of Mandela. In July 2012, for example, the 46664 clothing line was launched (all “Made in China”).

    But “Brand Mandela” is more than just an opportunity to sell stupid trinkets to tourists and celebrities. It is also a dangerous myth, based on Mandela-worship, promoted daily in the public imagination to serve far more sinister interests.

    The myth of Mandela is used to give the vicious South African ruling class credibility by association, and to legitimise the the ruling African National Congress (ANC). It is no surprise that the 2012 launch of the new “Randelas” – South Africa’s new set of banknotes, with Mandela on – coincided with the ANC’s national conference at Manguang. 

    And this “Madiba money” came amidst a host of other devices of Mandela-worship. These include the unveiling in Bloemfontein, where the ANC was founded in 1912, of a new Mandela statue. According to state President and ANC head Jacob Zuma, this is a symbol of “reconciliation and tolerance,” and a reminder to “keep talking” about the national hero, and his “real story”.

    Criticising Brand Mandela in no way means we should spit on the sacrifices Mandela made during the anti-apartheid struggle, or his important role in the 1994 transition that enabled major gains in rights.

    But stirring up public emotion with liberation imagery, and using the image of Mandela as a living saint, has been a decoy to obscure the far less heroic story of the ANC in power, and the unpleasant realities of the Mangaung conference.

    Like any other nationalist propaganda, Brand Mandela has been a used by the rich and powerful to perpetuate a rotten class system – a system the ANC helps maintain through its neo-liberal policies, elite “empowerment” deals and police massacres. A system that has caused misery for the millions of poor South Africans Mandela is said to have “liberated”.

    In South Africa, this class system is run by an alliance of (mostly white) private capitalists and (mostly black) state managers who collude in their mutual class interests. Since our bloody history has ensured very little space exists for black hopefuls in the white-dominated private sector, the state has become the key means to access money and power.

    It is for this reason that the ANC, as guardian of the gate of the state resources has become such a hotly contested space. The road to Manguang was marked, not by “reconciliation and tolerance,” and “talking,” but by vicious factional rivalry, vote-rigging allegations, even hostage-taking and murder …

    This is the ANC in reality –cue the desperate efforts deployed by the dominant Zuma ANC faction to lull us into a nationalist daze with “Madiba magic.”

    And finally, to set the record straight, Mandela was not the one-man author of the country’s liberation – even if he played an important role; he never claimed to be. For the advances made in 1994, the black working class majority and its allies of all races, have only themselves – their own collective strength and solidarity – to thank.

    If Zuma wants a “real story”, here it is.

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