Sobre a evasão na USP

Por Maria do Carmo Zanini

Eu ia começar com “enquanto isso, na Universidade de São Paulo…”, mas me lembrei de que o fato já é passado há uns dez anos, pelo menos.

Eu lembro muito bem do baque que foi meu primeiro ano de faculdade na USP. Meu desempenho escolar despencou. Mudança de paradigma: eu saíra de um sistema de ensino em que o professor levava o aluno pela mão e as apostilas mastigavam os conteúdos para facilitar nossa digestão; na faculdade, o conteúdo estava em algum livro (com pouquíssimos exemplares) numa estante obscura da biblioteca e os professores não ganhavam seus salários para nos paparicar, nem para nos entreter.

Mas isso foi há mais de vinte anos.

DezaDez anos atrás, eu fui fazer outra faculdade, também na USP. Um curso que admitia 800 e tra-la-lá alunos no vestibular, daí, depois de um ano de ciclo básico, promovia uma espécie de “vestibular” interno, o ranqueamento, para dividir a turma entre várias habilitações específicas. De acordo com alguns professores, esse ranqueamento diminuía sensivelmente a taxa de evasão.

Bom, na habilitação que escolhi, as turmas começavam com umas 40 vagas, mais ou menos. E aí a evasão, que já existia no ciclo básico, começava para valer. No final do meu segundo ano, a turma estava reduzida quase pela metade. Lembro que alguns de nós começaram a ficar incomodados com essa coisa de perder colegas, pessoas que chegavam a chorar (de frustração ou humilhação) por não conseguir acompanhar as aulas. E alguns de nós procuraram os professores, questionando justamente se a universidade não poderia fazer alguma coisa para ajudar os alunos a superar essas dificuldades e continuar no curso.

Um professor por quem eu tinha grande admiração (e ainda tenho) recontou uma analogia que ele mesmo ouvira ao entrar na USP: a universidade é a parte funda da piscina, quem cai ali tem que aprender a nadar rapidinho para não morrer afogado. Também ouvimos de outros professores que a universidade tinha seu modelo de excelência e qualidade de ensino e não podia abrir mão disso (leia-se: não podia “se rebaixar ao nível dos alunos”) para atender às deficiências geradas pelo ensino médio e fundamental.

Entendi o argumento, mas nunca consegui concordar muito com isso. Parecia a perpetuação da universidade da elite para a elite, embora sustentada pelos impostos que todos nós (paulistas, no caso) pagamos. E, dado que, apesar dos dois “vestibulares”, algumas habilitações continuavam ameaçadas de extinção por causa da evasão, também me pareceu grande indício, se não prova, de que a Fuvest não funcionava nem mesmo como a USP queria.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador