Maior vitrine do governo Serra é alvo de denúncias de corrupção e crimes ambientais
O caso do Rodoanel é exemplar, porque desmonta, numa tacada só, os mitos do Serra e do PSDB ambiental, ético e competente.
O trecho sul foi entregue, mesmo sem ter a sinalização e iluminação completas, em 30 de março deste ano, um dia antes de José Serra deixar o Palácio dos Bandeirantes para se candidatar à presidência. Com 57 quilômetros de extensão, a obra consumiu sete anos e cerca de R$ 5 bilhões (mais de R$ 87 milhões por quilômetro).
No decorrer das obras, diversas denúncias de problemas ambientais surgiram. Mortes de animais silvestres, incluindo espécies em extinção, como veados catingueiros e preguiças (1). Segundo estudo do SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe, cerca de 700 hectares de Mata Atlântica foram perdidos na região (2). O plantio de mudas como compensação ambiental, no entanto, não se refere ao total atingido e sofreu atrasos (3). A ex-ministra e ex-candidata Marina Silva foi uma das vozes a criticar as compensações previstas (4). O Rodoanel avançou por áreas de mananciais que abastecem as represas Billings e Guarapiranga, causando aterro de alguns córregos e assoreamento na Billings (5). As represas são responsáveis pelo abastecimento de água de 4 milhões de pessoas. Além disso, há o temor que a via estimule a ocupação urbana de áreas de preservação. Embora o governo argumente que isso não deve acontecer, devido ao controle de acessos, as áreas cortadas pelo Rodoanel tiveram seus terrenos valorizados em 50% (6).
As denúncias não se limitaram a questões ambientais. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União, divulgada em abril de 2009, encontrou compras feitas por valores até 30% acima do previsto no orçamento. “Para reduzir os custos, ainda segundo o TCU, as empresas contratadas alteraram métodos construtivos com redução no número de vigas usadas em pontes, substituição de estacas metálicas por pré-moldadas e troca de areia por brita em muros de contenção, por exemplo” (7). Coincidência ou não, em novembro do mesmo ano um desabamento de vigas deixou três feridos (8). A Polícia Federal encontrou indícios que a Camargo Correa, uma das empreiteiras contratadas para as obras, pagou propinas a membros da administração tucana (9).
Um dos envolvidos na denúncia é Paulo Vieira de Souza (10), ex-diretor de engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa de capital misto do governo do Estado), responsável pelo Rodoanel. Ligado ao recém-eleito senador Aloysio Nunes Ferreira, Paulo Preto, como é conhecido, ganhou os noticiários eleitorais com a espantosa história de que teria arrecadado R$ 4 milhões para a campanha tucana, mas não teria repassado o dinheiro (11).
Há um ditado que diz “tudo bem quando acaba bem”. Mas não parece ser este o caso. Pouco mais de dois meses após a inauguração do Rodoanel Sul, os caminhoneiros desistiram da nova via e voltaram à avenida dos Bandeirantes, devido ao aumento nos custos (12) – isso levando em consideração que o pedágio previsto para a rodovia ainda não foi implantado (13). E o trânsito em São Paulo? Esse, quem mora na cidade sabe, continua caótico.
1 – http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090406/not_imp350604,0.php
3- http://www.jt.com.br/editorias/2010/05/27/ger-1.94.4.20100527.21.1.xml
6 – http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/17733_A+ECONOMIA+DO+RODOANEL
7 – http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ult10103u551359.shtml
8 – http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u652418.shtml
9 – http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI140500-15223,00-ECOS+DO+BURACO+TUCANO.html
10 – http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/homem-bomba-tucano-aloysio-nunes
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