Riscos climáticos devem influenciar preços de commodities agrícolas

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Preços devem seguir pressionados; impacto pode levar preço da soja a subir até 27%

Jornal GGN – Após um período de um ano sob impacto do El Niño (caracterizado pelo aquecimento da superfície do oceano Pacífico que provoca calor e condições mais secas), crescem os riscos de que a safra agrícola global seja novamente impactada por um novo fenômeno climático, o La Niña (ligado ao resfriamento das temperaturas médias das águas do Oceano Pacífico) – o que pode afetar a safra norte-americana e, por consequência, os preços no mercado internacional.

“Em nosso cenário, esperamos alta de aproximadamente 10% para as cotações das commodities agrícolas até o final deste ano, tomando como base a média do segundo trimestre. Altas mais expressivas podem ocorrer em caso de La Niña forte”, diz a economista Myriã Tatiany Neves Bast, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco Bradesco, em relatório.

A variação climática ajuda a explicar o aumento dos preços do milho e da soja (21% e 25%, respectivamente) desde no mês de março. “Essa alta é explicada, em grande medida, pelas condições climáticas adversas na América do Sul, que já diminuíram as safras esperadas no Brasil e na Argentina, principalmente das culturas de soja e milho”, explica a economista. “Adicionalmente, o risco crescente da ocorrência de La Niña neste ano também pressionou os preços nos últimos meses”. Como não se sabe ao se o evento vai ocorrer de fato e nem o tamanho de sua magnitude, os preços poderiam subir ainda mais com a ocorrência efetiva do evento e de dados adicionais quanto ao seu impacto na safra do hemisfério norte.

“Ao contrário do El Niño, quando ocorre um aquecimento das águas do Pacífico, em anos de La Niña observamos o resfriamento do Pacífico. Os efeitos desse evento tendem a ser opostos ao do El Niño, isto é, períodos mais secos e frios no Brasil e mais secos nos EUA. As últimas ocorrências desse fenômeno foram em 2007/08 e 2010/11”, diz Myriã. “Nesses períodos, observamos redução importante dos estoques mundiais dos principais grãos, pois a produtividade nos EUA fica comprometida com as condições climáticas adversas. No caso do milho, os estoques caíram 11,9% entre as safras 2005/06 e 2006/07, para em seguida apresentarem forte recuperação (variações de 17,4% e 12,2% nas duas safras posteriores). Já no episódio de La Niña entre 2010-11, a queda dos estoques foi de 12,3%, seguida de recuperações mais modestas (3,8% e 3,9% nas duas safras seguintes)”.

A produtividade norte-americana também perdeu força nesses dois períodos: queda de 7,7% entre as safras 2005/06 e 2006/07, mas as safras seguintes mostraram alguma recuperação. No segundo caso recente, a queda foi de 7,2%, seguida posteriormente por uma nova retração de 3,8% na produtividade. “Isso aconteceu porque a ocorrência do La Niña nesses dois episódios foi registrada entre julho e agosto, período de enchimento dos grãos nos EUA”, explica a articulista. “No caso da soja, também observamos ajustes relevantes dos estoques mundiais nos períodos de La Niña: no primeiro evento, o recuo foi de 18,4%, seguido de nova queda de 15,3%; e no evento mais recente, os estoques caíram 27%, com recuperação de 3,8% na safra seguinte”.

Em termos de produtividade da safra norte-americana, a queda ficou em quase 8% no primeiro episódio estudado (seguida de recuperação de 10%) e em quase 9% no mais recente (também seguido de crescimento de 10%). Assim como no caso do milho, o período crítico de enchimento dos grãos de soja ocorre entre julho e agosto. Com a queda de estoques mundiais nesses períodos, os preços subiram fortemente.

Ao tomar como base a média de alta de preços dos últimos eventos, a economista explica que os preços de milho e soja deveriam registrar alta adicional de 25% e 27%, respectivamente, atingindo patamar de US$ 5,3/bushel e US$ 14,5/bushel, não observados desde 2013. Atualmente, o NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration) atribui probabilidade de 65% de ocorrência de La Niña no período crítico para produtividade da safra norte-americana, aumentando esse risco ao longo do segundo semestre.

“Quanto à magnitude do evento, a maioria dos modelos climáticos sugere um fenômeno de intensidade fraca à média, isto é, com efeitos não arrasadores sobre o nível de estoques mundiais. Ainda assim, algum efeito é bastante possível, o que deve manter os preços pressionados, trazendo um risco de alta adicional ao cenário-base de preços de grãos”, pontua a economista.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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