A monogamia entre animais, por José Reis

Por antonio francisco

Da Folha

A monogamia entre animais

JOSÉ REIS
especial para a Folha

Domingo, 27 de Junho de 1999

Só em poucos mamíferos (5%) se desenvolveu a monogamia, ao contrário das aves (92%).

Monogamia, aqui, é a situação em que o macho se mantém unido a uma só fêmea pelo menos durante uma estação de criação, havendo, entretanto, uniões que duram a vida inteira.

É muito grande a diferença entre a monogamia nos machos e nas fêmeas.

A explicação que se costuma dar dessa diferença é que o investimento do macho em espermatozóides é pequeno, comparado ao da fêmea em ovos.

Ela geralmente nasce com estoque limitado de óvulos e, além disso, é fisiologicamente impedida de procriar durante o período da gestação.

A competição forçaria naturalmente os machos à poligamia por assegurar a cada macho a sobrevivência de mais genes. As coisas não são assim tão simples, pois intervém a necessidade de cuidar dos filhos, de que os machos muitas vezes participam.
Os animais de casco geralmente são polígamos, mas pequenos antílopes africanos, que às vezes até formam pares permanentes, constituem exceções.

Por que assim acontece? Uma possibilidade óbvia é a defesa do território, que se torna exclusiva da fêmea e das crias. Mas, nesse caso, como explicar que vários macacos constituam haréns e consigam defender o território que abriga a família?
A explicação deve, pois, ser mais complexa. Talvez resulte do espaçamento das fêmeas, em vista da distribuição muito espalhada dos alimentos.

O território que teria de ser defendido para manter muitas fêmeas seria demasiadamente grande. Assim se tem explicado a monogamia em gibões.

Mas a explicação da dispersão do alimento por larga área não bastaria para dar conta da monogamia entre os pequenos antílopes.
R. Dunbar, que estuda exaustivamente esses animais, acha que a formação de pares está mais ligada à necessidade de proteção da fêmea contra predadores.

O macho tem de ser uma sentinela permanente enquanto a fêmea se alimenta. Esse fato é tão evidente que os dois nunca se alimentam ao mesmo tempo, ficando um sempre de vigia.

Nas aves, os machos são praticamente coagidos à monogamia porque os ovos, uma vez postos, têm de ser incubados continuamente e os filhotes, quando nascem, são voracíssimos e naturalmente precisam ser alimentados. E é de todo “interesse” do macho criar toda a ninhada para perpetuar a maior quantidade possível de seus genes. Mas também entre as aves monógamas existem as “traições”, representadas por machos que formam outros pares; mas eles só cuidam do primeiro lar. Já se verificou que, em certos casos, é mais interessante para a fêmea ser polígama num território de qualidade boa do que fiel num de má qualidade.

Segundo Dunbar, não há explicação única para a evolução da monogamia, aplicável a todas as espécies. Ela deve ter evoluído de várias formas conforme as necessidades de cada espécie. Mas E. O. Wilson, para quem os animais são fundamentalmente polígamos -sendo a monogamia uma condição derivada evolucionariamente-, diz que a fidelidade é uma condição especial que evolui quando a vantagem darwiniana de cooperação na criação dos filhos sobrepuja a vantagem de cada parceiro em buscar companheiros extras.

Precondições ecológicas parecem-lhe explicar todos os casos de monogamia: 1) o território contém recursos tão escassos e preciosos que se tornam necessários dois adultos para defendê-lo; 2) o ambiente físico é tão difícil que se tornam necessários dois adultos para enfrentá-lo; 3) a criação precoce é tão útil que a vantagem inicial permitida pelo acasalamento monogâmico é decisiva.

Luis Nassif

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