Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Paralelo ao Governo de Transição, PMiG deixa no modo de espera Exército Psíquico de Reserva, por Wilson Ferreira

Porque eles têm que ser mantidos em “stand by”: é o Exército Psíquico de Reserva. No passado, estava na Deep Web. Agora, dá as caras à luz do dia

Paralelo ao Governo de Transição, PMiG deixa no modo de espera Exército Psíquico de Reserva

por Wilson Roberto Vieira Ferreira

Todos sabem que não haverá golpe. Para o PMiG (Partido Militar Golpista) já é página virada e para a grande mídia foi a “festa da democracia”. Todos sabem… menos os fanáticos enrolados na bandeira nacional chorando e orando em voz alta diante de quartéis pelo país. Outros, tentam bloquear estradas, como fanáticos milenaristas à espera da salvação. Porém os “apitos de cachorro” dizem o contrário, elevando o moral da patuleia. Porque eles têm que ser mantidos em “stand by”: é o Exército Psíquico de Reserva. No passado, estava na Deep Web. Agora, dá as caras à luz do dia, com apoio logístico empresarial. Entrarão em “hibernação”, no modo de espera. Para serem novamente acionados por cripto-comandos em futuras guerras híbridas. Que parecem não estar muito distantes, depois do fim da lua de mel após o inflamado discurso de Lula no Governo de Transição.

Desde o primeiro dia do atual governo que termina, a cada bravata com jornalistas, a cada postagem nas redes sociais e a cada final de semana em que se juntava a turbas que jogavam rojões contra o STF, o atual “pato manco” do Palácio do Planalto performava o script da “tensão entre os poderes”, da “corda que esticava”, “manifesto do apocalipse” e outras tantas expressões ameaçadoras. Ou seja, de que a qualquer momento, o chefe do Executivo poderia, junto com a cúpula das Forças Armadas, desfechar um golpe de Estado com “um soldado e um cabo”.

Deliberadamente, Bolsonaro e as FFAA realizavam semanalmente a coreografia da suposta proximidade de um golpe militar “old school”, com Congresso fechado e tanques e soldados nas ruas. 

Como este Cinegnose sempre observou em todos esses anos, uma ação coreografada com quatro objetivos: (a) alimentar o moral das turbas verde-amarelas das ruas, apoio ideológico ao “mito”; (b) criar paralisia estratégica da esquerda; (c) apagar as digitais do golpe militar híbrido que já tinha ocorrido, resultando num governo de ocupação militar e aparelhamento das instituições do Estado (como bem observamos na ação da PRF, bloqueando eleitores de Lula nas estradas do Nordeste); (d) com o blefe da “tensão entre os poderes”, acovardar STF e STE que acompanharam, passivos, Bolsonaro atropelar a legislação eleitoral ao utilizar eleitoralmente a máquina do Estado.

Com o objetivo (d), foi alcançado o principal objetivo, não só de Bolsonaro e PMiG (Partido Militar Golpista), mas também da mídia hegemônica: NÃO permitir a vitória de Lula no primeiro turno para arrastá-lo a duas consequências: (1) perder capital político, (2) desidratar o PT, obrigando Lula a se transformar numa espécie de guarda-chuva sob o qual  tentariam se acomodar diversas alianças – e para a grande mídia, a possibilidade da chantagem permanente como porta-voz dos operadores de mesa da Faria Lima.

 Com o objetivo (c), deixa uma casca de banana ou um abacaxi (dependendo do desfecho): desaparelhar e desmilitarizar as instituições do Estado – o que, mais uma vez, apaga as digitais do golpe militar híbrido, podendo reverter em desgaste político ou “melindres” para o governo Lula.

Com o objetivo (b), a paralisia estratégia da esquerda (que ainda continua com o medo de ainda haver possiblidade de golpe com as paralisações nas estradas, lockout de empresários bolsonaristas etc.) fez o PT ser docilmente conduzido ao desfecho de um movimento que já havia começado com o distanciamento dos movimentos sociais ao se transformar em Partido-Estado: enquadramento do antagonismo ao neoliberalismo e financismo – como visto após o discurso inflamado de Lula no governo de transição: policiamento da grande mídia e a chantagem da Bolsa e operadores cambiais.

Mas o que o governo Lula 3.0 deve estar bem atento, no aspecto político-comunicacional, é a continuidade das ações do PMiG para atingir o objetivo (a). 

Tudo começou com as 48 horas de silêncio do presidente derrotado. Quando apareceu, o seu discurso ambíguo sobre a legitimidades das “manifestações populares”. E, por fim, o também ambíguo relatório final do PMiG sobre as urnas eletrônicas: não apontaram fraude nessa eleição, mas, por outro lado, as urnas poderiam ser sujeitas a fraudes porque o teste d integridade “foi insuficiente”. Além dos generais dizerem que “não tiveram acesso ao sistema de controle de versões do código-fonte, o que inviabilizou, segundo eles, a comparação da versão do código que foi para as urnas com a versão analisada.

A divulgação do relatório foi deliberadamente usada para manter os manifestantes nas ruas e de fronte dos quartéis pedindo o golpe militar.

Num primeiro momento, os vídeos, imagens e relatos sobre essas manifestações provocam vergonha alheia pelo ridículo: tal como no Muro das Lamentações de Jerusalém, bolsomínios, com a bandeira brasileira como uma capa de super-herói nas costas, põem as mãos nas paredes, oram em voz alta ou ficam prostrados de joelhos nos muros de quartéis ou diante de igrejas; manifestantes marcham em “passo de ganso”, quem sabe tentando atrair a simpatia dos milicos dentro dos muros; muitos choram copiosamente.

Exército Psíquico de Reserva

Mas todos esses eventos como em Porto Alegre (Comando Militar Sul), São Paulo (Comando Militar Sudeste), Rio de Janeiro (Comando Militar Leste) ou a frota de 100 caminhões tentando fechar Brasília contam com uma notável infraestrutura: caminhões de som tocando hinos cívicos, faixas e cartazes com arte bem-acabada e padronizadas nas fontes e cores utilizadas, distribuição de água, banheiros químicos, comida e um eficiente sistema de provisionamento e abastecimento.

Só agora os ministros do TSE e STF falam em “indícios” de apoio de empresários – dentro da sua costumeira procrastinação e pusilanimidade – ver objetivo (d).

Porém, Bolsonaro e PMiG sabem que não haverá golpe e que tudo já é página virada – afinal, como vimos em postagem anterior, Joe Biden não quer mais golpes em seu quintal: na América Latina, os países não podem ser livres nem para dar golpe em si mesmos – clique aqui.

Todos sabem disso, menos a malta de fanáticos em verde-amarelo, bem alimentada e hidratada por empresários. Nesse momento esse é o objetivo principal do consórcio PMiG, grande mídia e operadores da Faria Lima: manter em atividade, ou com a chama da realidade paralela acesa, o Exército Psíquico de Reserva. Continuar sinalizando os apitos de cachorro: agora, acionado pelo clã Bolsonaro. No futuro, a grande mídia – como foi nos anos de jornalismo de guerra.

Por Exército Psíquico de Reserva entendemos como um exército de zumbis (aqui, o Brasil Profundo) que sempre está à disposição à espera de cripto-comandos ou a oferta de significantes políticos (slogans, líderes políticos, “mitos” etc.) para aglutinar ressentimento e ódio, matéria-prima da alt-right desde o laboratório do Brexit.

No passado, esse Exército Psíquico de Reserva era buscado na Deep Web em fóruns e chans a partir de cripto-comandos em videogames ou discursos político de extrema-direita: Incels (Celibatários Involuntários), Hominis Sanctus, PUA (Pick-up Artists) e uma variedade de grupelhos de compartilhavam pseudociência e teorias de conspiração alucinadas.

Continue lendo no Cinegnose.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. No meu homilde modo de ver, essas manifestações anti-democráticas são inconstitucionais e, portanto, criminosas. Ora, a Constituição de 88 dispõe no seu art. 1º, que:

    “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO”.

    Ora, ao exigir que a decisão da maioria do eleitorado seja desrespeitada, está a se atentar contra o estado democrático de direito aludido no art. 1º da Carta Magna.

    Há dois anos, o Ministro do STF, Sr. Gilmar Mendes, dizia:

    “A mim me parece que isso precisa ficar muito claro. Manifestações antidemocráticas elas não apenas são inconstitucionais, mas elas se revelam criminosas e elas têm que ser repudiadas e punidas” e que “estão se valendo da liberdade de reunião para cometer atos que vão contra o texto constitucional”.

    Quem financia esses desocupados, inocentes inúteis, a serviço do bozofascismo?

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