Muro de Berlim: 25 anos da queda, 25 fatos históricos e curiosidades

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A reportagem do Opera Mundi elencou 25 fatos históricos em função do aniversário de 25 anos da queda do Muro de Berlim. Entre os pontos estão a construção da barreira de um dia para outro, mas a permanência de uma Alemanha não dividida socialmente por muito anos e, além da tentativa de Stalin de reunificar os blocos.

Por Rafael Targino

No Opera Mundi

A queda do Muro de Berlim, um marco do fim da Guerra Fria e símbolo do desmantelamento do bloco socialista do leste europeu, completa 25 anos neste domingo (09/11). Antes desse aniversário histórico, conheça 25 fatos sobre a barreira que dividiu a Alemanha por 28 anos:

1. A Alemanha Oriental surgiu antes do Muro de Berlim: A Alemanha Oriental – conhecida em português pela sigla RDA (DDR, em alemão) – surgiu anos antes da construção do Muro. Em 7 de outubro de 1949, o novo país foi fundado a partir dos territórios controlados pela União Soviética (após a divisão feita ao fim da Segunda Guerra entre os vencedores). Um contraponto direto ao lado controlado por EUA, França e Reino Unido, que, em 16 de setembro do mesmo ano, arquitetavam a criação da República Federal da Alemanha (RFA, ou BRD, em alemão). No lado oriental, a capital era Berlim; no ocidental, Bonn.


2. Mesmo com duas Alemanhas, Berlim continuava sem divisão física: A cidade foi dividida em quatro partes entre os vencedores da Segunda Guerra: EUA, Reino Unido e França a Oeste, União Soviética, a Leste. Mesmo após a criação das duas Alemanhas, havia certa liberdade de movimento entre as zonas, por mais que o controle (especialmente de leste a oeste) tenha sido aumentado gradativamente. O metrô, com várias linhas que iam de um lado a outro, circulava normalmente.

3. Stalin tentou unificar as Alemanhas: Em março de 1952, o então líder soviético, Josef Stalin, enviou uma proposta aparentemente boa para as forças capitalistas: tratado de paz e eleições livres em uma Alemanha reunificada. A condição era que o novo país não poderia entrar em nenhuma aliança militar contra os antigos ocupantes. O então chanceler alemão ocidental, Konrad Adenauer, recusou o plano, o que muitos historiadores veem hoje como um erro, já que poderia, em tese, ter evitado os 37 anos seguintes de divisão. Mas a proposta de Stalin tinha seus “poréns”: ela fazia com que a nova nação renunciasse a antigos territórios prussianos a leste – o que tinha potencial para acabar com a força política de Adenauer.

4. Stalin autorizou a criação de um “muro virtual”: Com a recusa de Adenauer, Stalin chamou a direção da Alemanha Oriental (notadamente Walter Ulbricht, primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Socialista Unificado da Alemanha – SED, em alemão – e quem efetivamente mandava no país) para uma reunião em Moscou. O líder soviético deu dois conselhos: “organizar o próprio Estado” e “reforçar a proteção da fronteira” entre os dois países. Foi o suficiente: em 26 de maio de 1952, os líderes orientais fecharam a fronteira entre as zonas e estabeleceram perímetros máximos de circulação de estrangeiros dentro da área sob controle soviético – em uma espécie de “muro virtual”.

5. Alemanha Ocidental ganhou soberania no mesmo dia do fechamento da fronteira: No mesmo 26 de maio de 1952, um tratado dava soberania (mesmo que relativa) à Alemanha Ocidental, permitindo que ela entrasse na Otan (Aliança do Tratado do Atlântico Norte) três anos depois.

6. O lugar para fugir era… Berlim: A fronteira interna entre os dois países havia sido fechada, mas ir de um lado para o outro não era muito difícil: bastava viajar a Berlim. A cidade continuava dividida, mas atravessar de uma zona a outra não era tão complicado. Isso preocupava Ulbricht.

7. Morte de Stalin atrasou construção: Em janeiro de 1953, Stalin havia acertado com Ulbricht a colocação de guardas na fronteira entre as zonas soviética e dos outros ocupantes em Berlim. Segundo a historiadora Hope M. Harrison, professora da George Washington University, no livro “Driving Soviets up the Wall”, os homens seriam colocados para “acabar com o acesso descontrolado a Berlim Oriental a partir dos setores ocidentais” e, principalmente, vice-versa.
Frederick Taylor, autor de “Muro de Berlim”, uma das obras mais importantes sobre o tema, afirma que isso era, basicamente, “a premissa de uma fronteira fortificada em Berlim”. Em 1º de março, no entanto, Stalin sofreu um derrame, morrendo no dia 5. O novo governo soviético, então, engavetou os planos para a capital da RDA.

8. Fugas para Berlim Ocidental ajudaram o governo da RDA a decidir pela barreira: Mesmo com controles cada vez mais rígidos, o número de pessoas que atravessavam da zona soviética para a zona controlada pelos capitalistas só aumentava. Em maio de 1961 (ano da construção do Muro), 17.791 haviam fugido para o oeste; em junho, 19.198; só nas duas primeiras semanas de julho, 12.578. Até o fechamento da fronteira, o número total superava 870 mil.

9. “Ninguém pretende construir um Muro”: Walter Ulbricht ficou famoso por essa frase, dita durante uma entrevista coletiva à imprensa em 15 de junho. Na conversa com os jornalistas, ele havia deixado claro que, assim que Berlim saísse do controle das forças de ocupação, o SED assumiria o controle de todas as rotas aéreas e terrestres que tivessem como origem ou destino a capital Oriental.

Na entrevista, uma repórter do jornal Frankfurter Rundschau, da Alemanha Ocidental, perguntou a UIbricht: “Em sua opinião, a criação de uma cidade livre [no caso, Berlim sem ocupação] significa que a fronteira do Estado ficará no Portão de Brandemburgo?” O líder alemão oriental respondeu:
“Depreendo de sua pergunta que existem na Alemanha Ocidental pessoas que gostariam que mobilizássemos operários da RDA para construir um muro. Não tenho conhecimento de qualquer intenção neste sentido. Os operários da construção civil em nosso país estão ocupados principalmente na construção de casas, e suas forças são completamente consumidas nesta tarefa. Ninguém pretende construir um muro.”

10. Barreira foi construída de um dia para o outro: 1 hora da manhã, 13 de agosto de 1961, domingo: sob o comando do então secretário de Segurança do Comitê Central do SED e futuro líder da Alemanha Oriental, Erich Honecker, soldados foram posicionados a cada dois metros ao longo de toda a fronteira interna de Berlim. Enquanto isso, outras tropas cercavam a parte ocidental com arame farpado e mais bloqueios. A iluminação nas ruas próximas foi desligada enquanto o trabalho era feito.

Segundo o historiador Frederick Taylor, 68 dos 81 pontos de cruzamento entre as zonas soviética e as outras foram fechadas, além das 193 ruas que atravessavam as fronteiras. Linhas de metrô (U-Bahn) e de trem (S-Bahn) foram interrompidas.

Às 6h, Berlim amanhecia fisicamente dividida.

11. Nem o prefeito de Berlim sabia do fechamento da fronteira: A construção da barreira física pegou todo mundo de surpresa: Washington, Londres, Paris, Bonn e… o então prefeito de Berlim, Willy Brandt. No dia anterior, de forma quase premonitória, Brandt havia feito um discurso em Nuremberg, ao sul da Alemanha Ocidental, durante a campanha eleitoral para a chancelaria do país (cargo para o qual era candidato). O político disse, se referindo ao número de pessoas que fugiam da porção oriental:

“Eles temem que as malhas da cortina de ferro se fechem definitivamente. Pois receiam ser encarcerados numa enorme prisão. Pois sentem a terrível angústia de que venham a ser esquecidos, descartados, sacrificados no altar da indiferença e das oportunidades perdidas…”

Após o discurso, Brandt pegou um trem noturno para a cidade de Kiel, ao norte. Às 5h da manhã, ele foi acordado com uma mensagem urgente do chefe de gabinete: o Leste estava fechando a fronteira. O prefeito estava de volta a Berlim já na hora do café da manhã.

13. EUA, França e Reino Unido evitaram confronto: Recebida até com certo alívio pelos Estados Unidos, a notícia da divisão da cidade provocou menos reações das forças dos países capitalistas do que esperava o prefeito Brandt. A cidade tinha um mandatário, mas eram os comandantes militares das potências de ocupação que ditavam os rumos. Brandt foi ao encontro da Kommandatura (como era chamado o grupo, sem representante soviético desde 1948) para discutir a situação e saiu decepcionado: por mais que eles estivessem solidários, só decidiram mandar patrulhas adicionais para as fronteiras após a reunião.

Além disso, forças de segurança dos três países afastaram berlinenses ocidentais que tentavam ajudar orientais a ultrapassar a recém-construída barreira.

Aconteceu, após a construção, um reforço na presença de tropas em Berlim, mas não houve uma reação militar de nenhum membro da aliança.

14. Muro dividiu ruas ao meio: Por conta da divisão estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, havia determinadas ruas em que a zona soviética, por exemplo, terminava literalmente no meio da pista. Com a construção da barreira física entre as áreas, vizinhos foram, de repente, separados e impedidos de atravessar de um lado para outro.

O caso da Bernauer Straße (rua Bernau), no bairro de Prenzlauer Berg, foi um dos mais notáveis: ela foi partida ao meio. Atualmente, no local há um memorial do Muro.

15. Muro dividiu o metrô ao meio: Além de todos os problemas inerentes à divisão repentina de uma cidade, situações curiosas acabaram sendo criadas. Como dividir o metrô, por exemplo? Havia linhas que saíam de Berlim Ocidental, entravam na RDA e voltavam para o setor dos outros aliados (a linha existe até hoje e liga o norte ao sudeste da cidade). A solução foi fechar as estações de Berlim Oriental sem interromper o tráfego de trens, o que provocou o surgimento de estações fantasma, onde não havia parada. Elas eram fortemente vigiadas e protegidas até quanto a uma possível fuga dos guardas que cuidavam do local.

Algumas estações foram simplesmente muradas por dentro.


Confira a segunda parte da reportagem aqui.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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    1. Achtung! os fascistas são MUITO perigosos.

      Zanchetta, seu picareta, se Cuba não fosse uma ilha, será que haveria a base de Guantánamo? É o único país do mundo que tem base militar de um inimigo declarado. Você é tão inocente quanto uma virgem  no meio de uma suruba num prostíbulo. Vade retro, bafo de Bode!

  1. O comunismo conseguiu

    O comunismo conseguiu subverter a ordem murística.

    Os muros são normalmente construído por alguma pessoa, governo, país para impedir a entrada de indesejáveis.

    No comunismo se constróem muros para impedir a SAÍDA dos seus próprios cidadãos…algo como uma PRISÃO.

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