Estudo sustenta evolução da espécie humana

Por Claudio W.

Do The New York Times

Estudo descreve evolução humana em cidade canadense 

Descoberta sustenta a ideia de que os humanos ainda estão evoluindo

Em registros paroquiais de uma ilha franco-canadense, pesquisadores encontraram o que pode ser a instância mais recente de evolução humana em resposta à seleção natural.

A ilha, chamada Ile aux Coudres, fica no rio St. Lawrence, a cerca de 80 km a nordeste de Quebec. Os registros de sua igreja mantêm arquivos excepcionalmente completos de nascimentos, casamentos e mortes. A partir desses dados, uma equipe de pesquisadores conduzida por Emmanuel Milot e Denis Reale, da Universidade de Quebec, em Montreal, extraíram as histórias de vida de mulheres nascidas na ilha entre 1799 e 1940.

Ao longo desse período de 140 anos, a idade em que as mulheres tiveram seu primeiro filho – um traço altamente hereditário – caiu de 26 para 22 anos.

Graças a essa mudança, as mulheres tinham, em média, quatro filhos a mais em sua vida reprodutiva.

A descoberta ”sustenta a ideia de que os humanos ainda estão evoluindo’’, escrevem os pesquisadores no periódico científico The Proceedings of the National Academy of Sciences.

Segundo Milot, testes estatísticos permitiram que os pesquisadores distinguissem entre os efeitos da seleção natural e aqueles das práticas culturais afetando a idade do casamento.

”A visão comum é que a evolução é um processo lento’’, disse ele. ”Mas biólogos evolucionários já sabem, há muitas décadas, que a evolução pode ser bastante rápida’’.

Há tempos supôs-se que as pessoas, ao colocarem telhados sobre suas cabeças e plantarem sua própria comida, estariam se protegendo das forças da seleção natural. Dados coletados do genoma humano na última década mostraram que essa suposição não é verdadeira: as marcas da seleção natural são visíveis em no mínimo 10 por cento do genoma.

E essa é uma seleção que ocorreu somente nos últimos 5 mil a 25 mil anos, pois sinais de episódios mais antigos de seleção são abafados pela constante mutação na sequência de DNA.

Geneticistas examinando essa sequência não conseguem identificar episódios de seleção natural mais recentes do que 5 mil anos, a menos que o sinal seja particularmente forte, pois são necessárias muitas gerações para que uma versão nova e aprimorada de um gene apareça em toda numa população. Porém, biólogos evolucionários acreditam que podem detectar a seleção natural em funcionamento no passado recente, examinando os dados fenotípicos, ou naturais.

Esses dados são encontrados em grandes estudos médicos, como o estudo cardíaco Framingham, no qual muitas características de uma população são monitoradas ao longo de vários anos. Usando sofisticadas técnicas estatísticas, biólogos dizem poder distinguir traços que estejam mudando sob pressão da seleção natural, seja por efeitos ambientais ou pela deriva genética – a mudança genética aleatória que ocorre entre gerações.

Sintetizando os resultados de 14 estudos num artigo, publicado no ano passado em Nature Reviews Genetics, um grupo liderado por Stephen C. Stearns, de Yale, escreveu que ”o quadro emergente é que a seleção está agindo em sociedades pós-industriais para reduzir a idade da primeira reprodução em ambos os sexos, elevar a idade da menopausa nas mulheres e melhorar traços como colesterol total no sangue – características associadas ao risco de doenças e mortalidade’’.

O estudo de biólogos da Universidade de Quebec é uma boa análise de ”um conjunto extraordinário de dados’’, afirmou Stearns, além de ser ”o exemplo mais recente de uma resposta genética à seleção numa população humana’’.

”Nossa cultura está mudando e a biologia está tentando acompanhá-la’’, explicou. ”Mas a cultura muda com maior rapidez – os genes não conseguem acompanhar os iPads’’.

Segundo Milot, as alterações genéticas se mostraram tão claramente em seu estudo porque outros fatores, que as poderiam ocultar, foram minimizados pelas condições sociais específicas em Ile aux Coudres. A ilha foi concedida por decreto real aos padres que administravam o seminário de Quebec e colonizada por 30 famílias que chegaram entre 1720 e 1773. As famílias assumiram a agricultura e em seguida, outras atividades, como a pesca. Ao longo do período foi mantida uma igualdade considerável e a população foi poupada das gradações de riqueza que podem influenciar aqueles que têm muitos filhos.

Além disso, como a maioria das pessoas se casava localmente, a população da ilha se tornou consideravelmente pura, apesar da proibição de casamentos entre primos de primeiro ou segundo grau.

Esses dois fatores, e a homogeneidade da população, deixaram um campo aberto para a proeminência de efeitos genéticos, afirmou Milot.

Estudos como o de Ile aux Coudres podem identificar a mão da seleção natural apenas nos dados mantidos pelos registros da igreja. Porém, muitos outros traços além daqueles da história de vida estão provavelmente sendo moldados pela seleção natural. Muitos aspectos da personalidade são hereditários, disse Milot, e ”seria extremamente interessante examinar se nossas sociedades mutáveis causam modificações nas pressões da seleção em tais traços’’.

Jonathan Pritchard, geneticista populacional da Universidade de Chicago, disse que ”rápidas adaptações desse tipo são plausíveis, em princípio’’.

Em características que são influenciadas por muitos genes, a seleção natural pode agir rapidamente – pois não precisa esperar pela chegada de uma nova mutação favorável. Tudo o que ela precisa fazer é aumentar a abundância de alguns dos genes afetando o traço em questão, um processo conhecido como ”varredura suave’’. Se a idade da primeira reprodução é influenciada por muitos genes distintos, ”é concebível que a seleção possa ser extremamente forte’’, concluiu.

Luis Nassif

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