Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Repatriação. Algum futebolista?, por Rui Daher

Chegou a hora, chegou, chegou. Meu corpo treme e ginga qual pandeiro. A manchete principal do Valor Econômico de hoje levou-me ao samba e a Carmem Miranda: “Repatriação pode render R$ 150 bi”.

Não é maravilhoso? Não justificaria ouvirmos de varandas em bairros nobres de São Paulo o brandir de panelas justiceiras? Cadê o patriotismo, onde a ajuda ao ajuste fiscal, estranho vê-los enrustidos em casa, passivos, assustando-se com os olhares preocupados de William e Renata, para depois acalmarem-se com os suspiros românticos da novela.

É simples. Até o Levy quer. Justificados pelas incertezas e desmandos no país, muitos “investidores” remeteram dinheiro para o exterior sem regularizá-lo, declará-lo, pois.

Quem fizer a repatriação estará em conformidade com espécie de auto delação premiada, e não poderá ser responsabilizado criminalmente, nem mesmo por aquele juiz que gosta de uma camicia nera.

O governo abre as portas para as ilegalidade e punibilidade fiscal, e ainda oferece de barato privacidade. Quem vai querer?

Os gestores de fortuna sugerem e creem na adesão maciça. Como sabemos o time para que torcem, apenas questionam o valor alto da alíquota (35%) e o prazo proposto para “o ouro para o bem do Brasil”, 120 dias.

O projeto, de iniciativa dos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Delcídio do Amaral (PT-MS), está no Congresso para aprovação.

Se ainda não é, será uma anistia. Como aquela que você espera há décadas de impostos não pagos, multas cobradas com excesso, correções monetárias inexistentes.

Mesmo sendo Levy interessado, e o Brasil vivendo crise econômica, com aumento do desemprego, queda da renda do trabalho, juros e inflação altos, investimentos estagnados, pasmem, quem tem ainda hesita: vai que no futuro … sabe, o bolivarianismo pode vingar … dá pra legalizar, mas deixar lá fora?

Sou informado de que se prepara para o dia 16 de agosto monumental manifestação a favor do Brasil. Tenho certeza de que, sendo meu aniversário, naquele domingo, todos os presentes passíveis de serem beneficiados com o projeto que cria o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), estarão  munidos com suas cartas de adesão. Lembrem-se, é para o bem do Brasil.   

Se isso acontecer, podemos voltar a Carmem Miranda, a quem anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar.  Tô mais para  e o mundo não se acabou.

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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  1. Que pena que eu não me

    Que pena que eu não me locupletei por ser honesto demais pra entregar minha alma ao Deus dinheiro. Tivesse eu me vendido e corromido, poderia partir para uma delação premiada e depois obter a repatriação “premiada” agora encenda. Uma lástima que tenha vivido do meu salário ganho com esforço e dentro da lei. Meu Deus, cmo sou burro!

  2. Se não vier com legislação

    Se não vier com legislação curta e grossa para casos futuros, de fato é a put,,,,,ria institucionalizada. Como se já não fosse. 

  3. 35% é bem mais do que o imposto de renda!

    Ao ver quem propõe esta regularização cambial e tributária, tenho a impressão que o autor do texto não entendeu bem o objetivo fiscal deste programa. O repatriamento com este valor cobriria com folga a sonegação que deu origem aos valores retirados do Brasil. A multa está incluída neste cálculo, pois 35% é bem mais do que o imposto de renda que seria obtido se estes tributos tivessem ficado no Brasil.

    Alguém pode dizer que não está incluída a correção monetária, mas na realidade está, pois se os valores saíram no correspondente da época em moeda forte (Dólar ou Euro) ele volta com o valor corrigido pela variação cambial.

    Berlusconi fez o mesmo na Itália, entretanto o valor do imposto era muitíssimas vezes mais baixo, algo em torno de 3%.

    Qual seria a vantagem da repatriação mesmo com este imposto alto? Muito simples, as taxas de interesse no Brasil são muito mais altas que em qualquer país do mundo, e assim como a Suíça, pouco a pouco vai diminuindo o espaço para os que lá lavam dinheiro, as alternativas que restam ou são em países seguros mas com condições de seguir a legislação Suíça, ou são lavanderias que não lavam a seco roupas que necessitam este tratamento, ou seja, são pouco confiáveis.

    Temos que levar em conta que se ocorre algum evento catastrófico nos USA causado por estados religiosos radiais e financiados por contas advindas de paraísos fiscais, este governo poderia obrigar aos paraísos fiscais a adotar maior transparência nas contas de estrangeiros.

    Logo o projeto faz sentido e a repatriação também.

    1. Caro,

      Entendi e apoio. Apenas não acredito em “adesão maciça”, o que o texto de forma bem-humorada induz. Aliás, R$ 150 bi é valor maciço perto do que a Corporação tem nos paraísos fiscais?

  4. faz sentido a conta

    Calculando com dados da CPI:

    Teríamos uns U$$ 500 bilhões lá fora.

    Passando para reais temos R$1,5 trilhões.

    Digamos que 30% vão aderir, dá R$ 450 bilhões.

    35% disto dá R$ 157,5 bilhões.

    Razoável as contas feitas.

  5. Tem que ser Esquerda Negativa muito “Trouxa” para apoiar isso
     

    O motivo da entrada é vantagem financeira. Lá fora o  dinheiro não tem rentabilidade  em aplicação financeira  por longos anos

     

    Fed 0.25% a.a., Japão 0.10% a.a. , BCE 3% a.a. EtcBrasil depois do pico tucano de 45% a.a de Fraga / FHC e apreciação do real, temos 14% subindo com Tombini / Dilma, com estabilidade cambial

    Ou seja continua e continuará  taxa basica mais exorbitante reais do Planeta. Em 7 anos dobra o capital com remessa de lucros isentos de I.Renda. Se financiar cartão de credito ou emprestimo pessoal. O espaço sideral é o limte.

     

    Da perspectiva republicana, melhor deixar a grana lá fora. A exploração depois do crime / latrocínio etc , vai ser potencializada pela rapinagem dos cofres do Brasi

    l

    Brasileiro é muito bonzinho. Complexo de vira-latas.

     

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