Mobilidade urbana: a disputa VLT-BRT

Comentário ao post Copa-14: o trem bilionário de Cuiabá 

Essa briga entre VLT (e outros sistemas sobre trilhos) e BRT é de cachorro grande e ocorre no mundo inteiro. Correm ainda por fora os monotrilhistas.

Ninguém é inocente nessa briga. No lado dos be-erre-tistas está a poderosissima NTU, (Associacao Nacional de Empresas de Transporte Urbano),  que agrega os operadores de onibus do Brasil inteiro e nao admitem nem a realizacao de licitacoes. Na medida em que veem o seu império criticado cada vez mais, resolveram apostar no BRT, como fuga para frente, para salvaguardar o predominio do onibus. Se aliaram à industria de onibus (montadores nacionais e fornecedores internacionais de chassis) para vender essa solucao como a mais barata e rapida.

A industria, por sua vez, tem desenvolvido onibus especiais para corredores, e as propostas sao deveras interessantes. O problema é que os operadores nao gostam de onibus especiais, pois eles preferem os caminhoes enlatados, que podem vender pelo Brasilsao afora em pouco tempo depois de sua aquisicao (a renovacao de onibus é uma farra pouco comentada fora do setor: ela é sempre paga pela parcela desnecessariamente aumentada de amortizacao do capital, prevista na planilha). Já os onibus especiais (articulados, piso rebaixado, porta nos dois lados, etc.) nao sao interessantes, pois “nao vendem”.

Outro aspecto critico que tem de ser visto com relacao ao onibus é a péssima qualidade da operacao, improvisada para maximizar o ensardinhamento. O usuario nao possui nenhuma informacao sobre horarios e frequencias e fica na mao do primeiro veiculo que surge no ponto, portanto, nao tem como se defender. A opcao do corredor pode levar a uma continuidade da má qualidade do servico, pois ficará na mao dos mesmos operadores, isso depois dos contribuintes investirem na sua construcao, esperando uma melhoria que nao vem.

De outro lado, vem os representantes dos sistemas ferroviarios, internacionais, com amplo apoio em alguns organismos publicos ligados ao planejamento urbano. Esses vendedores geralmente enchem os olhos das administracoes com solucoes belissimas e desnecessariamente caras (vidro temperado, computadores, etc.).Assim, o preco da solucao do VLT pode sair uma fortuna, se técnicos conhecedores das opcoes nao puderem participar da escolha. No Cariri, foi construido um VLT nacional, a diesel, bem mais barato do que os brinquedos importados (e toma Alsthom…)

Eu sempre tenho colocado meu bedelho nessa briga, relativizando as posicoes. Se, de um lado, o BRT pode ser vista como uma solucao barata, o barato pode sair caro, sobretudo em termos de custos urbanos: na medida em que o corredor de onibus aumenta seu fluxo, digamos a partir de 20 mil passageiros por hora e sentido, aumenta a emissao de ruidos e particulas.  Igualmente, s conflitos com a circulacao dos outros veiculos aumenta nos cruzamentos. Corredores urbanos densos e estreitos, como é boa parte de nossas artérias, sofrem um efeito ambiental severo e se desvalorizam sob ponto de vista imobiliário. Hoje, varios corredores de onibus urbanos  no Brasil e lá fora (até no exemplo mais festejado de Bogotá) mataram o comercio lindeiro, provocando um grande prejuizo sob ponto de vista de economia urbana (esse prejuizo nao é contabilizado pelos be-erre-tistas!).

O VLT, de fato, é a opcao mais cara; por outro lado, se inserido em uma operacao de renovacao urbana, tenta valorizar espacos urbanos, e assim, em termos de sustentabilidade fiscal, o resultado pode ser positivo. (fizemos esse exercicio em Taguatinga, uma cidade-satélite de Brasilia).

Em principio e por principio, nao me coloco a favor de um ou outra tecnologia. Elas devem ser decididas caso a caso em funcao do ambiente urbano que atravessam e a qual devem servir. EM eixos estreitos e densos, defenderia o VLT. Já em eixos bastantes largos e arborizados, de forma que as emissoes possam ser dissipar, recomendaria o BRT. Em artérias estreitas demais tanto para VLT e BRT (existem delas ao montes no Brasil, em funcao da falta de planejamento urbano e de transporte urbano), o monotrilho passa a ser uma boa opcao.

Portanto, o custo de construcao e operacao é um dos dados, mas nao o unico a considerar: precisamos avaliar os impactos e potenciais para desenvolvimento urbano e os custos correpondentes.

No caso de Cuiabá, que conheco bem, existe um eixo mais largo, mas o resto dos itinerários principais sao estreitos e com aclives ingremes. O VLT se justificaria se ele fosse inserido em um projeto de renovacao urbana ampla entre o Centro Administrativo (extremo Leste) e o aeroporto de Cuiabá em Varzea Grande (extremo Oeste). Sem esse projeto, dá para engolir o BRT, mas há trechos no eixo que sefrerao muito com as emissoes do BRT. Já outros eixos poderiam ser servidos com monotrilho.

Por fim, nao dá para decidir esse tipo de investimento sem planejamento urbano e de transporte urbano. A maior parte das matropoles  ainda nao tem Plano Diretor de Transporte, embora já tornado obrigratorio para cidaddes acima de 500 mil habitantes, pelo Estatuto da Cidade.

Em suma, meus caros participantes do blogue: NAO HÁ SANTO NESSA BRIGA!!!

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador