Modelos econômicos desconsideram a vida das pessoas, diz Belluzzo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Com austeridade neoliberal, governo Temer aprofundou o desemprego e a precariedade das relações de trabalho (CC 2.0 WIKIMEDIA)

da Rede Brasil Atual

Modelos econômicos desconsideram a vida das pessoas, diz Belluzzo

Economistas insistem na “vira-latice fiscal”: só cortando gastos é possível equilibrar contas. Mas não há mais de onde tirar, quando o desemprego aperta e as pessoas procuram alternativas para sobreviver

por Redação RBA

São Paulo – Aprisionados em “modelos econométricos” cada vez mais distantes da realidade social, economistas liberais continuam aferrados à ideia de cortar gastos como unica alternativa possível para garantir o equilíbrio das contas públicas, sem levar em consideração o impacto dessas políticas de austeridade no dia a dia das pessoas. Em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (30), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo critica o que chama de “viralatice fiscal” que não só não conserta como aprofunda os efeitos da crise, principalmente sobre os mais pobres, submetidos a empregos precários e obrigados a recorrerem a bicos para complementar a renda. 

“A economia – isso deveria ser banal – deve servir à vida das pessoas. É claro que há restrições, mas cada vez menos. A economia das novas tecnologias, se funcionassem direito, seria uma forma de superar a escassez. Só que essa possibilidade de garantir a oferta de bens para todos é bloqueada por relações sociais que fazem com que uns se apropriem dessa abundância toda, em detrimento de outros”, diz Belluzzo, que na entrevista detalhou aspectos do artigo A desumanização da economia, publicado na revista CartaCapital.

“Estou falando em desumanização porque, na verdade, os modelos econômicos dizem que o Estado não pode gastar, o que é uma mentira deslavada. Nessa hora, deve-se arrumar um jeito de gastar, visando ao aumento do emprego, dos salários e da renda das empresas. O que estamos assistindo é uma ortodoxia um tanto burra, porque é desnecessária. A economia está com capacidade ociosa, as empresas querendo aumentar o seu faturamento e não podem”, explica o economista.

“O caso do Meirelles (ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do MDB à Presidência), por exemplo, é patético. Eles todos são patéticos. Ficam dizendo que a economia vai crescer, enquanto fazem tudo errado. Isso é a desumanização da economia. Eles não pensam nas pessoas que estão sofrendo”, critica Belluzzo.   

Em vez de insistir em cortar gastos que impactam na redução da renda e no aumento do desemprego para o conjunto da população, o economista defende a criação de um pacote de investimentos, principalmente em obras públicas, que tem “capacidade multiplicadora”. Políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família e as aposentadorias, também têm o efeito de aumentar o consumo, criando empregos e reduzindo as desigualdade, afirma o economista. 

Belluzzo usa a construção de uma barragem para ilustrar como o investimento em obras públicas pode contribuir para destravar a economia, além de melhorar a vida das pessoas. Essa mudança de orientação na política econômica traria como resultado o aumento do emprego formal, e colabora inclusive para o equilíbrio fiscal, já que com a economia aquecida, aumenta também o pagamento de impostos. 

“Numa obra como essa, contratam-se trabalhadores, que vão gastar a renda que recebem. Ao mesmo tempo, fazem-se encomendas de equipamentos etc., o que também faz com que as empresas fornecedoras contratem mais trabalhadores. Isso é o chamado efeito multiplicador. Aumenta-se assim a capacidade de consumo como um todo, o que atrai investimentos. As empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e serviços vão alargando o espaço de circulação da renda.”

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. O que Beluzzo chama de

    O que Beluzzo chama de “modelos econômicos” eu prefiro chamar de “modelos de sadismo”. O que eles fazem é justificar a exclusão, o sofrimento, a pobreza, a fome e a desesperança com um parlavrório artificialmente racional e sofisticado que parece isentar os sádicos das crueldades que eles defenfem contra pessoas que nem mesmo estão em condição de se defender. É preciso revolucionar o discurso e parar de atribuir valor discursivo aos “modelos de sadismo” como se eles pudessem ser apenas “modelos econômicos”.

  2. Comecei a ler a crítica

    Comecei a ler a crítica achando que o Belluzzo viria com algo sofisticado… Mas saiu só o multiplicador mesmo. Maneiro é no mesmo texto ele dizer que o país tá cheio de capacidade ociosa e que os gastos vão aumentar o investimento.

    Cheio de gordura pra cortar no gasto público, altamente ineficiente no Brasil.

  3. Belluzo tem razao. Mas para
    Belluzo tem razao. Mas para aumentar em investimentos publicos urgentes, precisamos de um presidente ousado e faca com transparencia e objetivos claros. Dentro de un programa de deaenvolvimento nacional comprometido com os mais oobres e a classe media. So a esquerda democratica possui tal projeto.

  4. Faltou ele dizer o mais

    Faltou ele dizer o mais importante: de onde tirar o dinheiro para esses investimentos? Aumento da dívida? Emissão com inflação? Se fosse tão simples, não existiria desemprego em nenhum país do mundo…

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