Desemprego entre chefes de família causa crises e separações

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Empresa terceirizada de São Paulo seleciona candidatos para vagas de segurança e limpeza (CESAR ITIBERÊ / FOTOS PÚBLICAS)

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da CUT

Desemprego entre chefes de família causa crises familiares e separações  

Aumento do desemprego entre chefes de família tem provocado depressão, separações e crises familiares, diz psicanalista. Christian Dunker explica como lidar com o drama que afeta milhares de trabalhadores

por: André Acarinni e Rosely Rocha

O aumento do desemprego de chefes de família, em especial os provedores, homens que pagam as contas e sempre decidiram tudo sozinhos, pode provocar depressão, muito sofrimento e, em alguns casos, crises familiares que terminam até em separação.

Em julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de desempregados chefes de famílias, homens e mulheres, atingiu 22,7% dos trabalhadores e trabalhadoras com idades entre 40 e 59. No total,  27,6 milhões de brasileiros sofriam com a falta de postos de trabalho no país (12,9 milhões estavam desempregados); 6,6 milhões subocupados: pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais; e, 8,1 milhões poderiam trabalhar, mas não trabalham (força de trabalho potencial). Este grupo inclui os 4,8 milhões de desalentados (que desistiram de procurar emprego) e outras 3,3 milhões de pessoas que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos.

A situação de desesperança desse exército de desempregados, subocupados ou desalentados é preocupante, disse em entrevista ao Portal CUT o psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, que elaborou uma série de dicas de como lidar com o desemprego – veja abaixo – ao constatar o drama dos trabalhadores em seu consultório.  

“Me espanta que se fale tão pouco sobre como a perda do emprego  acaba em dissolução de casais, pois pega muita gente desprevenida”.

Segundo o professor, “é importante o período de luto, ficar triste, ficar com raiva e dividir com outros sua tristeza. É o mesmo que ir a um velório, a gente enterra, se despede da pessoa. Com o desemprego é o mesmo e as pessoas acabam pulando esse momento”.

O drama dos chefes de família

E não é difícil encontrar chefes de família separados de suas mulheres e familiares, enfrentando ações na Justiça porque não conseguem mais pagar a pensão para os filhos. E todo dia lá estão eles nos postos de intermediação de mão de obra, na busca desesperada por uma nova oportunidade no mercado de trabalho.

Este é o caso do baiano de Salvador, Ivan Freitas, 53 anos, que está há pouco mais de um mês na capital paulista à procura de emprego de vigilante. Separado, Ivan mora de favor na casa de amigos e sua situação econômica só não é pior porque a filha de 16 anos está sob os cuidados de familiares, e por isso não está pagando pensão.

“Meu sonho é conseguir um trabalho para poder alugar uma casa, prosseguir com minha vida. Mas tem dias que bate um desespero que olho pro céu e só rezo pra continuar andando”, diz.

Ivan, como muitos, reclama da dificuldade em conseguir uma vaga de trabalho, que muitas vezes lhe é negada por causa da idade.

“No Brasil, se você tem de 18 a 25 anos é muito novo para trabalhar, se tem mais de 35 é novo para se aposentar e velho para trabalhar”, critica.

Situação semelhante passa o porteiro aposentado Victor Benedito de Andrade, de 57 anos. Vivendo somente de bicos, ele diz que precisa trabalhar com urgência porque uma filha de 20 anos o processou para receber a pensão que deixou de pagar.

“Paguei pensão direitinho durante 18 anos, mas ela me cobra mais de mil reais por mês e minha aposentadoria é de R$ 1.600 e o aluguel é R$ 800. Estou sobrevivendo com a ajuda de outros filhos”, lamenta.

Já o eletricista William de Castro, de 49 anos, está há cinco anos sem registro em carteira de trabalho. Também separado com filhos de 18 e quatro anos, diz estar sem esperança, principalmente depois da reforma Trabalhista que, segundo ele, complicou ainda mais a vida do trabalhador, que só tem perdas e nenhuma vantagem.

“Viver de bicos é como jogar uma gota de água num prato quente de areia, ela se evapora. Eu estou deixando de comer para pagar aluguel“, conta desolado o eletricista.

Como lidar com o desemprego

Histórias semelhantes levaram o psicanalista Christan  Dunker a pensar em maneiras de ajudar os chefes de família a lidar com o desemprego, mantendo a saúde mental e a unidade familiar.

Segundo ele, “é importante o período de luto, ficar triste, ficar com raiva e dividir com outros sua tristeza”.

“É o mesmo que ir a um velório, a gente enterra, se despede da pessoa”.

Depois, é preciso fazer contas, elaborar um planejamento financeiro metódico com calma e não na primeira semana de desemprego, respondendo a perguntas como quais são os custos para se manter, por quanto tempo pode-se gastar dinheiro, quanto pode investir num curso e em processos de recolocação profissional? É importante também levantar quanto vale o carro, a casa, quais as dívidas a pagar para o caso do período de desemprego se prolongar e a pessoa precisar se desfazer de algum bem.

O psicanalista conta que vê em seu consultório desempregados que “não querem olhar para o dinheiro,  fazer contas, saber quais são seus custos”.

“É preciso fazer isso de cabeça fria e não de forma reativa, com medo de morrer de fome – ficar com raiva não resolve”, alerta Dunker.

Outra atitude a ser tomada de forma metódica e pensada, segundo o psicanalista, é voltar a estudar, se reciclar.

“A vida no trabalho tira a relação com o estudo, com novas e antigas relações pessoais. É preciso planejar e investir. Não é entrar no primeiro curso que ver, é reconexão social”, avalia.

E por fim, é preciso ampliar a rede social. Não ter vergonha de estar desempregado, contar para as pessoas que está sem trabalho.

“É preciso entrar na internet, abrir o seu Linkedin, ver o que os outros fazem nas redes sociais. Redescobrir antigos amigos, pessoas significativas da sua vida”, aconselha o professor da USP.

Desemprego causa depressão e crises familiares

O psicanalista Christan  Dunker explica que, historicamente, o que se espera de um pai de família é que ele seja o provedor, traga mais dinheiro do que a esposa, mesmo que ela trabalhe. Com o desemprego, o pai de família se sente desvalorizado, começa a se achar menos viril e, isso é corroborado pela mulher, que não o vê mais como o provedor da casa.

“O desemprego tem muitas vezes o efeito de destruir e rebaixar a possibilidade de se desejar esse homem, que se torna aos olhos da mulher, menos admirado e desejável. Assim, se corrompe essa função que foi construída historicamente pelo patriarcado”, explica o professor da USP.

Para evitar a dissolução de casamentos e da vida social, o psicanalista aconselha que o homem se mostre ainda mais engajado nas coisas que está fazendo, como estudar ainda mais, demonstrar que está buscando uma renda suplementar e batalhando muito para conseguir um novo emprego.

“Ele precisa se apresentar como um homem ‘desejante’ e não apenas como aquele que foi desprezado e recusado pelo patrão. Infelizmente, acontece o oposto, pois com forte pressão o homem se sente ainda mais frágil”, diz o psicanalista.

“É preciso se reinventar como casal”.

“Às vezes o desemprego destrói o casal ou constrói uma relação muito melhor. Depende da humildade, de se renunciar àquela forma de vida,” diz Dunker.

De acordo com o psicanalista, o desemprego afeta mais as relações familiares em que o homem sempre decidiu e pagou tudo sozinho e, quando ele perde o emprego, sua autoridade desmorona.

“Uma relação construída a partir de quem tem o dinheiro tem a autoridade será perdida, e para muitos homens é insuportável. Ele não consegue ser homem nessa situação. A coisa mais importante é aprender não no sentido da humilhação e do sofrimento, isso só emburrece a gente”, analisa.

O sentimento de derrota do pai de família ainda piora quando ele tem filhos adolescentes.

“Os momentos mais críticos são no início da puberdade, em que os filhos confrontam os pais ‘ você não sabe tudo’, e o filho descobre que o pai não é mais o super herói”.

Golpe de 2016 aumentou crises familiares

Segundo o psicanalista Christian Dunker, no início da crise econômica, logo após o golpe de 2016, as relações familiares, especialmente da classe média, não foram muito afetadas. Mas, depois de algum tempo com as pessoas indo de um emprego a outro, de forma precarizada e, agora, desempregadas, os relacionamentos familiares têm se deteriorado.

“Muitos dos meus pacientes mudaram de casa, e agora não têm como pagar o cartão de crédito, o colégio das crianças. A crise chegou para a classe média e a classe média alta”, conta o psicanalista.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Crise de identidade e mental do povo brasileiro

    O raciocionio cognativo foi muito afetado no povo brasileiro.

    Milhões perderam o discernimento da realidade, das coisas.

    A era da informação, chegou para alguns menos preparados, para confundir.

    Ter conta no facebook, instagram, twett. E ter péssima formação, foi péssimo para milhões

    de pessoas.

    A horda de idiotas, que vemos por aí, que se incluiram digitalmente não tinham aptidão intelectual

    para entender como funciona o mundo do crime, na mídia brasileira.

     

    Miriam Leitão deu-nos um sinal claro disso, quanto se irritou ao dizer a entrevistada Katia Abreu, vice de

    Ciro Gomes, que não era economista. Se irritou por conta da Katia Abreu achar que ela era economista.

     

    – Não sou economista, sou jornalista. – Respondeu rispidamente.

     

    Ora, o que diabos então vez ela nessas últimas décadas no maior programa matinal 

    do país, que é, ou era, o Bom Dia Brasi? 

     

    Essa mulher envenenou milhões de pessoas com seus palpites econômicos com ares de grande especialista, e

    ainda envenena, com a clara intenção de sabotar os governos petistas durante todos esses anos.

     

    Esse é um bom exemplo de que nos dias atuais, as pessoas devem ter bom discernimento do mundo 

    da realidade das coisas. E do sentimento de percepção de identificar os maus intencionados que cercam

    os meios de comunicação.

    1. Os sindicatos de que provem muito dos atuais governantes, jamais serviram para os interesses da Nação, qdo muito serviram para os interesses da classe que representavam e para os lideres que chegaram ao poder.

      As leis trabalhistas seguiram o mesmo caminho, patrocinadas por politicos oportunistas, no primeiro momento deram a falsa impressão de que beneficiavam os trabalhadores, a bem da verdade trouxeram a informalidade e dificuldades para as pequenas e micro empresas.

      O Patrão não é o inimigo a ser combatido. È preciso que isto fique muito claro.

      O Patrão neste País é também vitima.

      Esta ai todo histórico jornalístico contando das agruras que o empreendedor sempre sofreu, vítima dos políticos, dos administradores e fiscais corruptos, que sempre estiveram de tocaia para achacar aqueles que se propuseram a produzir alguma coisa neste País.

      O capital não é o monstro. O monstro é o gigantismo do estado, os megas-salarios, a corrupção o sorvedouro que tudo suga em detrimento da saúde da coletividade, a força do coletivo é o individuoe se o individuo tem limitações insuperáveis de crescimento, como é que se pode esperar que a coletividade cresça?

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