Terras com trabalho escravo vão ser expropriadas.

Folha.

Projeto que expropria terras com trabalho escravo é aprovado no Senado

 

GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA

 
 

Comissão do Senado aprovou nesta quinta-feira (17) projeto que determina a expropriação de terras onde for identificada a prática de trabalho escravo. Os imóveis rurais e urbanos que forem expropriados serão destinados à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem indenização ao proprietário.

Pelo projeto, a expropriação deve ocorrer após sentença judicial transitada em julgado (decisão final sem a possibilidade de recursos). A expropriação não isenta o proprietário de outras sanções penais, como a prisão, previstas pela legislação.

Segundo o projeto, os imóveis e propriedades rurais que não forem passíveis de destinação à reforma agrária ou programas de habitação popular poderão ser vendidos. Os valores serão remetidos a um fundo, criado pelo projeto especialmente para esta finalidade.

Já os bens de valor econômico que forem apreendidos em decorrência de trabalho escravo ou tráfico ilícito de drogas, segundo o projeto, serão confiscados e revertidos ao mesmo fundo.

Chamado de Funprestie (Fundo Especial de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Drogas Afins), o fundo deve promover atendimento emergencial aos trabalhadores resgatados de trabalho escravo ou ações de combate e prevenção ao tráfico ilícito de entorpecentes. Também deve oferecer condições “dignas” de retorno ao trabalhador resgatado, assim como oferecer cursos de capacitação.

O projeto diz que o fundo também será composto de valores decorrentes dos leilões dos bens expropriados, recursos orçamentários da União e créditos adicionais que lhe forem atribuídos, além de doações e contribuições de entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais, e de pessoas físicas. Também pode receber recursos de convênios firmados com instituições públicas e privadas e rendimentos de aplicações financeiras em geral.

O texto foi aprovado na comissão especial do Congresso que regulamenta dispositivos da Constituição Federal. Para entrar em vigor, ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado.

A Câmara já aprovou PEC (proposta de emenda constitucional) que prevê a expropriação de terras onde se pratica trabalho análogo à escravidão no Brasil –mas não há regulamentação de como isso deve ocorrer. A proposta de emenda constitucional ainda precisa ser aprovada no plenário do Senado.

Relator da comissão, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que seu objetivo é viabilizar a aprovação conjunta das duas propostas, para que a emenda constitucional não fique sem regulamentação após aprovada –já que o objetivo do projeto aprovado hoje é justamente regulamentar a PEC, mesmo sem ela estar ainda em vigor.

TERRAS PÚBLICAS

Pelo projeto, se for identificado trabalho escravo em propriedades da União, Estados, Distrito Federal ou municípios, ou de empresas públicas e sociedade de economia mista, a responsabilidade penal será atribuída ao respectivo gestor.

O texto também diz que a ação expropriatória de glebas em que for identificado o trabalho escravo deve observar a lei processual civil.

O projeto ainda estabelece o conceito legal de trabalho escravo, aquele onde houver submissão a trabalho forçado, exigido sob ameaça de punição, com uso de coação, ou que se conclui da maneira involuntária ou com restrição da liberdade pessoal.

Também é considerado trabalho escravo a submissão a jornada exaustiva, se o trabalhador for sujeito a condições degradantes de trabalho ou ficar impedido de se locomover em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.

O cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho, a manutenção de vigilância ostensiva ou a apropriação de documentos ou objetos pessoais do trabalhador também são consideradas trabalho escravo.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador