Houve uma comissão de sindicância que concluiu pela culpa do professor. Pelas explicações, houve um erro grave, mas pode não ter havido dolo.
Para escrever uma tese, junta-se uma montanha de citações, documentos, fontes. Depois, há o trabalho quase logístico de encadear as informações para o texto final. Em muitos casos, perdem-se citações de parágrafos no meio da escrita, dando a impressão de que o autor se apropriou de ideias alheias. Nenhum autor de peso vai arriscar uma tese deixando de referenciar uma ou outra citação, especialmente quando se sabe que a tese sairá em uma publicação internacional. É impossível esconder um plágio em algo que estará acessível a todo meio especializado.
Não tenho maiores informações sobre esse episódio, mas gostaria de mais dados do lado do acusado.
Folha de S.Paulo – USP demite professor por plágio em pesquisa – 20/02/2011
USP demite professor por plágio em pesquisa
Chefe de trabalho que usou imagens sem creditá-las, ele diz não ter havido má-fé
É a 1ª exoneração do tipo em 15 anos; comissão conclui que ex-reitora, coautora, não teve relação com problema
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
A reitoria da USP decidiu demitir um professor de dedicação exclusiva, com mais de 15 anos de carreira, após entender que ele liderou pesquisa que plagiou trabalhos de outros pesquisadores.
A exoneração por plágio é a primeira na instituição em mais de 15 anos. O imbróglio envolveu também a ex-reitora Suely Vilela, coautora da pesquisa questionada. Ela não sofreu punição -a avaliação é que não teve relação com os trechos plagiados.
Outra pesquisadora teve o título de doutorado cassado. Era responsável pelas partes contestadas. Tanto o docente quanto a pesquisadora podem recorrer internamente e judicialmente das decisões.
“A punição de docente, discente ou funcionário técnico-administrativo é sempre dolorosa”, disse à Folha o reitor João Grandino Rodas, a quem coube a decisão da punição, após duas comissões internas terem recomendado a decisão. O processo durou mais de um ano.
“Contudo, há de se ter em mente que em casos gravíssimos, como os presentes, a ausência do devido castigo compromete a universidade, cujo maior tesouro é a credibilidade”, completou.
O docente Andreimar Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, foi demitido por ser o principal autor da pesquisa, que copiou imagens de trabalhos de 2003 e 2006, sem creditá-las aos autores, da UFRJ (Federal do Rio).
Um dos objetivos do trabalho da USP era investigar se uma substância isolada da jararaca é útil contra o vírus da dengue. Dez cientistas participaram da pesquisa, publicada pela revista “Biochemical Pharmacology”.
As imagens copiadas eram de responsabilidade de Carolina Dalaqua Sant’Ana. O trabalho foi uma continuação de sua tese para doutoramento na USP. A escola decidiu cassar o título por entender que houve plágio e “possível fraude” em seu trabalho.
A publicação em revistas científicas é um dos principais indicadores de produção no mundo científico. Uma boa produtividade rende prestígio e financiamentos.
RETRATAÇÃO
A Folha ligou anteontem para a casa do docente demitido. Uma mulher informou que ele não daria entrevista. A reportagem tentou por mais de um mês contato por e-mail, sem sucesso.
Em mensagem anterior, ele afirmou que “ocorreu um lamentável erro de substituição de figuras pela minha ex-aluna de doutorado”. Soares disse, porém, que não houve má-fé e que já havia tomado medidas para a retratação “deste grave erro”.
A reportagem não encontrou a pesquisadora que perdeu o título de doutora. Segundo a reitoria, ambos foram ouvidos no processo, ao qual a Folha não teve acesso.
A investigação começou em 2009, após a denúncia do próprio grupo da UFRJ, autor das imagens copiadas.
O último caso de demissão na USP por plágio foi em 1995, envolvendo docente do Instituto de Psicologia. Nos últimos anos, surgiram ao menos outras duas denúncias, nas área da física e do direito. Ambas não acarretaram em exoneração.
Folha de S.Paulo – Outro lado: Erro foi de troca de imagens por aluna, diz docente – 20/02/2011
OUTRO LADO
Erro foi de troca de imagens por aluna, diz docente
DE SÃO PAULO
O professor Andreimar
Soares não concedeu entrevista após sua demissão. Em
novembro de 2009, ele enviou por e-mail à Folha algumas respostas sobre o caso.
“Não houve plágio, mas
lamentável erro de substituição de figuras pela minha ex-aluna de doutorado”, disse.
“Não houve má-fé e todas as
medidas já estão sendo tomadas para a retratação deste grave erro junto à editora e
à comunidade científica.” A
retratação já foi feita.
Carolina Dalaqua Sant’Ana não foi localizada. Ao informativo da Adusp (sindicato dos professores da USP),
também de 2009, ela afirmou
que o que o professor disse “é
o que realmente aconteceu”
e lamentou a situação.
Por Humberto Borges
Acho um absurdo os inquisidores da USP retirarem o título de doutorado da pesquisadora, que havia sido conquistado por outro trabalho sem plágio defendido publicamente e aceito pelos componentes da banca de avaliação. Para retirar o título deveriam mostrar os erros na defesa de tese do doutorado, como é o caso do ministro alemão.
Também acho mais importante nesta história uspiana saber o resultado da pesquisa sobre a Dengue, ora questionada apenas por não citar 3 microfotos já publicadas. A pesquisa ajudou ou não nos estudos sobre a Dengue?
Quanto ao aspecto em si das 3 microfotos publicadas sem crédito de autoria, deve sim ser considerado para evitar a bagunça geral nos atuais tempos do copiar/colar da internet. Mas dever-se-ia usar o bom senso e considerar o tamanho do erro, sua importância no contexto maior do trabalho completo. E, mais ainda, a divisão do erro e respectivas punições entre todos os participantes que assinaram o trabalho, inclusive a ex-reitora, do grupo dominante da burocracia uspiana.
Se o trabalho proporcionar um grande avanço nos estudos sobre a Dengue, com certeza a imputabilidade da autoria e méritos serão exatamente o contrario, com a ex-reitora nos primeiros lugares das manchetes e citações de seus pares acadêmicos.
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