Previsões do FMI para o crescimento brasileiro

Da BBC Brasil

FMI vê aceleração do Brasil no 4º trimestre, mas alerta para risco de inflação

Pablo Uchoa

O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu nesta sexta-feira que o Brasil crescerá em torno de 4% no último trimestre deste ano, em parte pela base de comparação fraca dos últimos três meses de 2011 e em parte pelos efeitos cumulativos da política de corte de juros sobre a economia.

Em sua avaliação periódica do país com base no Artigo 4, a que todos os membros do Fundo devem se submeter, os economistas do FMI dizem que “a economia deve ganhar impulso durante a segunda metade do ano, puxada pela demanda doméstica”.

“O aumento do salário mínimo em 2012 está elevando a renda disponível, dada a relação entre salários e aposentadorias. A criação de empregos, especialmente no setor de serviços, permanece forte. E os efeitos completos do afrouxamento monetário devem ser sentidos no segundo semestre”, diz o relatório.

Na última segunda-feira, os técnicos do FMI reduziram a sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2,5% neste ano.

Em parte por causa da atividade econômica em preparação para a Copa do Mundo, o PIB cresceria 4,6% em 2013 – acima do potencial, no entendimento do Fundo – e 4% no ano seguinte.

Nesse passo, alerta o relatório, um dos principais riscos no médio prazo seria de um aumento da inflação ligeiramente acima do centro da meta no ano que vem. As projeções são de um índice de cerca de 5% em 2013.

Com base nessa avaliação, o relatório prevê que o governo comece a retirar os estímulos à economia possivelmente já no fim deste ano ou ao longo do próximo.

Revisão para baixo

O Brasil foi um dos países, entre os principais emergentes, cuja previsão de crescimento para este ano foi significativamente revista para baixo pelo FMI. O mercado tem revisto a expansão do PIB para este ano de maneira ainda mais acentuada.

Entretanto, em seu relatório, os técnicos do FMI reforçaram o seu apoio às medidas anticíclicas tomadas pelo governo – tanto de aperto como de afrouxamento –, nos campos fiscal e monetário.

“Apoiamos esta posição, enfatizando a importância de reconhecer o atraso com que as políticas monetárias têm efeito”, diz o relatório.

É a primeira vez que o Brasil concorda com a divulgação integral da avaliação da equipe do FMI que visitou o país para as discussões com o governo e com atores econômicos. A missão do Fundo esteve no país em meados de maio.

O representante brasileiro no Fundo, Paulo Nogueira Batista Jr, disse a jornalistas em Washington que o governo e os técnicos da organização convergem em grande parte das conclusões do relatório.

Mas o porta-voz do Brasil destacou que existem “diferenças de ênfase” quanto à discussão sobre se o processo de desindustrialização no país se deve à falta de competitividade interna ou é efeito do câmbio, por exemplo, ou o quanto o alerta de inflação acima do centro da meta – mas ainda dentro do intervalo – para 2013 é “exagerado”.

“O governo brasileiro e o Banco Central concordam que se houver uma aceleração da inflação que coloque em risco o controle da meta, serão tomadas providências”, disse Batista Jr. “Mas não é essa a preocupação premente.”

O economista destacou que os dados contidos no documento mostram como o país se fortaleceu do ponto de vista externo, com reservas internacionais de US$ 350 bilhões (R$ 700 bilhões) no fim do ano passado, o equivalente a 900% da dívida externa de curto prazo, e um setor bancário capaz de suportar inclusive “choques extremos”.

Embora considerem uma crise europeia a maior ameaça para a retomada brasileira, os técnicos do FMI afirmam que “o Brasil possui as ferramentas efetivas para controlar choques transitórios e espaço para adotar políticas para contrabalançar choques externos adversos”.

Mudança de modelo

No entanto, para o futuro, o FMI acredita que o país precisa mudar o seu foco de crescimento atual, baseado na força do consumo interno, para um modelo de mais ênfase no investimento e na poupança.

O relatório diz que existe um “sentimento compartilhado” da importância de se elevar a poupança e o investimento, e melhorar a competitividade da economia do país.

“As autoridades estão gradualmente tomando os passos nesse sentido com a reforma das aposentadorias, o uso de concessões para aumentar o investimento, e a reforma tributária em andamento”, diz o relatório.

Para o longo prazo, o FMI também recomenda uma “redução gradual” do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) das atividades comerciais, para que se concentre em objetivos de infra-estrutura realmente de longo alcance e deixe livre este mercado para os bancos comerciais.

Batista Jr disse que todos concordam que a expansão do consumo de bens duráveis já foi “de certa forma saciada” e não continuará no mesmo ritmo.

Apesar das ressalvas feitas ao futuro do modelo baseado no consumo, o Fundo suavizou as preocupações imediatas com o nível de crédito.

Ainda que recomendem o “monitoramento” do nível de crédito – que dobrou entre 2004 e 2011 no Brasil, chegando a 49% do PIB – os técnicos observam que grande parte dos empréstimos está associada a compras no setor automotivo, que passaram a ser alvo de melhor regulamentação.

“As taxas gerais de empréstimos de baixo desempenho continuam baixas, em cerca de 3,8% dos empréstimos, sendo que nos bancos públicos é até menor (2% dos empréstimos)”, cita o documento.

“O sistema permanece altamente capitalizado, com baixos riscos gerais de liquidez.”

Luis Nassif

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