O problema de interpretação de textos na internet

Sugerido por IV Avatar da Meia Noite

Do blog do Sakamoto

Parece má fé. Mas é só falha na interpretação de texto

Leonardo Sakamoto

Tenho constatado que a interpretação de texto não é o forte de muitos comentaristas de textos na internet. Você se esforça para dizer que o “céu é azul” e o nobre leitor entende que a “morsa está gripada”. Explica que “a água é poluída” e ele reclama que você esta defendendo “um abraço em um zumbi fedorento”.

Pensando na qualidade da educação deste Brasil, o blog lança, veja só, o concurso de redação “Escreve, que eu te leio”, que irá premiar o melhor comentário inserido neste post.

A regra é simples: o comentário deve conter, pelo menos, seis das dez palavras e expressões abaixo. Elas foram sugeridas sem nenhuma segunda intenção aparente por alguns amigos jornalistas de redações em São Paulo, que aproveitam para dedicar sua participação nesta importante iniciativa educacional às professoras que lhes mostraram que aprender a ler é ir muito além da vovó que viu uma uva.

Este mesmo grupelho anônimo vai indicar o melhor comentário, baseado na criatividade, estrutura e argumentação, que ganhará o livro “Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”, da Boitempo Editorial, que conta com um texto deste que vos importuna.

O concurso “Escreve, que eu te leio” se encerra na próxima quinta (29). Seguem as palavras e expressões:

Médicos cubanos

Cotas

Homem de bem

Mulher honesta

Futebol é coisa de macho

Aborto é pecado

Maioridade penal

Comunismo

Vadia

Pena de morte

Um breve comentário: não acho que a interpretação de texto morreu com a internet. Também não sei se é possível cravar que estamos mais desatentos, superficiais ou incapazes de nos focar. Talvez nunca se entendeu muita coisa mesmo. Mas os textos não tinham área de comentários. E como apenas meia dúzia de pessoas tinha tempo para mandar carta, os jornalistas pensavam que estava tudo OK. É claro que, com a internet, as pessoas estão escrevendo para seus próprios grupos, dentro de seus próprios campos simbólicos. Se conseguirmos atuar na filtragem e tradução de determinadas informações hipercodificadas de e para esses grupos, teremos a beleza de conseguir democratizar mais conhecimento. Diariamente ajudamos a forjar símbolos coletivos que valem para uma grande gama de pessoas de Norte a Sul do país. A tristeza é que, se você quiser falar de “tchu” e de “tchá” diante de uma ameaça de um “ai, se eu te pego” será bem mais fácil do que discutir consumismo e discriminação de gênero.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador