Sistema prisional do país não suporta redução da maioridade penal

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Pedro Peduzzi

Da Agência Brasil

O sistema prisional brasileiro não tem estrutura para dar conta do aumento projetado para a população carcerária, caso a redução da maioridade penal seja aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República. A opinião é de autoridades e pesquisadores que participaram hoje (3) do lançamento do Mapa do Encarceramento: os Jovens do Brasil.

Divulgado pelas secretarias Nacional de Juventude (SNJ), de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o documento mostra que a população carcerária no Brasil cresceu 74% entre 2005 e 2012.

De acordo com a autora da pesquisa, Jacqueline Sinhoretto, a superpopulação carcerária é uma realidade em todo o país. “Todos os estados brasileiros já estão com superpopulações carcerárias. A média do Brasil é 1,7 preso para cada vaga, a um custo variando entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por preso. Em Alagoas, a média é 3,7 presos por vaga. No entanto há unidades com índice superior a cinco presos por vaga”, informou a pesquisadora.

Para o secretário Nacional de Juventude, Gabriel Medina, além da superpopulação, o sistema prisional tem outros desafios. “O Brasil encarcera muito, encarcera mal e não ressocializa os presos. Prova disso é que, apesar de a juventude já vir sendo encarcerada, a situação do país não tem melhorado. Além de não ressocializar os presos, [as instituições] vêm colocando os jovens sob domínio de organizações criminosas”, disse ele.

Os dados do Mapa do Encarceramento mostram que, ao longo do período de análise, o número absoluto de presos saltou de 296.919 para 515.482. A maior parte dessas prisões (70%) foram motivadas por crimes patrimoniais ou envolvendo drogas, enquanto crimes contra a vida motivaram apenas 12% das prisões.

Para Jacqueline, o aumento do número de vagas no período e a construção de novos presídios não amenizaram a ocorrência de superpopulação. “Este é um problema de direitos humanos pelo qual as autoridades brasileiras, por diversas vezes, têm sido interpeladas por órgãos internacionais.”

Ao analisar o perfil dos presos, a pesquisa deixa “evidente” a existência de uma “seletividade penal” sobre um segmento específico: o jovem, negro, com idade entre 18 e 24 anos. Em 2012, negros foram presos uma vez e meia a mais do que brancos.

A autora da pesquisa explica que apesar de o número de homens presos ainda ser maior que o de mulheres, o estudo indicou crescimento maior da população feminina nos presídios. “Enquanto o aumento da população carcerária masculina foi 70%, o da população feminina foi mais que o dobro: 146%. Isso está fazendo nossa população carcerária ser cada vez mais feminina”, disse a pesquisadora. Atualmente há 31.824 mulheres presas no país (6,17% da população carcerária) e 483.658 homens (93,83%).

Outra crítica da pesquisadora ao sistema brasileiro é a excessiva quantidade de prisões provisórias. “Para cada dois presos não julgados temos apenas um julgado. Isso mostra que não encontramos na Justiça condições para fazer o julgamento dessas pessoas. Se considerarmos que a maior parte das pessoas apenadas tiveram condenação entre quatro e oito anos, concluímos que, se houvesse preocupação da Justiça em cumprir a lei, 20% dos presos poderiam cumprir a pena em regimes alternativos”, disse ela ao ressaltar que tal medida aliviaria em parte a superpopulação carcerária brasileira.

Coordenador das Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek informou que as políticas punitivas não têm apresentado resultados satisfatórios. “A maioria dos países fracassaram ao priorizar políticas punitivas porque as causas dos crimes não foram reduzidas. Não é solução colocar mais gente na cadeia. Por isso temos recomendado que o país não mude a situação da maioridade penal”, disse o representante da ONU.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Se houvesse espaço no sistema

    Se houvesse espaço no sistema prisional os representantes dos empresários ( deputados e senadores ) não apoiariam a redução da maioridade penal, pois o que querem é construir prisões.

  2. Devemos deixar de lado as

    Devemos deixar de lado as medidas punitivas e educar assassinos e estrupadores, quem se habilita no cuidado desses injustiçados sociais?

    1. Bem que o Chico Buarque

      poderia sair de Paris para vir dar exemplo pelo partido que ele tanto defende e ajudar a educar esses mini chucks…

    2. Há milhares de professores

      Há milhares de professores trabalhando nas prisões brasileiras, fazendo exatamente isso.

      Poderíamos começar pagando melhor a eles, que tal?

  3. #SQN
    Se o número de menores que pratica crimes hediondos é baixo…. ótimo! Cai por terra a desculpa de que não há lugar nas prisões para os menores que vierem a ser presos…Maioridade não resolve, é fato. Ninguém está querendo “resolver” com isso. Apenas acabar com a impunidade. O número de menores assassinos reincidentes nas ruas comprova a falácia de que cumprem medidas sócio-educativas: nem socializa, nem educa…. Quanto ao perigo de se misturarem a adultos nas prisões, basta haver alas para menores. É mais fácil Champinha ensinar um adulto a ser um monstro do que o contrário… O cidadão honesto, se não tiver curso superior, basta não pagar 3 prestações de consórcio ou a pensão alimentícia para ter que conviver com presos em presídios…porque um assassino ou estuprador de 16 anos não pode?

  4. podia ser como na suecia: uma

    podia ser como na suecia: uma cadeia foi fechada por falta de prisioneiros. educação, apoio. acho que é por aí.

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