Jogo social: desafios para resistir e avançar!, por Clemente Ganz Lúcio

Tivemos uma grande derrota na definição das regras do jogo. Haverá repercussão nas condições de trabalho, na distribuição dos resultados e nas instituições de proteção trabalhista (sindicatos e justiça). É preciso reconhecer que perdemos para aprender e seguir com a luta (Foto Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

do Brasil Debate

Jogo social: desafios para resistir e avançar!

por Clemente Ganz Lúcio

Em julho de 2014, o país foi palco de uma grande derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo. Uma partida, um grande fracasso e a perda definitiva daquele campeonato. A taça, mais uma vez, não ficou para o Brasil, em casa, na segunda Copa realizada aqui. A nação, entre a raiva e a tristeza, desmontou.

Há pouco mais de uma semana, os trabalhadores brasileiros sofreram também uma derrota, mais trágica do que as da seleção brasileira. E foi também uma segunda perda, agora no Senado Federal – a primeira aconteceu na Câmara dos Deputados, em 26/04 – com a aprovação de uma enorme reforma da legislação trabalhista no país. Parte substantiva da legislação brasileira do direito do trabalho foi transformada em normas que visam a proteger as empresas, precarizar as condições de trabalho, arrochar salários, limitar o acesso à justiça, enfim, criar condições permanentes para reduzir e ajustar o custo do trabalho na economia brasileira. Diferentemente do ocorrido na Copa do Mundo, não houve uma comoção nacional. Diferentemente do campeonato, também, o time dos trabalhadores não foi abatido por adversários, mas por aqueles que estavam lá para legislar por todos.

Felizmente, o jogo social não é uma Copa do Mundo, ou seja, é um campeonato que não tem fim, uma jornada ininterrupta de lutas que constituem o conteúdo da história. O Estado moderno, a democracia, os partidos políticos, as eleições, o direito universal ao voto, os direitos sociais e trabalhistas, os sindicatos e as negociações coletivas, entre outros exemplos, são construções políticas que estiveram no centro das batalhas propositivas da classe trabalhadora. Inúmeras vitórias deram outra conformação à vida em sociedade, resultando no que se vive hoje coletivamente. Foram muitos combates. Milhares de trabalhadores e trabalhadoras deram o sangue e a vida por cada conquista. Mas, é claro e sempre bom lembrar, sobretudo nesse momento, em toda essa história de lutas, também houve derrotas. E, mesmo assim, aqui ainda estamos!

No capitalismo, o processo de produção econômica ocorre com mecanismos de subordinação, submissão e exploração dos trabalhadores. Os resultados são intencionalmente distribuídos de forma desigual. Nesta sociedade, a luta de classe é hoje um fenômeno que ganha dimensão política, com a organização sindical atuando como ferramenta para estimular o movimento dos trabalhadores para as lutas, inclusive nos espaços institucionais que cria e ocupa. Os trabalhadores disputam, no jogo social, as condições do processo de produção, a distribuição dos resultados, o conteúdo das regras e as instituições criadas para conduzir a competição.

Foi grande a derrota sofrida na definição das regras do jogo. Haverá repercussão nas condições de trabalho, na distribuição dos resultados e nas instituições de proteção trabalhista (sindicatos e justiça)! É preciso reconhecer essa derrota, para aprender, como fizeram tantos outros nos dois últimos séculos de lutas. Mas é fundamental olhar para frente, compreender que a vida coletiva prossegue no jogo social contínuo, ininterrupto e interminável.

Agora, nesses dias, é preciso pegar a bola desse jogo no fundo do gol, levá-la de cabeça erguida até o meio do campo, olhando com ternura e firmeza para cada companheiro e companheira e, em breve tempo, reconstruir, na cabeça e no coração de cada um, com uma expressão que acolhe e energiza, a temperança necessária para voltar, com inteligência e paixão, para a partida. A bola vai rolar!

Por isso, há quatro desafios imediatos:

1.Melhorar a preparação das campanhas salariais, aperfeiçoando estratégias, elaborando propostas e conteúdos e animando a organização sindical.

2.Repensar a organização sindical como instrumento do movimento sindical, reelaborando as estratégias de organização desde o chão das empresas, tendo como centro os sindicatos e uma estrutura vertical orientada pela unidade de ação dos trabalhadores e para a solidariedade de classe.

3.Redesenhar a luta institucional, tomando iniciativas para enfrentar essa nova legislação em muitas frentes.

4.Produzir conhecimento sobre as profundas transformações na economia e produtivas, os impactos sobre os empregos, as condições de trabalho e os salários, repensando os desafios sindicais, construindo novas formas de organização, de luta e realizando muita formação sindical.

À luta, porque ela é o sentido da existência!

Clemente Ganz Lúcio – Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. É colunista do Brasil Debate

Redação

3 Comentários

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  1. Sem clemência o missivista

    Sem clemência o missivista começa falando de tema sério comparando com copa do mundo ?  ..tenha paciência

    Fora a reforma trabalhista, outra tida ano passado limitando o teto de gastos é bem mais séria  ..assim como o demonste da petroleira. 

    Falar em campanha salarial pra compensar  e remediar, da vontade de chorar  ..o mesmo temos quando os movimentos populares tentam resolver a falta de moradia CRIANDO FAVELAS pra todo lado …dãããã. 

    Nosso problema é mais embaixo, tá na origem~, da educação e no exemplo

    PIOR que enquanto alguns ganham muito chantagenando o povo e dando PÈSSIMOS EXEMPLOS no exercício da profissão ..tipo malgistrados e promotores que ganham acima do teto e tem 60 dias de férias;ano, ou policiiais que viram assssinos, ou ainda professores que faltam 30 dias do ano (e se abonando com 45 dias de férias) e ainda se aposentando muito mais cedo que a maioria dos trablahadores  ..parece que o UNIVERSO de informais que acabam virando MICO emprecáriados (hoje, 48 milhões deles, contra 38 milhões de assalariados formais) tende a aumentar

     

     

     

  2. FORA DE PAUTA
    Por tudo o que

    FORA DE PAUTA

    Por tudo o que já se sabe.

    Pelas gravações, vazamentos e malas de dinheiro.

    Pelas entrevistas, pelas medidas e pelos atropelos às normas legais e constitucionais acordadas entre as partes.

    Por tudo o que já se sabe e que se desenha, pela agressividade desmedida e ATREVIDA.

    Penso que há chegado o momento de se cobrar com VEEMÊNCIA a punição exemplar dos golpistas que apearam, apesar das circunstancias conjunturais, uma presidente eleita.

    Aqui ainda há de se perguntar: AONDE ESTÂO as Instituições MILITARES que juraram fidelidade à democracia, e a defender a pátria de aventureiros e de interesses estrangeiros ? 

    Em se preparando prum futuro processo permissivo de ANISTIA, desta vez o BRASIL precisa se precaver e NÂO permitir com que estes AVENTUREIROS GOLPISTAS se safem em nome dum futuro pacifica que, hoje, eles provaram que em passado recente estavam MENTINDO pra toda sociedade brasileira.

    NÂO !! GOLPISTA não merece clemência e nem perdão !! mas sim a FORÇA e equilibrio da civilização  ..cadeia neles, dentro das regras !! (estejam eles escondidos e/ou protegidos em qq um dos três, quatro ou cinco Poderes da Republica  ..executivo, legislativo, judiciário, midia e MP)

  3. Luta

    Antes do governo Lula os trabalhadores tiveram váris derrotas, jamais como essa. Nenhum governo anterior ousou tanto,nem os militares.Na fotografia acima podemos ver o despreparo da “resistência” dos trabalhadores , sin dicalistas, estudantes. Não sabiam o que lhes podia acontecer? Por que não se prepararam para um confronto?Por que não se protegeram? Como entrar num campo aberto para receber balas de borracha que tiraram a vista de uma manifestante? É uma ingenuidade e uma falta de noção de como contestar impressionante.Jamais tantas pessoas poderiam se expor tanto e sem nenhuma proteção.A resistência a Ditadura inclusive a armada foi muito mais inteligente que a resistência atual. Se não houver uma união das esquerdas e um projeto inyeligente de resistência perderemos todas as batalhas.

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