USP atinge cem mil trabalhos de pós-graduação

Por Assis Ribeiro

Do Terra Magazine

100.000 

Cidade Universitária, campus da Universidade de São Paulo 
Marcos Santos/USP/Divulgação: Cidade Universitária, campus da Universidade de São Paulo

Cláudio Lembo
De São Paulo

A Universidade de São Paulo comemora um feito extraordinário: cem mil trabalhos em sua pós-graduação. É notável. Especialmente, quando se recorda o passado de nossas instituições superiores de ensino.

A universidade no Brasil é criação recente. O colonizador português não instalou, em sua imensa colônia, nenhum campus universitário. Agiu de maneira inversa aos espanhóis.

Estes, desde logo, ao iniciarem a conquista da América, buscaram erguer universidades. O fato parece positivo. Na verdade indicava os velhos preconceitos presentes na Europa hispânica.

A vontade de separar a nobreza dos outros. Ou seja, a escola era dirigida aos filhos das elites econômicas. Para o resto, a plebe, o analfabetismo endêmico.

Tratava-se de uma forma de dominação. Criou uma sociedade desigual. Alguns atingiam o conhecimento da época. A maioria permanecia estagnada, apenas exercitando os trabalhos braçais.

No Brasil não foi diferente. Mas, a ausência de universidades – parece absurdo – afigura-se altamente positivo. A universidade tardia nasceu mais aberta. Mais democrática. Mais arejada.

A primeira universidade brasileira, pouca gente sabe, surgiu em Manaus. Em pleno ciclo da borracha, a riqueza permitiu a edificação de teatro clássico em plena selva e de uma universidade.

Corria o ano de 1909. A prosperidade efêmera oriunda da extração da borracha levou à concepção e à instalação de uma universidade no Estado do Amazonas. Era privada e extinguiu-se com o empobrecimento da atividade extrativa.

Da Universidade Manaus restou a sua faculdade de Direito, mais tarde incorporada à Universidade Federal do Amazonas. O episódio da criação de escolas superiores em plena floresta úmida é um exemplo do esforço nativo em busca do conhecimento.

Ainda, na saga correspondente a busca da nacionalidade por arte e ciência, tem-se a formação de uma instituição privada em São Paulo: a Universidade de São Paulo. Os seus “sócios capitalistas” desejavam obter lucro com as atividades docentes. Durou de 1911 a 1917. Fracassou.

Neste vazio universitário, permaneciam os institutos isolados em seu objetivo de conferir possibilidade de estudo aos interessados. Poucos, é verdade, para imensidão do território nacional.

No final dos anos 20 e com a Revolução de 1930 a prática de aglutinação de escolas isoladas para a formação de universidades tronou-se corriqueira. Ocorreu em Minas Gerais e, em 1934, em São Paulo.

Criava-se, então, a USP, a Universidade de São Paulo. Ela, como as demais, manteve o corte social que identificava os estabelecimentos superiores de ensino: buscavam os oriundos das elites econômicas.

A universidade só se abre para todas as classes sociais tardiamente. E a USP, certamente, está entre as primeiras a conceber formas de universalizar o ensino.

Rompeu as velhas práticas próprias da escolástica. Lançou-se a pesquisa. A procura do novo tornou-se uma exigência. As conquistas mostraram-se expressivas no cenário das ciências médicas, na área da agricultura, na busca da tecnologia avançada, na conquista de novas visões da sociedade.

A pesquisa aplicada mudou a universidade e a USP merece homenagem por sua atividade neste cenário tão pouco relevante em nosso passado. Deixamos de ser uma sociedade de “românticos” para evoluir para uma sociedade contemporânea.

Ao atingir 100.000 trabalhos de pesquisa, a Universidade de São Paulo marca uma importante vitória da inteligência brasileira. Hoje, o país conta com a mais importante universidade da América Latina.

A universidade tardia, paradoxalmente, foi gratificante. Exigiu dos docentes e discentes esforços para romper barreiras. Conseguiu-se. Vale prosseguir.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador