Poluição biológica, por Gustavo Gollo

Poluição biológica, por Gustavo Gollo

Um dos gravíssimos problema que vêm sendo criados em nosso tempo apresenta-se sob a forma tenebrosa das bactérias super-resistentes a antibióticos. A gênese do problema é bem conhecida: o uso abusivo de antibióticos.

A dinâmica resultante na criação de bactérias super-resistentes é muito simples e compreendida há muitas décadas: a aplicação de antibióticos elimina as bactérias mais suscetíveis ao tratamento, permitindo que apenas as mais resistentes, em cada geração, contribuam para a gênese da geração seguinte. O processo continuado resulta no surgimento de bactérias cada vez mais resistentes ao tratamento. Fazendas de criação de animais costumam adotar a prática de aplicação profilática de antibióticos, procedimento sob medida para o agravamento do problema, que se soma a outras causas para gerar níveis alarmantes de bactérias resistentes a antibióticos encontradas em águas costeiras em inúmeros locais pelo mundo afora. A constatação dessa contaminação, que pode ser caracterizada como poluição biológica, suscitou um estudo efetuado com surfistas britânicos, constatando uma taxa de infecção intestinal por bactérias super-resistentes 3 vezes maior, entre eles, que em outras pessoas, provavelmente devido à ingestão frequente de água do mar.

O paradoxo do lucro

Lucro é bom, é algo que todos desejam, o que sugere que apenas pessoas de má índole queiram cercear lucros.

Atividades vastamente lucrativas, costumam causar problemas secundários, danos colaterais. O paradoxo consiste no fato de que a solução de tais problemas trará lucro para outros, o que parece bom. Assim, de modo geral, a geração de problemas decorrentes de atividades lucrativas acaba tornando-se, ela mesma, uma fonte de lucros, sugerindo não haver problemas em se gerar mais problemas ao buscar lucros.

A dinâmica acima tem governado nosso mundo há décadas. Problemas vão sendo rolados, como bolas de neve, crescendo ano após ano, e tornando-se por isso mesmo, cada vez mais lucrativos, o que parece bom. Virtualmente, todos os problemas ambientais são desta ordem; constituem efeitos colaterais de atividades que geraram enormes lucros em alguma etapa anterior. A solução de tais problemas, ou, mais usualmente, o afastamento do problema para mais longe, gera mais lucros, assim como mais problemas. Os ciclos que pareciam intermináveis, décadas atrás, revelam-se agora descomunais e impossíveis de serem gerenciados.

O acúmulo de plástico, e de lixo, em geral, por todo o planeta, assim como o de CO2 e demais dejetos, revela agora montanhas intratáveis, enquanto o esgotamento dos materiais necessários para a produção de toda esta tralha expõe o outro lado dos mesmos processos.

 

A biopoluição, esta nova modalidade ameaçadora, decorre do mesmo espírito predatório que consiste em abocanhar o quanto conseguir dos lucros, e espargir ao redor, indiscriminadamente, lixo e problemas que se direcionarão a outros. Os que entopem seus animais com antibióticos pouco se importam de estarem participando da criação do gravíssimo problema das bactérias resistentes, preocupam-se com seus lucros. Do mesmo modo, os laboratórios produtores de tais antibióticos nada farão para conter o problema gerador da imensa torrente de lucros que os sustenta. Laboratórios farmacêuticos, aliás, costumam gerar suas mais gordas fontes de lucro através de efeitos colaterais causados por seus próprios remédios. A constatação de haver alguém lucrando fartamente com um dado problema quase garante sua perpetuação.

Bactérias são criaturas irascíveis. Podemos apostar que veremos, em poucas décadas, o surgimento de monstros letais apavorantes, de criaturas arrasadoras, capazes de desfigurar faces e corpos, em torno dos rastros de mortalidade que causarão. Também haverá quem logo pense nos lucros que a calamidade proporcionará.

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Redação

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