Desemprego na América Latina, por Clemente Ganz Lúcio

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Desemprego na América Latina

por Clemente Ganz Lúcio

As graves dificuldades para sustentar o crescimento econômico e os empregos estão no núcleo do capitalismo e afetam todos os países. As causas são diversas e complexas e muitas das saídas encaminhadas pelos neoliberais agravam as desigualdades e colocam os países em crises sociais. Os trabalhadores sofrem as consequências com o fechamento dos postos de trabalho, o arrocho salarial e o desmonte das políticas de promoção e proteção social. A ordem dominante, mais uma vez, protege os ricos e a riqueza.

O desemprego chegou para ficar por um bom tempo também na América Latina, é o que indica o estudo “Panorama Laboral 2015 – América Latina y el Caribe”, documento da Oficina Regional da Organização Internacional do Trabalho que analisa a performance do mercado de trabalho na região. A desaceleração e perda do dinamismo econômico afetam fortemente os empregos desde 2014. A taxa média de desemprego aberto na região continuou aumentando, passando de 6,2%, em 2014 para 6,7%, em 2015, acrescentando mais 1,7 milhões de pessoas sem ocupação, resultado de um recuo de 0,3% no nível de atividade econômica.

Inverte-se estruturalmente a tendência anterior de redução do desemprego, aumento da proteção social e melhoria da qualidade dos postos de trabalho. Desde 2013, a ocupação já caiu 2,9 pontos percentuais (p.p.), quando, por exemplo, na crise de 2008/2009 a queda foi de -1,8 p.p..

Há desigualdades, pois enquanto a taxa de desocupação para as mulheres foi de 8,2% em 2015, para os homens correspondeu a 5,9% e para os jovens atingiu a casa dos 15,3%.

O espelho retrovisor mostra que no passado recente o crescimento econômico continuado gerou postos de trabalho e fez diminuir o desemprego. Os jovens passaram a contar com o apoio familiar e com políticas públicas para se dedicarem ao estudo, deixando de pressionar o mercado de trabalho, e aumentando sua qualificação educacional. Os postos de trabalho ganharam qualidade, diminuiu a precarização, o assalariamento com registro cresceu e reduziu o número de ocupações informais. O nível de proteção laboral dos postos de trabalho aumentou, principalmente onde há organização sindical ativa e valorização da negociação coletiva.

Políticas de proteção da base salarial por meio da valorização do salário mínimo contribuem para o incremento da massa salarial entre aqueles que ganham menos e fortalecem, com os empregos, o mercado interno de consumo. A existência desse conjunto de fatores por vários anos dinamizou a demanda das famílias e sustentou a atividade produtiva.

Trabalho protegido, salários crescendo, desemprego em queda, redução da informalidade e da precariedade do trabalho, combinados com políticas de proteção e promoção social, vinham atuando para reduzir a miséria, a pobreza e a desigualdade, gravíssimos problemas latino-americanos.

Infelizmente, mais uma vez, o tempo histórico dessa dinâmica favorável do emprego está ficando para trás. Os sinais em nosso continente são de novos ajustes conservadores e concentradores de renda e riqueza, de aumento das desigualdades, do desemprego e do arrocho salarial. É da lógica do capitalismo garantir a riqueza dos ricos, sejam pessoas, empresas ou países. As décadas e os séculos passam, o mundo se transforma, a base produtiva se expande, a capacidade de gerar bem-estar e qualidade de vida para todos aumenta, porém o que fica para a classe trabalhadora é o gosto amargo da desigualdade e da injustiça frente a tantas possibilidades. Felizmente tudo é história, pois é resultado da ação humana, o que abre sempre a possibilidade de outro jogo social, conduzindo-nos à luta como uma exigência ética permanente.

Clemente Ganz Lúcio – é sociólogo e membro do Grupo Reindustrialização

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Hoje fiquei muito

    Hoje fiquei muito impressionada com a multidão de venezuelanos entrando na colômbia para comprar comida. 

    A situação na Venezuela chegou a um nível que não se sustentará mais. Esse substituto de Chávez devia pegar o chapéu e se mandar, porque já provou ser um péssimo presidente, e o povo não pode continuar desse jeito. 

     

    1. Maria

      Pela primeira vez, discordo em parte, de um comentário seu. O Maduro é ruim mesmo, e c/ a baixa do petróleo piorou tudo. Além disso vc não sabe que os empresários, que são contra ele, escondem as mercadorias ?

      abraço.

  2. Mais teoria conspiratória

    Mais uma vez a austeridade inevitável nas crises é carimbada de “neoliberalismo” e apresentada como conspiração sinistra para beneficiar os ricos e ferrar com o povo.

    Não percebem que a atual crise que provoca o desemprego é a consequência dos gastos excessivos e da irresponsabilidade fiscal do último governo. Até quando vocês vão achar que economia é história de carochinha com os bons de um lado e os maus do outro?

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