Thomas Henry Huxley, o buldogue de Darwin

Da Folha

O outro lado do buldogue de Darwin

Reinaldo José Lopes

Quem estuda a história dos grandes debates que cercaram a publicação de “A Origem das Espécies”, clássico de Darwin, em 1859, acaba tendo uma visão um bocado enviesada do homem que se notabilizou como o “buldogue de Darwin”.

Thomas Henry Huxley (1825-1895), grande defensor da ideia de evolução das espécies (embora tivesse dúvidas em relação à seleção natural), ficou famoso por supostamente esmigalhar os argumentos do bispo anglicano Samuel Wilberforce num debate público — e, em muito menor grau, pela sugestão presciente de que as aves descendiam de pequenos dinossauros (aceita largamente pelos paleontólogos hoje).

Menos gente sabe de outra contribuição intelectual importante de Huxley: ele cunhou o termo “agnóstico”, com o desejo de indicar precisamente a impossibilidade de provar ou desprovar a existência de Deus e da vida após a morte, entre outras coisas. E, justamente por ele ter passado à história como o agnóstico por excelência, fiquei meio de queixo caído ao topar com as seguintes afirmações dele:

”As doutrinas da predestinação, do pecado original, da depravação inata do homem e do destino nefasto da maior parte da raça humana, do primado de Satanás neste mundo, da vileza essencial da matéria, de um Demiurgo malévolo subordinado a um Todo-Poderoso benévolo, o qual só recentemente se revelou, por mais problemáticas que sejam, parecem-me vastamente mais próximas da verdade do que as ilusões populares ‘liberais’ de que todos os bebês nascem bons”.

Hein? Não acho que esse tipo de afirmação mostre que Huxley não passava de um calvinista no armário, de um membro do serviço secreto de Santo Agostinho. Mas mostra, isso sim, como até as figuras científicas mais secularizadas precisam dialogar com nossos dois milênios de cultura cristã.

Luis Nassif

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