Do Jornal GGN
Diretor do MIT diz que Brasil precisa assumir riscos se quiser inovar
Luiz Genro
O Brasil precisa de menos burocracia, de mais investimentos e de arriscar mais, em um modelo de educação não formal, voltado para o empreendedorismo, que crie um ambiente favorável ao surgimento de uma cultura de startups.
A afirmação é de Joichi “Joi” Ito, atual diretor do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que deu uma palestra sobre inovação no seminárioChallenge of Innovation: Thinking out of the box with MIT – promovido pela Fundação Certi (Centro de Refeência em Tecnologias Inovadoras), de Santa Catarina, e pelo Industrial Liason Programa (ILP) do instituto. Ito falou a uma plateia formada por 450 pessoas, entre executivos, profissionais de Pesquisa e Desenvolvimento de empresas e representantes do governo.
Para o diretor do Media Lab – laboratório de mídias digitais que é referência mundial em novas tecnologias, com projetos como um modelo de carro do futuro e um papel de parede que conduz eletricidade – o modelo atual de educação não ensina as pessoas a serem criativas. Ele aponta que “a maior parte daquelas que estão em startups de tecnologia não tem diploma formal”. Ito sugeriu que o país tem gente com criatividade, mas precisa vencer dificuldades como o custo e o tempo para abrir uma empresa – além de investir em modelos informais de educação.
Reconhecido como um dos mais importantes pensadores sobre inovação, políticas digitais e o papel da internet na transformação da sociedade, Ito listou alguns itens que considera fundamentais, como priorizar a prática sobre a teoria e perder o medo do risco. “Quanto maior a empresa, maior a preocupação em não errar do que em inovar”, explicou.
O diretor do Media Lab disse que quem quer inovar não pode evitar o fracasso, que o importante é ter resiliência. Segundo ele, investe-se em muitos projetos, mas “um ou dois acertos compensam; a ideia é tentar encontrar aqueles que vão acertar na mosca”. Ele citou o caso do YouTube, que começou como um site de vídeos para encontros e acabou encontrando seu caminho depois de algumas mudanças no foco.
O diretor do Media Lab apontou para o fato de que a internet reduziu o custo da inovação, deslocada dos grandes centros de pesquisa rumo a pequenas startups. “Empresas como Google e Yahoo começaram quase sem dinheiro”, acrescentou. Ito comentou também que antes da internet, “era tudo centralizado, avesso a riscos”, mas que, com a chegada da rede – um ambiente anárquico, descentralizado, que privilegia a inovação – “os custos das redes abertas caiu, fazendo com que caísse também o da inovação”.
Depois de explicar que pessoas de sorte têm visão periférica, Ito comentou que ter foco, concentração e planejamento são itens contrários ao que dá certo. “O fracasso não deve desanimar, porque o importante é continuar tentando acertar”, afirma.
Segundo ele, um item fundamental para que surjam ideias inovadoras é pensar pequeno e rápido, citando o exemplo do robô social, desenvolvido no Media Lab. O projeto contou com a participação de vários tipos de profissionais focados em criar uma máquina para acompanhar a saúde de crianças e de idoso – no projeto, mais importante era a prática do que fazer uma tese sobre o assunto antes. “Lá, nós aprendemos pela construção, não pela instrução”.
O diretor do MIT explicou que atualmente a inovação acontece nas bordas, em qualquer lugar do mundo. Citando o Linux, na Finlândia, e a linguagem de programação Ruby, criada no Japão, disse que essa é uma boa oportunidade para o Brasil, já que muitas soluções digitais não precisam de altos investimentos.
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Inovação no MIT: de comércio eletrônico a tratamento contra AIDS
Mário Bentes
O segundo e último dia de palestras e discussões propostas na edição deste ano do evento Challenge of Innovation: Thinking out of the box with MIT, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), trouxe cinco especialistas de diferentes áreas para discutir os caminhos necessários para inovação tecnológica com vistas a gerar benefícios humanos e econômicos. Cada palestra do evento, nesta quarta-feira (8), teve duração de cerca de 45 minutos com abertura para participação do público, que lotou o centro de convenções do Hotel Bourbon, no centro de São Paulo.
Apesar de serem de áreas diferentes, todas as palestras focaram na necessidade de se construir propostas de inovação para gerar novas tecnologias, em especial que sejam mais eficazes no que se propõem a fazer e com menores custos de desenvolvimento e utilização, de modo que possam se “popularizar”. Por meio de exemplos de suas próprias experiências na execução de projetos de pesquisa, os palestrantes mostraram situações reais onde problemas ou obstáculos se tornaram oportunidades para criar novos métodos, recursos e procedimentos.
Um dos exemplos foi descrito pelo médico Utkan Demerci, professor assistente de Medicina e Ciência e Tecnologia da Saúde na Universidade de Harvard, nos EUA. Diante de um cenário onde diagnósticos precisos e tratamentos eficazes contra o vírus da AIDS ainda são uma realidade distante em países da África – região que concentra a maior parte das pessoas infectadas em todo o mundo –, o pesquisador coordenou, no MIT, o desenvolvimento um método de diagnóstico mais ágil que o tradicional por meio da nanotecnologia.
Saúde e energia
O trabalho consistiu na criação de dispositivos médicos inteligentes que são capazes de identificar com mais rapidez e precisão células cancerosas nos ovários femininos a partir de exames de urina e, ainda, de fazer uma contagem mais eficiente das chamadas células “CD4”. Sabendo que a contagem destas células no organismo diminui diante da presença do vírus HIV, o procedimento pode auxiliar os médicos a detectar os patógenos inerentes à doença.
A necessidade de ampliar as capacidades mundiais de fornecimento de energia – seja para abastecer o consumo cotidiano ou mesmo para manter o pleno desenvolvimento de novas tecnologias –, bem como as dificuldades de se criar matrizes energéticas sustentáveis e não-agressivas ao meio ambiente foi a espinha dorsal do trabalho do engenheiro Ahmed Ghoniem. Professor do MIT com ênfase em engenharia mecânica, o cientista trabalhou no desenvolvimento de tecnologias que convertam gases abundantes na natureza – como o dióxido de carbono – em fontes de energia.
O trabalho consiste na criação de sistemas de reatores que comprimem os gases e, com ajuda de elementos orgânicos simples e quase inesgotáveis como o lodo, são capazes de gerar combustíveis sintéticos para gerar energia. Uma vez consolidada, o pesquisador espera que a tecnologia possa substituir as atuais utilizações de combustíveis fósseis – cuja queima libera grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para o aquecimento do planeta.
Diálogo na Internet
As dinâmicas que movimentam as diversas áreas do conhecimento são as próprias causadoras da necessidade de se criar caminhos diferentes para manter a própria dinâmica do conhecimento, de acordo com Martin Mocker, do Centro Sloan de Pesquisa de Sistemas de Informação do MIT. O especialista palestrou sobre modelos digitais de negócios e as formas de interação das empresas atuantes na Internet com seus próprios clientes.
O especialista simplificou em três etapas principais o que muitos acreditam ser um delicado e complexo processo: conteúdo, experiência do cliente com o produto e a plataforma oferecida para que o cliente desfrute e consuma os produtos. Mocker citou casos de grandes empresas de atuação digital, como a gigante varejista Amazon – recentemente ingressada no Brasil –, Apple e, para ilustrar um caso interno, o Banco do Brasil, administrado pelo poder público.
O especialista procurou destacar exemplos além das empresas mencionadas, mas de modelos de negócios dos próprios participantes da palestra, analisando eventuais erros cometidos e propondo discussões sobre novos caminhos a serem adotados pelos empresários.
O evento encerrou suas atividades com uma discussão sobre a própria necessidade de se compartilhar conhecimento adquirido como forma de visualizar novos caminhos para a inovação tecnológica. Martin Schmidt, professor de engenharia elétrica do MIT apontou similaridades entre o mundo acadêmico e a indústria e os benefícios de quando especialistas de ambas as áreas trabalham juntos.
‘Pensando fora da caixa’
Um diferencial do evento deste ano em relação à edição anterior foi o ingresso, como parceria ao MIT, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Fundação CERTI. Criado pelo MIT, o evento tem objetivo de realizar, anualmente, um encontro com dirigentes de grandes empresas nacionais e multinacionais, lideranças do setor público e empreendedores-referência em diversas áreas de atuação para trocar experiências e interagir com especialistas do MIT sobre temas estratégicos para o mundo.

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