Recuperação econômica avança em ritmos diferentes pelo mundo

Do Valor

Razões para um certo otimismo

Pedro Videla

O consenso para este ano é que o mundo crescerá entre 3% e 3,5% em termos reais, com as economias avançadas expandindo-se de 1% a 1,5%; e as emergentes, de 5% a 5,5%. A recuperação avança, embora em ritmos diferentes pelo mundo.

Nas economias avançadas, ainda persistem riscos importantes: as possíveis dificuldades na periferia da região do euro e o bloqueio político nos Estados Unidos, que pressupõe por enquanto um corte histórico nos gastos públicos.

Com o setor público e o privado encolhendo seus balanços patrimoniais, bancos centrais viram-se obrigados a adotar políticas monetárias expansionistas. No curto prazo, será difícil abandonar essas medidas, dada a fragilidade da recuperação. Na região do euro, a intervenção do Banco Central Europeu (BCE) deu tempo para os políticos respirarem um pouco, ao reduzir os riscos de saída da Grécia e de exclusão da Espanha e Itália dos mercados financeiros. Nos EUA, em dezembro, o Federal Reserve (Fed, autoridade monetária dos Estados Unidos) anunciou que manterá os juros próximos a zero até o índice de desemprego cair para os 6,5%, desde que as previsões de inflação continuem inferiores a 2,5% ao ano. Dessa forma, é muito provável que as políticas altamente acomodatícias desses bancos centrais sejam mantidas em 2013, já que os riscos de retração continuam significativos.

É muito provável que as políticas altamente acomodatícias dos bancos centrais das economias avançadas sejam mantidas neste ano, já que os riscos de retração global continuam significativos.

Um dos riscos, apesar de o Congresso dos EUA já ter aumentado o teto de endividamento, é que o país não honre suas dívidas, já que o corte de gastos, que chega a US$ 110 bilhões, entrou em vigor em 1º de março. Especialistas consideram que as disputas sobre o orçamento podem custar, pelo menos, dois pontos percentuais do crescimento da economia americana em 2013, sendo que parte disso já teria se concretizado.

Na região do euro, embora as ações do BCE tenham atenuado as ameaças financeiras e contribuído para ganhar tempo, o risco decorre da falta de solução para problemas fundamentais. Garantir a sobrevivência do euro é uma decisão política, cujo resultado deveria ser favorecido, e não determinado, pelo BCE. A solução será determinada quando existir vontade política para levar a cabo as reformas previstas.

Como citei acima, existe uma divergência no ritmo de crescimento econômico entre partes diferentes do mundo, com o que só os países emergentes – cerca de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – vão ser responsáveis por mais de 80% do crescimento global neste ano, embora não se projetem expansões como as verificadas em 2010 e 2011, próximas a 7% anuais. O principal motivo é a fraca demanda externa.

A China viu-se obrigada a promover uma nova rodada de estímulos monetários e fiscais para recuperar-se da desaceleração prolongada do crescimento nos últimos dez anos. O teste para a nova liderança do país, no entanto, será sua capacidade de concretizar as reformas estruturais necessárias e reorientar a economia em direção ao consumo privado. A dependência dos gastos em investimentos – atualmente em torno a 50% do PIB – gerou durante 30 anos excesso de capacidade e bolhas no setor imobiliário, corroendo a eficiência econômica do país. Os novos estímulos, aliás, aumentaram ainda mais o investimento em infraestrutura e moradias, o que elevou os preços. A inflação desses ativos poderia obrigar o país a endurecer sua política monetária antes do fim do ano, uma mudança carregada de riscos, em um momento em que a China começa a recuperar-se de sua pior taxa de crescimento em 13 anos.

Outro grande mercado emergente, o Brasil, também sofre desaceleração de crescimento: dos 7,5% em 2010 para uma projeção de 3,1% em 2013, de acordo com o Banco Central do Brasil. O ponto fraco de sua economia é o custo, a dificuldade de fazer negócios, que dificulta atingir altas taxas de crescimento. E a intervenção do governo na economia – por meio de novas regulamentações, aumento de funções dos bancos estatais, substituição das importações e controles de capital – só faz aumentar.

A aposta da presidente Dilma Rousseff para 2013 passa pelo relaxamento das normas que controlam o gasto público, pela pressão para os bancos concederem mais empréstimos e por forçar os investidores a aceitar rentabilidade menor em projetos de infraestrutura e outros investimentos. Essas políticas poderiam reacender os velhos problemas do Brasil, como a instabilidade macroeconômica de altos déficits fiscais, a inflação e o baixo crescimento. É improvável que aconteça um colapso, mas o país poderia perder terreno na América Latina.

Alguns economistas especialistas sustentam que este ano será o da tempestade perfeita, em que todos esses riscos vão se materializar. A recuperação econômica, no entanto, está em andamento e mesmo a situação fiscal dos EUA e a crise do euro vão se acertando, à mercê da confiança crescente nos mercados financeiros. Dessa forma, portanto, há razões para certo otimismo.

Luis Nassif

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