As semelhanças genéticas entre porcos e humanos

Sugerido por Assis Ribeiro

Do Brasil 247

O porco: O verdadeiro melhor amigo do homem

Quando, em 1945, George Orwell escreveu o seu romance Animal Farm (A Revolução dos Bichos, no Brasil) onde afirma que o homem e o porco são quase idênticos, talvez não soubesse que estava muito perto da verdade 

Por: Equipe Oásis

Estudos muito recentes sobre a estrutura genética dos suínos mostram similaridades extraordinárias entre nossa espécie e a dos porcos. Para começar, sofremos das mesmas doenças, entre elas a obesidade, Parkinson, Alzheimer, enfarto, derrames, etc. Assim, o prosseguimento dos estudos sobre a genética dos suínos deverá revelar novos tratamentos para o combate a essas e outras doenças devastadoras também na nossa espécie.

Como diz o geneticista britânico Martien Groenen, um dos principais investigadores mundiais na área, “identificamos muitas outras variantes genéticas implicadas em patologias humanas, e isso endossa a ideia de que o porco é realmente um valioso modelo biomédico”.

Completado o genoma do porco

Homens e porcos. Trata-se da história de uma convivência e domesticação que dura há pelo menos dez mil anos. Recentemente, após duas décadas de árduos estudos, completou-se o mapeamento do DNA desse animal. Surpresa geral: o sequenciamento revela novas e inesperadas semelhanças genéticas com o gênero humano. Conduzido pelo Consórcio Internacional para o Sequenciamento do Genoma do Porco, coordenado pela Universidade de Illinois (EUA), de Wageningen (Países Baixos) e de Edimburgo (GB), o estudo revela o genoma completo de uma fêmea de porco doméstico da raça Duroc (espécie Sus scrofa). Para reconstruir a evolução desses animais, esse mapa do DNA foi depois confrontado com o de javalis europeus e asiáticos, os primos silvestres muito similares aos antepassados do porco doméstico.

A pesquisa revelou como os suínos passaram por uma rápida evolução genética, sobretudo dos genes dedicados às respostas imunológicas do organismo e os do olfato, que nos porcos é muito desenvolvido (são ótimos buscadores de trufas, por exemplo, tubérculos comestíveis que se encontram sob o solo, e também usados como buscadores de minas bélicas enterradas). Tais informações poderiam ajudar os criadores a melhorar a qualidade da carne suína, e também a tornar esses animais mais resistentes às doenças, portanto mais produtivos.

Mas essas não foram as únicas consequências práticas: o mapa evidenciou numerosas variantes genéticas associadas a várias doenças humanas como obesidade, diabetes, dislexia, Parkinson e Alzheimer. Tais descobertas estendem o uso potencial desse animal – já usado com sucesso para a fabricação de válvulas cardíacas e para produzir heparina, o fármaco anticoagulante obtido a partir do intestino suíno – a modelo ideal para a pesquisa biomédica e para a experimentação de fármacos.

No Japão, órgãos-quimera

Enquanto isso, do outro lado do mundo, mais precisamente no Japão, cientistas trabalham na tecnologia dos órgãos-quimera, um pouco humanos, um pouco suínos. O termo quimera vem do grego, e significa uma figura mitológica que possui uma parte humana e uma parte animal.

Os órgãos-quimera são obtidos a partir de animais modificados em laboratório com células-tronco humanas. Tais animais, como o porco, são criados com o objetivo de produzir órgãos destinados a transplantes. A proposta envolve uma série de questionamentos éticos que são, no momento, discutidos em acesos debates no próprio parlamento japonês.

O governo japonês recentemente encarregou um grupo de médicos e biólogos para a redação da minuta de uma nova legislação que regulamente as pesquisas com embriões-quimera. O principal objetivo desses estudos é chegar à criação de porcos capazes de fornecer órgãos que possam ser transplantados em um ser humano sem os problemas de rejeição.

Coração de porco num peito humano. Será este um projeto digno do doutor Frankenstein? Não, pelo menos na opinião de Hiromitsu Nakauchi, responsável pelas pesquisas com células-tronco no centro de medicina regenerativa da Universidade de Tóquio. O Japão, atualmente, é um dos países menos restritivos nesse âmbito, e lá já foram autorizados estudos e experiências que em outros países ainda se encontram bloqueados.

Nakauchi e sua equipe já implantaram com sucesso células tronco de rato no interior de embriões de camundongo geneticamente modificados. Ele deseja aplicar a mesma tecnologia também em humanos e em porcos, mas a atual legislação japonesa a respeito não o permite. Hoje, com efeito, as normas no país consentem a criação de embriões-quimera em laboratório, mas esses embriões só podem ser conservados por um período máximo de 14 dias. O próximo passo será autorizar a implantação desses embriões-quimera em úteros animais, mas para isso será preciso esperar a aprovação da nova lei. Coisa que se espera para daqui um ano.

Do porco tudo se aproveita

Superado o entrave legal, a produção do primeiro suíno com órgãos “humanizados” será com certeza muito rápida, pois a tecnologia necessária já está disponível. A primeira “peça de reposição” a ser produzida será provavelmente um pâncreas, o órgão mais fácil de se gerar com essa tecnologia; para coração e rins o processo será mais longo e exigirá pelo menos mais cinco anos.

A pesquisa de Nakauchi, de qualquer modo, deixa sem resposta numerosas interrogações, tanto de natureza científica quanto ética. Qual será a real compatibilidade dos órgãos-quimera? Quem aceitará receber um órgão retirado de um porco? Quais problemas essa solução poderá acarretar?

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. “já usado com sucesso para a

    “já usado com sucesso para a fabricação de válvulas cardíacas e para produzir heparina, o fármaco anticoagulante obtido a partir do intestino suíno –”

    Há mais de VINTE ANOS.

  2. lendas dos atlantes e suas manipulações genéticas: além do minotauro e outras quimeras, o porco seria um híbrido entre animais e humanos. alguns teóricos conspiracionistas dizem que o único também que sobreviveu ao cataclismo (diluvio) e chegou aos nossos dias. Isso, que sempre me soou surreal, foi a primeira coisa que veio na cabeça após ler o texto.

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