Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC, e sua última carta

por Jair Fonseca

Não sabemos se Luiz Carlos Cancellier, reitor afastado da UFSC, que cometeu suicídio uma hora atrás, no Shopping Beira-Mar, em Florianópolis, era culpado. Preso, posteriormente solto, e afastado das funções por decisão judicial, o reitor escreveu este texto. Os atuais métodos da “justiça” no Brasil, da PF e do MP podem ter feito sua primeira vítima fatal.

“Reitor exilado”

por Luiz Carlos Cancellier

“Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia

A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.

Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, “na UFSC, tem diversidade!”. A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa.

Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.

Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.

Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão.

De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento”.

Redação

21 Comentários

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  1. O judiciário, a polícia

    O judiciário, a polícia federal e a grande mídia estão se transformando numa gestapo brasileira. O stf criou um monstro, que está destruindo o país e o regredindo à idade média. A casa-grande embarcou a si e o Brasil num trem sem freios e o condutor escolhido é o bolsonaro. 

  2. Reitor da UFSC se suicida .

    Reitor da UFSC se suicida . Se jogou do 4º andar de um shopping em Fpolis. A cidade está em choque. Se ele era ou não culpado não é o caso . O caso é q o juiz ou juíza que destruiu sua reputação autorizando sua prisão temporária , deveria ter pensado bem . Bastava ter feito busca e apreensão de documentos e computadores. Ele estava proibido até de entrar no Campus. É o que tem feito o judiciário e a mídia: destroem reputações e depois se for inocente? Não vem ao caso, dão uma notinha de 5 ou 10 segundos no meio do jornal e … e a pessoa que se dane. Já dizia o samba-canção:”primeiro é preciso julgar para depois condenar”. Em tempo não conhecia o reitor, e nem tenho atualmente ligação com a UFSC a não ser gratidão pelos anos que lá estive.

    As pessoas de boa fé da cidade estão em choque .

  3. O modus operandi da Lava Jato

    “Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.”

    1. Contradita

      Comentário perfeito,mas triste a comparação com o “modus operandi” da lava jato. Quem assim compara,não apenas defende os seus,como ataca a maior operação limpa louça deste país.

  4. Lamento pela morte do

    Lamento pela morte do Magnifico Reitor.

     

    Uma perda para o Brasil. Agora colocar a culpa na Justiça Brasileira e nas suas instituições é um tanto Covarde.

    O Juiz julga conforme as provas e a sua convicção.

    Existem mecanismos de controle sobre os excessos do mesmo.

    Deus nos proteja e fortaleça a nossa Justiça hoje e sempre.

     

    Desde já, deixo meus sentimentos a família e a toda UFSC.

     

     

    1. Discordo. 
      O juiz não julga

      Discordo. 

      O juiz não julga conforme as provas.

      Juiz julga conforme as convicções pessoais, não leem os processos, julga conforme a mídia…

      Não existe justiça no Brasil. (Só para quem paga – e muito!)

    2. Mecanismo de controle sobre o

      Mecanismo de controle sobre o Judiciário  e MPF mais caros e corporativistas do planeta? Só sendo fora do Brasil.  Aqui juiz julgando por provas vai aos poucos caindo em desuso. O que vale hoje são as convicções e o exemplo maior vem de Curitiba. Provas é um mero detalhe e não precisamos nos alongar em exemplos. Estão nos 4 cantos do País, onde a justiça só age com mão de ferro sobre os pobres e agora persegue incansavelmente quem os defenda.  Existe apenas uma dúvida: não sabemos  onde tudo isso vai parar.

    3. É interessante este argumento

      É interessante este argumento de que  “juiz julga conforme as provas e sua convicção” se considerarmos que a Magistrada Substituto, no dia posterior, deter minou a soltura dos  detidos e, segundo li, recebeu uma “reprimenda na imprensa” daquela juiza que fez a lambança toda  como se a Magistrada  Substituta, diga-se, que foi a unica que agiu adequadamente na questao,  fosse uma especie de colegial sujeita à tirania da “bedel” de plantao da justiça federal catarinensel….

  5. Pêsames pela morte da

    Pêsames pela morte da Democracia nesses tempor de ditadura midiática-judicial. Coisas piores, infelizmente, aconteceráo.

      1. Prezado, não se trata de uma

        Prezado, não se trata de uma infâmia. Mas de um doloroso caso de suicídio. Sabemos que este existe, com alguma frequência, como única saída (fechada) para pessoas sufocadas em situações terríveis como as que o nosso ex-reitor viveu, e que infelizmente são moedas correntes em nossos tristes tempos de judicialização espetacular da política, de justiçamento midiático e internético. Sabemos que um suicida é um suicidado pela sociedade, como escreveu Artaud sobre Van Gogh, mas é preciso falar sobre isso sem esquecer que há outros sentidos nessa metáfora.

  6. Que não permitam exinguir o

    Que não permitam exinguir o processo por morte do réu, lavando as mãos nessa tragédia, sem dar uma sentença sobre a inocência ou a culpa.

  7. responsáveis

    Reitor não foi uma vítima fatal apenas dos cães de guerra da PF e MPF.

    Foi vítima também de um bando de escroques vaidosos e analfabetos funcionais: os profissionais (sic) da imprensa. Estes, continuam devastando o país.

  8. Só a

    Só a esquerdalha,principalmente da UFSC,faz leviano comentário a respeito da PF, MPF,JF e juiz Moro.

    Lamento o fato ocorrido com o ilustre reitor e que sua alma descanse em paz.

    Minha solidariedade à família,amigos e colegas de trabalho. Inflizmente até diante de tal tragédia,os insensíveis politizam.

     

  9. Só a

    Só a esquerdalha,principalmente da UFSC,faz leviano comentário a respeito da PF, MPF,JF e juiz Moro.

    Lamento o fato ocorrido com o ilustre reitor e que sua alma descanse em paz.

    Minha solidariedade à família,amigos e colegas de trabalho. Inflizmente até diante de tal tragédia,os insensíveis politizam.

     

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