Oportunismo contra o pré-sal, por Carlos Tautz

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Agora, os conglomerados da comunicação se aproveitam da Lava Jato para defender a mudança do sistema de partilha na exploração das megareservas do pré-sal – aliás, como fizera Aécio. Argumentam que a Petrobras, atingida pelas denúncias, deveria ser escanteada do pré-sal porque os mercados internacionais não lhe emprestariam os bilhões de dólares necessários para explorá-lo. Continuam, dizendo que a queda dos preços do petróleo afogaria as pretensões da estatal.
 
Estes são argumentos “técnicos” de qualquer botequim barato em Irajá.
    
Petroleiras operam sob riscos extremos e continuam a tomar empréstimos. Principalmente aquelas que, como a Petrobras, têm reservas imensas (16 bilhões de barris, numa estimativa conservadora) e podem dar garantia aos bancos.
    
Riscos são inerentes à indústria do petróleo, que causam gravíssimos desastres no meio ambiente e por isso têm os seguros mais caros. E mudanças nos preços de mercado são frequentes. Primeiro, porque os EUA, maior consumidor mundial, estão sempre dispostos a invadir algum país produtor, o que faz disparar as cotações. E, também, devido à variação de preços imposta pela Opep, o cartel dos grandes produtores.
       
A Petrobras leva em conta esses riscos. Mas, de fato, precisa incorporar as perdas decorrentes das muito necessárias investigações, que ainda precisam alcançar todas empreiteiras. A Odebrecht, a maior delas, ainda está ilesa. E os políticos envolvidos do PSDB e do DEM continuam protegidos pelos conglomerados de comunicação.
       
Já era previsto que o faturamento da Petrobras cairia. Conforme o engenheiro Paulo Metri, “há um quadro de superprodução de petróleo no mundo, com a concomitante diminuição da demanda, o que acarreta a queda no preço do barril. Assim, o barril, que custava US$ 115, durante o conflito no Iraque, passou a custar US$ 85, em outubro último, e existe a perspectiva que irá decrescer mais ainda.
 
A  Agência Internacional de Energia, após a quarta redução da projeção do consumo de petróleo para 2014, chegou à média anual de 92,4 milhões de barris por dia (MM bpd) e a oferta em setembro deste ano foi de 93,8 MM bpd”.
       
Na segunda (15), o barril fechou a 61 dólares. A Petrobras o estima em 60.
       
Outra estranheza é a repentina crise ética da PriceWaterhouseCoopers em firmar a auditoria na estatal. Há quase uma década audita as contas da petroleira e nunca se negou a prestar o serviço. Se só agora viu irregularidades, demonstra inépcia.
       
A Petrobras sempre sofreu coisas do tipo. Ainda mais quando se tornou partícipe obrigatório no modelo de partilha do pré-sal – como o fazem todos os países com megareservas facilmente encontráveis.
       
Não espanta, portanto, o oportunismo. Fizeram o mesmo quando Getúlio criou a Petrobras e Jango encampou refinarias.
       
Estranha mesmo é a leniência de Dilma e do PT em revidar no mesmo tom.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Popularidade vai e vem. Vejam

    Popularidade vai e vem. Vejam a Dilma. A da Petrobras logo logo vai subir novamente. E sem propaganda com a gloebels.

  2. Leniência do governo federal

    Nassif,

    ” Estranha mesmo é a leniência de Dilma e do PT em revidar no mesmo tom”. Isto.

    Em sendo assnto a leniência deste governo, ao menos uma notícia boa, a partir do 247, a de que Jaques Wagner recusou a pasta da Justiça.

    Se é verdadeira, logo sairá daquela cadeira o extremamente omisso e fraco JECardozo, cuja última “atuação”, a de abanar a cabeça para o PGR para, logo em seguida, levar um tranco de DR e ser obrigado a vir a público dar pronunciamento sobre o que nem deve saber do que se trata. É um boneco, um Múcio.  

  3. Intelectualidade de Irajá

    Epa, Carlos Tautz, Irajá tem uma elite intelectual despojada que frequenta botequins baratos do bairro! Baratos, mas estilosos. Jamais cometeriam argumentos coxinhas como este que você atribuiu à turma de Irajá. Gente que pensa assim, você encontra nos bares de Ipanema ou Jardins (Jardins tem bar?), não em Irajá. Abço.

  4. As possibilidades sobre o que

    As possibilidades sobre o que está acontecendo no mundo são duas.A Arabia Saudita resolveu inundar o mundo com óleo, num momento de contração de demanda para:

    A)  quebrar a incipiente produção de Xisto.

    B) quebrar a Rússia. O Brasil seria apenas um bonus.

     

    Escolha a sua!

    1. A Arabia Saudita NÃO está

      A Arabia Saudita NÃO está inundando o mundo de petroleo, ela MANTEM a mesma produção de 8,1 milhão de barris dia contra os outro membros da OPEP, especialmente Irã e Venezuela, que queriam que os sauditas CORTASSEM a produção para forçar a alta. O fato da Arabia MANTER a oferta, enquanto a demanda caiu no mundo por conta da crise economica e do xisto americano, derrubou as cotações no mercado futuro, que é a base referencial do preço. A Arabia Saudita pode produzir mais 2 milhões de barris dia simplesmente abrindo mais as valvulas mas eles não estão fazendo isso.

      1.  
        Eu sei que é difícil VC

         

        Eu sei que é difícil VC visualizar mas vou tentar TE explicar.

        Ao MANTER sua produção enquanto outros REDUZEM, o país AUMENTOU sua produção relativa. Simplesmente tem um percentual MAIOR de produção no MUNDO.

  5. parece evidente esse

    parece evidente esse oportunismo da oposição e seu cohecido conluio

    com alguns membros do judiciário e da grande mídia sempre

    golpista pra privatixar a petrobrás.

  6. Outra interpretação baseada em dados.

    Para se falar em petróleo tem que se pensar no recurso natural Petróleo (óbvio, é claro) e muitas pessoas começam a falar e dissertar esquecendo-se do básico, as reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL das grandes petroleiras e a posição de cada uma no mercado internacional.

    Todos sabem que o mercado mais Mafioso do Mundo, ultrapassando mesmo a construção civil (esta é mais mafiosa em microescala), é o mercado do petróleo e todos sabem também que a maior de todas as empresas é a Exxon Mobil, porém talvez não seja conhecimento que esta grande empresa não está tão bem assim quanto às reservas comprovadas de petróleo CONVENCIONAL, só para começar o assunto vou enumerar de acordo com um artigo bem recente 15/12/2014 de Paul Ausick denominado The World’s Top 10 Oil Companies onde o mesmo cita as dez empresas privadas (a Petrobrás é tida como tal no mercado norte-americano) com maiores reservas comprovadas de petróleo. Ele não coloca nesta lista as reservas que estão nas mãos dos sheiks árabes.

    1. Exxon Mobil

     Proved Oil Reserves: 11.76 billion barrels

     2013 Oil Production: 709 million barrels

     Enterprise Value: $401.5 billion

     Revenues: $392.843 billion

     Net Profit: $34.3 billion

    2. Petrobras

     Proved Oil Reserves: 11.04 billion barrels

     2013 Oil Production: 715.4 million barrels

     Enterprise Value: $142.534 billion

     Revenues: $146.297 billion

     Net Profit: $9.083 billion

    3. PetroChina

     Proved Oil Reserves: 11.314 billion barrels

     2013 Oil Production: 932.9 million barrels

     Enterprise Value: $362.749 billion

     Revenues: $379.553 billion

     Net Profit: $21.236 billion

    4. BP

     Proved Oil Reserves: 10.07 billion barrels

     2013 Oil Production: 733 million barrels

     Enterprise Value: $133.556 billion

     Revenues: $373.783 billion

     Net Profit: $9.229 billion

    5. Royal Dutch Shell

     Proved Oil Reserves: 6.621 billion barrels

     2013 Oil Production: 564 million barrels

     Enterprise Value: $222.906 billion

     Revenues: $437.974 billion

     Net Profit: $16.06 billion

    6. Chevron

     Proved Oil Reserves: 6.345 billion barrels

     2013 Oil Production: 632 million barrels

     Enterprise Value: $210.71 billion

     Revenues: $204.024 billion

     Net Profit: $20.7 billion

    7. Total

     Proved Oil Reserves: 5.413 billion barrels

     2013 Oil Production: 426 million barrels

     Enterprise Value: $149.675 billion

     Revenues: $212.723 billion

     Net Profit: $11.56 billion

    8. Suncor Energy

     Proved Oil Reserves: 4.372 billion barrels

     2013 Oil Production: 193 million barrels

     Enterprise Value: $46.665 billion

     Revenues: $36.475 billion

     Net Profit: $2.735 billion

    9. ConocoPhillips

     Proved Oil Reserves: 4.779 billion barrels

     2013 Oil Production: 258 million barrels

     Enterprise Value: $94.09 billion

     Revenues: $57.461 billion

     Net Profit: $9.395 billion

    10. Canadian Natural Resources

     Proved Oil Reserves: 3.513 billion barrels

     2013 Oil Production: 151 million barrels

     Enterprise Value: $44.24 billion

     Revenues: $16.482 billion

     Net Profit: $2.812 billion

    Olhando os dados desta listinha chega-se a conclusões notáveis, tais como:

    1)      Sem ainda uma nova rodada do Pré-sal as reservas comprovadas em mãos da Petrobrás chegam bem próximas as reservas comprovadas da Exxon Mobil, ultrapassando as gigantes BP, Shell, Chevron e Total (empresas como a italiana AGIP nem está nesta lista).

    2)      Que o valor de mercado muitas vezes não corresponde diretamente aos lucros das mesmas ou das reservas comprovadas.

    Alguém precipitadamente pode atribuir aos grandes lucros da Exxon Mobil e outras empresas em relação as suas reservas comprovadas a uma melhor capacidade gerencial, ou dizer ao contrário, que o lucro da Petrobrás em relação às outras é baixo devido aos desmandos na mesma. Porém estas afirmações podem ser facilmente rebatidas.

    Empresas como a Exxon Mobil, a BP, a Shell e a Chevron tem grande parte de suas explorações em países como o Iraque ou a Líbia, bem como a participação na Arábia Saudita, Kuwait e outros emirados, ou seja, apesar das reservas não serem suas o lucro da operação e comercialização provém de reservas de terceiros.

    Esta participação das grandes empresas petroleiras em países como o Iraque, Líbia e mesmo nos mais estável Arábia Saudita, o Kuwait e demais emirados (não se sabe até quando), estão sujeitas aos humores políticos locais e do próprio governo norte-americano.

    Antes da revolução Iraniana, da intervenção no Iraque as reservas das grandes empresas de petróleo eram imensas, e mesmo na época do Kadafi na Líbia grandes contratos de produção de petróleo já estavam sendo negociados entre o governo Líbio e as grandes empresas. Logo o que podemos dizer que diferentemente do que a imensa maioria da imprensa e o senso comum de pessoas informadas, as peripécias e o apoio incondicional dos Estados Unidos tem sido um verdadeiro desastre para as grandes petroleiras. Ou seja, as intervenções diretas ou indiretas do governo norte-americano tem prejudicado mais as petroleiras do que auxilia-las.

    Porém se considerarmos somente este cenário, podemos rapidamente concluir que as reservas do pré-sal são a cereja do bolo e o bônus central das grandes irmãs, porém aí entra em jogo outro fator, o petróleo de folhelho (conhecido pela massa como o petróleo de xisto, um imenso erro de notação!).

    Talvez a leitura da publicação US oil and gas reserves study – 2014 de uma pista mais forte do principal objetivo do petróleo a preço baixo. Esta publicação baseada nos dados da United States Securities and Exchange Commission (SEC) mostra o estado das reservas comprovadas nos USA CONVENCIONAIS e NÃO CONVENCIONAIS, e o principal a evolução dessas reservas nos últimos anos por companhia e grupos de companhias.

    Neste relatório além dos dados individuais as companhias de petróleo são divididas em três grandes grupos, as Integrateds (numa tradução grosseira, as integradas) que são as maiores que aparecem acima (BP, Chevron, Exxon Mobil, Hess e Shell), as Large independents (as grandes independentes) e as Independents (independentes), nessas últimas aparecem a Conoco-Phillips já colocada entre as maiores do mundo.

    Pois se analisando este relatório, alguns dados saltam logo a vista, a progressão em termos de aumento de reservas destes grandes grupos e o custo de extração dos mesmos.

    Olhando os diversos dados deste relatório se verifica várias coisas, primeiro que a taxa de reposição das reservas dos grandes e pequenos independentes é significativamente maior do que a reposição das Integradas. Das reservas comprovadas norte americanas que passaram de 16,7 bilhões de barris em 2009 para 25,4 bilhões de barris em 2013, apesar da Exxon Mobil possuir 2,3 bilhões de barris, as reservas das Integradas simplesmente estão estabilizadas em níveis de 2009 (mesmo com um leve declínio). Por outro lado, como as reservas das Integradas provém a maior parte de campos tradicionais de petróleo os custos das mesmas na extração são significativamente mais baixos.

    Agora vamos à conclusão, a queda do preço do petróleo no mercado mundial, que é tão artificial quanto à alta que ocorreu em 2008, ela num primeiro momento serviu para que a produção do petróleo norte-americano aumentasse assustadoramente através da exploração do petróleo não convencional, serviu para que a economia norte-americana gerasse milhões de empregos bem remunerados na indústria do petróleo do fracking e tirasse os Estados Unidos da recessão (Vocês acham que o que tirou os Estados Unidos da recessão foi baixar a taxa de juros de 2% para 0,5%? Se acham reformulem suas convicções.), e também serviu (como dano colateral) para reforçar as economias da Rússia e Venezuela e baixar o status das grandes petroleiras.

    A atual política de preços baixos visa principalmente em fazer voltar ao mercado as grandes, e retirar do mercado a imensa maioria de pigmeus (pigmeus, para o mercado de petróleo) que estão devidamente endividadas e com custos altos de produção. O resto, como a Rússia, Irã, Venezuela e Petrobrás é tudo bônus extra.

  7. Um cenário de extrema volatilidade.

    A expectativa de queda do consumo explica a atual queda dos preços do petróleo e é uma notícia má, significa que o mundo avança na recessão, tal como se deu em 2008.

    Nos últimos seis anos, todo o incremento da extração mundial de petróleo pode ser explicado, pelo crescimento de fontes não convencionais de petróleo do Canadá e EUA, respectivamente, das areias betuminosas e das rochas compactas de xisto (tight-oil).Também houve crescimento da exploração em águas profundas, que pode ser considerado uma fonte não convencional devido aos custos exorbitantes, enquanto houve recuo das fontes convencionais, que em resumo são os óleos não pesados extraídos em terra ou águas relativamente rasas (<500m), os petróleos de regiões polares estão fora destes.

    O crescimento do consumo, no mesmo período, pode ser explicado basicamente pela demanda da Ásia, com a China e a Índia a frente. Houve crescimento do consumo também nos países exportadores de petróleo, Rússia e Oriente Médio, enquanto o consumo encolheu na Europa e EUA. A expectativa de queda do consumo é um sinal de uma esperada recessão na Ásia, leia-se China, ou de agravamento da recessão na Europa, não é boa notícia.

    A queda do preço afetará a extração de fontes não convencionais, águas profundas inclusas, leia-se pré-Sal. Se a queda da demanda for menor do que a oferta dos petróleos não convencionais, então teremos a volta dos preços altos para retornar tal produção, se for maior, tais fontes colapsarão. Atravessamos hoje no mundo um platô de máxima produção de petróleo, as fontes de petróleo convencional estão em declínio geral, a presença de fontes não convencionais é cada vez mais necessária para cobrir a demanda, mas sem preço adequadamente alto, o petróleo não convencional não sobrevive.

    O previsível é um cenário de extrema volatilidade, com patamares cada vez mais altos de preços, enquanto estivermos nesse platô, depois dele, provavelmente na próxima década, teremos declínio geral na extração de petróleo, convencionais e não convencionais, com preços mais elevados ainda. Será o declínio do petróleo e da civilização industrial baseada nele, uma época de decrescimento econômico impositivo pelos limites físicos da natureza, é urgente que nos preparemos para isso. Não será o fim do mundo, mas o fim desse mundo que conhecemos, teremos de mudar os paradigmas impostos pela civilização industrial.

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