Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Piração geral ou é normal?, por Francisco Celso Calmon

Devagar com o santo eleitorado porque o andor é de barro mesmo. Não é hora de provocar frisson na frente de esquerda, com a qual terá mais do que nunca contar no institucional e no social para respaldar o governo.

Piração geral ou é normal?

por Francisco Celso Calmon

No período que vai se aproximando das festas natalinas, férias escolares e recessos do Legislativo e do Judiciário ocorre na política um certo secretismo e contenção de informações, e costuma durar até depois do carnaval. As articulações de cúpula se dão no silêncio e cuidam de não haver vazamento. É a ocasião em que as especulações correm à solta.

Algumas especulações ultrapassam o limite da imaginação sensata.

Esta semana, na qual a esquerda lembrou homenageando o revolucionário Carlos Marighella, assassinado no dia 4 de novembro de 1969, em São Paulo; neste mesmo dia, ao cair da tarde eu e mais duas companheiras éramos sequestrados e encarcerados no Doi-Codi da Barão de Mesquita no Rio de Janeiro; também nesta semana surgiram notícias e sugestões motivantes de algum comentário.  

A mais estranha foi a de imaginar Geraldo Alckmin como vice do Lula. Um político que já teve a sua ascensão, particularmente em São Paulo, mas atualmente está em descenso e vem sendo constrangido a sair de partido, PSDB, do qual é (era) um dos próceres, para o PSB, partido ainda considerado de esquerda. Ou seja: um político conservador que perdeu a liderança de seu antigo partido e será cristão novo no Partido Socialista Brasileiro, agregaria eleitoralmente o quê? Quantos deputados ou senadores comprometidos com a democracia seriam de sua influência?

Por outro ângulo, seria imediatamente associada à lembrança do traidor Temer, vice da Dilma.  Com certeza causaria mais estragos na frente de esquerda. Seria esse o preço para Lula trazer a direita para essa frente e ser argamassa para aquietar o mercado?

Devagar com o santo eleitorado porque o andor é de barro mesmo. Não é hora de provocar frisson na frente de esquerda, com a qual terá mais do que nunca contar no institucional e no social para respaldar o governo. Não será com o modelo da Dilma pelo kit Levi (mercado), que a governabilidade estará garantida.

Se o objetivo fora colocá-lo num balão de ensaio, penso que ficou mais como uma piração. Contudo, como em São Paulo tem Tiririca (não o palhaço, o político), Éneas e outras bizarrices, tudo é possível na cocheira, vamos aguardar se prospera ou já nasceu morto.

Creio que é desnecessário a preocupação excessiva com a chamada terceira via, pois não há possibilidade de Lula estar fora do segundo turno. O povo não costuma apreciar injustiças e a maior parcela da sociedade já está consciente de que ele foi vítima de um golpismo continuado e iniciado no “mensalão”. Trocar o certo pelo duvidoso e imprevisível, também creio que a sociedade aprendeu. O PT com Lula e com a Dilma já enfrentaram nomes da direita e os derrotaram, Serra, Alckmin, Aécio.

Nessa animada semana a mídia ressuscitou os famigerados Moro e Dallagnol, a dupla daquela moribunda Lava Jato mais corrupta do que a corrupção que prometera combater.

Dupla responsável pelo desmantelamento de empresas nacionais em favor de empresas estrangerias. Aquela dupla que a título de combater a corrupção na Petrobras levou a empresa a sua máxima desvalorização e palmilhou o caminho para a privatização de suas subsidiárias e da própria.

Dallagnol é aquele que queria abocanhar 2 bilhões e meio da multa paga pela Petrobrás aos EUA para criar uma fundação que seria a fonte para a entrada dele, do Moro, e demais cúmplices, para a política eleitoral.

Ah, sem esquecer que adquiriu um imóvel do programa “Minha casa, minha vida” para investir, tirando a oportunidade de um necessitado comprar.

É um ambicioso, que faz tudo por dinheiro, sem escrúpulos e transgressor da ética pública. Um biltre perigoso para andar às soltas na enfraquecida democracia, para a qual conspirou às claras e às escuras para implodir. 

Moro, o juiz ladrão, parcial, tecnicamente pueril e desonesto, que vazou áudios e informações para a mídia, a começar por aquela que levou o esperto ministro Gilmar Mendes a impedir que o Lula assumisse a Chefia da Casa Civil do governo da presidenta Dilma, e com isso mudou completamente o rumo da história. É o mesmo que em conluio com Dallagnol e outros procuradores da laja jato, associados a ministros dos tribunais superiores, condenou e encarcerou Lula, para impedir a sua candidatura e até mesmo a aparecer apoiando o seu candidato Fernando Haddad.

Moro é mais do que suspeito de ser um agente a serviço dos interesses dos EUA, não lhe faltará apoio das agências de informação, espionagem e sabotagem daquele país. E Dallagnol o segue como seu amestrado. Os nacionalistas, seja de qualquer matriz ideológica, devem repudiá-los de pronto.

São esses mesmos delinquentes, que desrespeitaram e até tripudiaram do STF, que ainda (?) prestarão contas à Justiça, que traíram as suas carreiras jurídicas, e surgem no noticiário político, e não no policial, com pretensões eleitorais.

As instituições públicas tornaram-se corporativistas e servem de biombo às carreiras políticas de arrivistas.

A arena política será mais uma vez acolhedora de delituosos sabotadores do Estado democrático de direito, corruptos que se passaram por cordeiros moralistas e justiceiros, que solaparam o devido processo legal, a soberania e os interesses nacionais?

Em acontecendo as suas candidaturas e sendo eleitos, estará a revogar, politicamente perante a opinião pública, o julgamento do STF e manifestações de ministros que já os qualificaram como moleques e parciais em suas condutas como agentes da Justiça.

Creio que os militantes e cidadãos lúcidos do estado do Paraná têm o dever, antes de todos os demais brasileiros, de travar já uma eficiente batalha para impedir que as instituições políticas os acolham, antes que a história registre como mais uma derrota da democracia brasileira e mais uma vitória da impunidade.

Prefiro a política os rejeitando do que a Justiça, entretanto, por um ou outro caminho, que sejam levados para a escória da história. 

Para encerrar a semana, o presidencialismo absolutista que tornou natural no Parlamento.

 A CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania), cujo presidente é o “rachadista” senador Davi Alcolumbre, que ainda não marcou a sabatina do terrivelmente evangélico, André Luiz Mendonça, indicado por Bolsonaro para a Corte Suprema, por conta de “turbulências políticas”, segundo justificativa que deu ao STF. Portanto, desde 13 de julho o senador julga que há turbulências na aeronave que comanda e vai tornando a sua obrigação uma moeda de troca. 

Arthur Lira, este está demonstrando ser o mais tergiversador de suas funções e usa de qualquer ardil para conseguir seus objetivos, seja a aprovação de algum projeto de seu interesse, seja deixando de analisar a centena de pedidos de impeachment do presidente, e com tal tirania impede o Senado de cumprir a obrigação de julgar o impeachment, de porteiro de pedidos transforma-se em senhor das graças onipotentes  de  examinar ou não os pedidos, e, sob alegação de que não há clima propício, fica sentado sob mais de 150 de substanciosas peças.  E não para aí, sem ler, já antecipou a sua contrariedade com o relatório da CPI do genocídio.

Nas cortes do Judiciário, também nos deparamos com decisões monocráticas, de teor muitas vezes suspeito de viés político. 

Não está na natureza de um regime democrático tanto poder a um só. Na reconstrução da democracia essas e muitas outras questões cruciais precisarão ser debatidas publicamente e regeneradas.

É questão de tempo, mas uma Assembleia Constituinte será imprescindível para um novo pacto político-social, na perspectiva da construção de uma democracia ampla, geral e irrestrita, sem os aleijões da atual.

O próximo governo será de pacificação e transição, todavia, para as eleições de 2026 a esquerda deve se preparar desde já para construir uma correlação de forças favorável.

Quem sabe não espera acontecer, como versou o poeta.

Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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