A universidade e a pesquisa industrial

Comentário ao post A burocracia no caminho da pesquisa

A nossa industrialização, promovida por empresas nacionais e transnacionais, se fez em boa parte pela importação de tecnologias. Hoje, o setor nacional está assustado com sua perda de competitividade e corre atrás do tempo. Nesses anos todos, a pesquisa vem se sustentando pelas universidades e pelos institutos de pesquisa públicos (esses, em setores específicos ligados às políticas públicas, e não às demandas de mercado; talvez com exceção da EMPRAPA).

Agora, todos se voltam para a universidade como tábua de salvação. Só que a universidade não se adequa à pesquisa industrial, em nenhuma parte do mundo. Até em países onde as univesidades são até parcialmente apoiadas pela iniciativa privada, elas assumem a parte mais teórica da investigação, deixando o desenvolvimento de produtos para instituições ligadas às indústrias.

No caso da Alemanha, boa parte da parte da pesquisa industrial é realizada pela Frauenhofer Gesellschaft, uma espécie de grande cooperativa do setor industrial para fins de promoção de pesquisa. O empresário em busca de inovação faz um contrato com essa Sociedade, que aloca recursos financeiros e materiais (laboratórios e equipamentos) e arregimenta pesquisadores. Essa sociedade também tem institutos específicos próprios. Claro que existem contratos com as universidades, mas esses têm um papel de apoio teórico e gerencial (estruturação dos programas de pesquisa).

A natureza da pesquisa universitária, por mais que essa seja essencial para o desenvolvimento tecnológico do País, não se adequa às necessidades imediatas do mercado. Isso não é uma conclusão ideológia, e sim prática. Além da pesquisa acadêmica ser avaliada conforme número e qualidade de publicações (que matam na origem qualquer segredo industrial), elas seguem um ritmo próprio, pois se concentram da pesquisa teórica.

O maior risco econômico da pesquisa teórica advém de sua imprevisibilidade e total falta de controle do tempo: são modelos e experiências que são rejeitados; revisões sem fim previsível da literatura, visto que surgem novidades e que a publicação acadêmica virou uma verdadeira indústria (muitos congressos e revistas se tornaram atividades despudoradamente comerciais); novos modelos e teorias inovadoras que surgem dos diversos cantos do mundo e que precisam ser recenseadas, e por aí vai. Nenhum industrial vai ter condições de esperar os resultados dessa varredura e  financiar testes caros de modelos e produtos, muitas vezes sem garantia de sucesso. Mesmo instituições que ganharam muito com inovações (Google) estão reduzindo os riscos, se concentrando em produtos com maior expectativa de sucesso; senão, o mercado financeiro tira os CEO´s da poltrona…

Portanto, a pesquisa universitária é essencial, no Brasil. Mas não será exclusivamente dela que os programas de inovação vão se nutrir. É importante que o setor industrial, em vez de chorar e reclamar do governo (e pedindo medidas protecionistas não tão inovadoras assim), devem construir sua própria solução, nos moldes da Alemanha e de outros países. Podem (e devem) se utilizar das universidades para estruturar programas de pesquisa, e até utilizar recursos públicos. Mas a iniciativa têm de partir dos empresários. Será que toparão a parada, ou continuarão a se lamentar?

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador