NEGÓCIOS DE FAMÍLIA

Esse último episódio, agora, envolvendo a quebra de sigilo da filha de José Serra é impressionante. A receita federal já apurou a existência de uma quadrilha que vende informações, vende o sigilo fiscal, até mesmo a declaração completa de imposto de renda.

II
Há alguns anos, na compra de bilhetes pela internet, na Gol, tive problemas. Na hora de fechar a compra, o site não autorizava. Fui me dar conta de que eu escrevia meu primeiro nome corretamente, com “s”. O site da Gol, no entanto, só aceitava com “z”. E, de fato, meu CPF tinha meu nome grafado errado. Tive que acertar meu CPF na Receita, tirado quando eu tinha 15 anos e entrava no meu terceiro emprego. Mas a questão é: como é que a Gol tinha a listagem do CPF dos clientes? Como é que hoje, todo mundo tem? Esses dados estão aí, disponíveis? É só fazer um “download” no site da Receita e podemos acessar os números de CPF de todos? Não sei como isso funciona.

III
Alguns já vinham falando de “bala de prata” para atingir Dilma. Seria detonada agora, no final da campanha. E aparece essa história da filha de José Serra, com direito a José Serra esbravejar na televisão. Ele mesmo, o símbolo do tucanato, o que repudia FHC, o que elogia Lula, o que mostra fotos com Lula e inclui Lula no gingle, agora resolve ter um rompante de oposição. É o desespero de José Serra e de um tucanato que está sendo escorraçado do País.

IV
E a mocinha, a filha de Serra? É Verônica Allende Serra. Era sócia de Verônica Dantas Rodemburg, irmã de Daniel Dantas – ele mesmo, o banqueiro chamado de “brilhante” por FHC e “gênio” por ACM, o grande beneficiário das privatizações da era FHC. A sociedade era em uma empresa em Miami, a “Decidir.com, Inc”.

V
Ou seja, houve vínculo de negócios entre a filha de Serra e a irmã de Daniel Dantas, que trabalha com Daniel Dantas – o banqueiro beneficiário de dois habeas corpus, em 48 horas, no STF. A empresa da qual a filha de Serra foi sócia trazia em sua página eletrônica a propaganda: “a oportunidade certa para se tornar um fornecedor do Estado”. Muito interessante, em se tratando da empresa da filha de um governador de Estado. Mais interessante ainda porque se deu em sociedade com a irmã do banqueiro Daniel Dantas.

VI
Por que toda a gritaria? O assunto é velhíssimo. Tão velho quanto a citação de Gregório Preciado. Esse senhor é casado com uma prima de José Serra. E foi sócio de Serra em um terreno no Morumbi, em São Paulo. E esse senhor foi procurador da Iberdrola, empresa espanhola que participou das privatizações. E, naquela época, era Diretor da Previ o Sr. Ricardo Sérgio, conhecido por sua frase “no limite da irresponsabilidade”. Esses dois senhores, agora, estão na lista do que tiveram seus sigilos fiscais quebrados.

VII
O curioso é: esse tema é recorrente. E já foi demonstrado como surgiu: foi a partir do jornal O Estado de Minas. Segundo o que já foi publicado, aquele jornal apóia Aécio Neves. E, preocupado com o que parecia ser um ataque orquestrado de Serra a Aécio, o jornal contratou o jornalista Amaury Ribeiro, que fez diversos levantamentos. Assim é a introdução do livro, ainda não lançado, de Amaury Ribeiro – e que já transcrevi anteriormente aqui no blog –

“Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.
Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil … ”

VIII
Pois bem: foi dito, mais uma vez, que o livro será lançado imediatamente. O autor, no entanto, já desmentiu. Disse que não quer o livro no bojo da campanha eleitoral para que não seja apenas um “sucesso de campanha”. Quer que seja perene.

IX
Mas o assunto ressurgiu. E serviu para que Serra acusasse diretamente Dilma, de forma leviana, de forma irresponsável. Serra e seus desespero, Serra e seu abandono. Serra, que sequer é defendido por FHC, por Alckmin, por Arthur Virgílio. Serra, o que foi abandonado. E Serra, aquele que implodiu a campanha de Rosena Sarney em 2002 a partir de operação da PF.

X
O mesmo Serra que, irritado com uma pergunta do conservador Heródoto Barbeiro, mandou retirá-lo da apresentação do programa Roda Viva, na TV Cultura. O mesmo Serra conhecido por ligar para redações e pedir a demissão de jornalistas, conforme denuncia Luís Nassif.

XI
Pois é o mesmo Serra que, agora, diz que foi perseguido. Não foi. Se houve quebra de sigilo, há, sim, crime. Mas não se trata de crime contra Serra, mas um crime cotidiano, praticado dentro da Receita Federal contra muita gente. Uma jogada suja, utlizada, agora, por Serra para fazer acusações absurdas. É quadrilha especializada em vender informações, e que existe há muito tempo.

XII
É a velha UDN golpista. Serra esteve, há pouco, no clube militar do Rio de Janeiro fazendo sua pregação golpista. Já foi colocado como candidato da Globo, dos conservadores. A imprensa toda manipula em favor de Serra. Mesmo assim, sua candidatura desaba. E aí resolve recorrer a golpes cotidianos. Agora, tenta transformar o envolvimento de sua filha com a irmã de Daniel Dantas em um caso envolvendo “vítimas familiares”. Não há vítimas. Há negociantes que estão sendo expostos em suas ligações e em seus negócios.

Redação

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