Pesquisa não leva em conta as características do trabalho do engenheiro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Comentário referente ao post. Faltam engenheiros no Brasil?

Por rdmaestri

Mais uma pesquisa que não leva em conta o principal fator, as características do trabalho do engenheiro!

Para se determinar com cuidado se falta ou não engenheiros no Brasil tinha-se que examinar com mais cuidado o que acontece com o produto final do trabalho do engenheiro, principalmente o que ocorre nos dias atuais nas obras públicas de de engenharia.

O serviço público paga extremamente pouco as profissões das áreas técnicas vinculadas a engenharia, e isto se reflete assim como empresas privadas que “economizam” na não contratação de profissionais no imenso custo social que isto implica. Bilhões de reais são postos fora todos os anos pelo poder público pela falta de engenheiros e de estruturação correta da profissão, porém ninguém nota isto.

Se verificarem nas obras públicas a quantidade de problemas que ocorrem na qualidade final dessas ou mesmo no custo por projetos, fiscalização e execução deficientes, verão que o que se atribui em muitos casos a desvio de dinheiro ou superfaturamento é simplesmente o resultado de obras mal concebidas sem a devida engenharia de projeto.

Diferentemente dos médicos que quando ganham pouco no serviço público geralmente não trabalham e fazem um verdadeiro mimimi, os engenheiros simplesmente abandonam estas carreiras e não ficam chorando as pitangas por remunerações maiores por serviços mal executados, eles procuram outro serviço, não outra boquinha. Há um mercado de emprego paralelo que absorve a mão de obra dos engenheiros, o sistema financeiro é um deles, mas também poderíamos falar em outros.

Se a taxa de engenheiros que não exercem engenharia é muito maior do que a dos médicos é simplesmente porque os engenheiros podem trabalhar em outras funções que os médicos não conseguem. Normalmente não se vê um médico trabalhando na diretoria de uma instituição financeira, não porque os médicos não queiram, simplesmente porque não tem capacitação técnica para tanto.

Outra coisa é a pressão social aliada à incapacidade técnica da imprensa e de órgãos de controle em fiscalizar o serviço de engenharia. Falar que faltam médicos em unidades de saúde básica é simples, se entra numa delas e se conta o número de pacientes e o número de médicos, é uma conta simples que qualquer jornalista, político ou ONG de controle do uso do dinheiro público consegue fazer,e a partir desta continha simples dizem, estão faltando médicos.

Agora olhar uma obra de engenharia e verificar que o anteprojeto ou mesmo o estudo de viabilidade econômica estava com erros básicos não é para qualquer um. Os Tribunais de Contas (estaduais e federal) estão pagando mico violentos a cada anúncio do tipo:

“Em duzentas e cinquenta obras do ministério tal foram verificados indícios de superfaturamento!”

Depois destas afirmações bombásticas há um enorme hiato e alguns anos depois se descobre que das duzentas e cinquenta obras, duas ou três se demonstrou o superfaturamento, o resto era justificado por um projeto inadequado que simplesmente esqueceu que algo insignificante com a topografia estava virada ao contrário (eu conheço um caso destes, onde os reservatórios enterrados de uma estação de tratamento vivaram reservatórios elevados!).

Apesar desses tribunais possuírem corpos técnicos, engenheiros, arquitetos, economistas e advogados, muito bem pagos, recém saídos dos bancos escolares, sem a mínima experiência e que dedicaram parte de sua vida estudando para fazer concurso, estes corpos técnicos não conseguem provar o suposto superfaturamento, pois eles se baseiam geralmente me planilhas não aplicadas ao caso, no desconhecimento das características dos projetos e realidade na hora de construir e outras.

Se tivéssemos uma fiscalização eficiente não na hora do fim das obras mas sim já nos editais ou nos projetos, estas denúncias de superfaturamento e outros desvios diminuiria em muito, e com elas se economizaria muito dinheiro.

Nas empresas particulares o cenário é mais ou menos o mesmo, vários empresários que começaram um empreendimento pequeno ou médio em termos internacionais, pela total falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento acham mais fácil vender a sua empresa para a primeira transnacional, que oferece algo, do que ter que vender a sua BMW para investir em sua empresa.

Esta tabelinha do IPEA simplesmente me irrita, parece igual a um raciocínio de verificação do aumento do preço do TOMATE, e não vou dizer o que gostaria fazer com ela que teria que ser indelicado aos profissionais, mas quem quiser preencha os pontinhos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

14 Comentários

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  1. Isto foi um comentário não um artigo.

    Antes que comecem a falar mal da forma do texto, aviso que isto foi um comentário que fiz sobre o desemprego na Engenharia, não retiro nada em termos de conteúdo, porém a forma deixa muito a desejar pois simplesmente escrevi em dez minutos e não revisei nada!

    Insisto, o conteúdo não tiro uma vírgula, mas na forma tiraria algumas e poria outras, tudo isso em respeito aos leitores.

    1. Não se preocupe!

      Todos nós que escrevemos comentários no blog para participar, portanto excluindo os trolls mais ou menos amalucados que apareceram nas duas últimas eleições presidenciais e não nos fizeram o favor de sumir daqui, escrevemos rapidamente e sem tempo para formatações.

      Mas seu comentário, agora post, é muito interessante pelo menos para mim, engenheiro (mas não de obras) e administrador de empresas, portanto do mundo cartesiano, tão pequeno no Brasil…

  2. Engenheiros arrecadadores.

    Dia da Bandeira, 19 de novembro, teremos eleições para o CRECI-SP  e CONFEA. Não tenho candidatos, mas me assusta o e-mail de recebi de uma tal oposição. Dizem as más línguas da oposição (ou seriam maus dedos?) que o atual presidente do sistema CONFEA está metendo a mão em grande estilo. Seis milhões de reais. Cada conselheiro recebe R$ 980,00 de diária quando viaja a trabalho. Quando são viagens internacionais, o mesmo valor, só que 980 euro ou dólar. Dá para comer um belo feijão em Paris olhando para a Torre Eiffel.  Reuniões em Brasília são frequentes. Reuniões para preparar reuniões e por aí vai. O distinto presidente do sistema CONFEA (espécie de federação dos CREA’s) tem meu sobrenome, espero que não confundam, por favor. Só posso dizer que o CRECI-SP melhorou bastante, principalmente na questão de atendimento dos profissionais.

    Mas essa história de gastarem os tubos com viagens, que até parentes teriam viajado por conta da entidade, não sei se é verdade, mas é bom ficar de olho. Mas posso dizer que em 2002 o CRECI-SP estava todo aparelhado pelo PSDB. Um de seus diretores tentou sair candidato a vereador em 2004 e não conseguiu. Abram os olhos, arquitetos, agrônomos, engenheiros, geólogos, etc., pode haver um enorme bolo de carne debaixo desse angu. Ah, não nos esqueçamos de 2 engenheiros que foram fundamentais nas arrecadações do PSDB-SP nos últimos 12 anos: Paulo Preto e Manfred Albert von Richthofen, ambos ocuparam a presidência da DERSA, embora fossem funcionários públicos, levavam vida de milionários. Um morava no Morumbi (o pai assassinado) e o outro, na Vila Nova Conceição. Quem é da Capital, sabe quantos milhões valem esses imóveis.

  3. rdmaestri,Em minha opinião,

    rdmaestri,

    A engenharia de projetos, primeiro nível no mundo, foi delirantemente implodida na primeira metade da década de 80, movimento que “jogou ao mar” uma expressiva quantidade de profissionais de ótima qualidade, pessoal aquele formado pelas universidades públicas, ou seja, um samba do loiro doido.

    Dali em diante, a procura pelo curso de engenharia, até então muito cotada, despencou, e assim permaneceu durante muitos anos. Quando ocorre uma fratura como aquela, fica difícil até mesmo professores de bom nível, e o pessoal formado precisa de alguns anos para ficar no ponto certo.

    Como é a área inegavelmente mais versátil ( o motivo de ter havido tentativas de proibir a presença de engenheiros em concurso público, por serem os que mais se classificam), era grande a quantidade de profissionais que desviava da carreira – nunca faltaram engenheiros a fazer parte da diretoria ou ocupar a direção de grandes empresas, pois o currículo da univeridade não estimula a formação de pessoas com aquele trágico pensamento cartesiano, não sei como está agora.

    Em minha opinião já externada aqui por mais de uma vez, na área de obras públicas o cenário, que já tinha ficado triste após a implosão supracitada, piorou consideravelmente com a expressiva interferência do Judiciário no processo de execução de obra, isto desde a elaboração do edital de licitação.

    Como eu disse recentemente, o grupo de fiscais indicado para acompanhar uma obra pública é obrigado a conhecer todo o Direito, e mesmo assim pode se arrebentar a qualquer momento, pois existe o “eu acho” de algum notável de algum tribunal, que fica a “achar” sobre algo que não tem a menor idéia do que se trata, e o “achômetro” do camarada pode impor expressivas multas $$$ aos profissionais (em tese, o ordenador de despesa também responde, mas apenas em tese).

    Esta mecânica perversa tem uma característica, o grande incentivo ao jabá, corrupção, como percebem alguns, afinal, em caso de uma multa de, por hipótese, 300 mil $$$, como é que o fiscal que recebe 5 mil $$$ mensais faz, vende o imóvel, rouba a sogra, pula da janela ? É assim que funciona.

    E a turma que fiscaliza o fiscal não tá nem aí, geralmente de antolhos e cumprindo o que está escrito no livreco, daí as tais 42 obras paralisadas por suspeita de irregularidades há poucos anos, uma estupidez estratosférica que redundou em dez ou doze obras que apresentavam motivos para a interrupção que custa caro prá xuxu, $$$ que sai do bolso do contribuinte e pronto.

    Um abraço 

  4. Corretíssimo

    Os novos profissionais de engenharia, com bom potencial e que não “escorregam” para o mercado financeiro e outras áreas, estão prestando concursos para os órgãos de controle. É mais facil ser pedra do que vidraça.

    Os engenheiros dos órgãos públicos que trabalham com projetos e fiscalização de obras públicas ganham uma merreca. Só ficam os heróis, os quem não tem compromisso, e os mais “fracos” tecnicamente, é a seleção natural.  

    As empreiteiras gastam mais com advogados do que com engenheiros. Nas obras, só se pendurarem um poster do responsável técnico para os peões saberem quem é.

    O CREA é um cartório, pagando a ART, tá tudo certo (e agora ainda tem a CAU). Sua atuação política para valorização da engenharia no país é pífia. Compare com os médicos e advogados.  

    O discurso de que está faltando engenheiro é, simplesmente, para estimular mais ingressantes para a carreira e neutralizar os aumentos salariais e dificuldades momentãneas que o mercado da construção civil e da indústria (mecânica e elétrica) andou tendo ultimamente.

  5. Na mosca

    Paga-se muito pouco a engenheiros, às vezes com muita experiência, para  projetarem e executarem obras, no serviço público. Paga-se muito a engenheiros recém-formados, aprovados em concurso mas sem nenhuma experiência, para dizerem besteira, nos órgãos de fiscalização.

  6. Estatísticas

    De cada 10 que entram na faculdade de engenharia só 6 (estou sendo bondoso) saem com canudo. Destes 6 somente 2 irão trabalhar na área. O resto vai fazer as vezes de economista, administrador ou simplesmente engordar o que Marx chamava de exercito industrial de reserva. Ou vai virar suco!

    Os salários pagos são vergonhosos e completamente desestimulantes.

    E a precarização do mercado de trabalho é o retrato do que espera o candidato à engenheiro.

    Só as necessidades de projeto que economizariam bilhões ao Brasil e uma fortuna à iniciativa privada multiplicaria por dois os atuais números da necessidade de profissionais. Prefere-se pagar pouco, repassar a conta ao contratante do serviço, e pagar aos advogados para que descasquem o abacaxi que os proprios operadores do setor criaram.

  7. Vantagens da carrerira de engenheiro

    Uma das poucas vantagens da carrerira de engenheiro é a de poder pagar mais rapidamente seu carma aqui na Terra.

    Só o sofrimento dos 5 anos ralando na faculdade pagam fácil fácil os pecados de umas 3 vidas passadas.

  8. O autor acabou sendo soberbo em algumas frases!

    “Diferentemente dos médicos que quando ganham pouco no serviço público geralmente não trabalham e fazem um verdadeiro mimimi, os engenheiros simplesmente abandonam estas carreiras e não ficam chorando as pitangas por remunerações maiores por serviços mal executados, eles procuram outro serviço, não outra boquinha. Há um mercado de emprego paralelo que absorve a mão de obra dos engenheiros, o sistema financeiro é um deles, mas também poderíamos falar em outros.”

    Não é simples assim, alguns formados por escolas particulares não conseguem exercer a profissão, pelo em SP pode dizer isso. Sendo estes ligados a engenharia elétrica ou mecânica e suas derivações, alguns atuam em indústrias acabam ficando em chão de fábrica ou em outras funções. 

    “Se a taxa de engenheiros que não exercem engenharia é muito maior do que a dos médicos é simplesmente porque os engenheiros podem trabalhar em outras funções que os médicos não conseguem. Normalmente não se vê um médico trabalhando na diretoria de uma instituição financeira, não porque os médicos não queiram, simplesmente porque não tem capacitação técnica para tanto.”

    Na minha opinião se igualou a parte da classe médica que faz eco de soberba por ai. Pois desmereceu um categoria e enalteceu outra, nesta caso a engenharia. Por que o mercado financeiro pega engenheiros? pois, a disciplina nos 3 primeiros anos é uma mescla do que o  graduado em matemática e física veêm mais afundo, passando um pouco pela quimíca (há uma vairação dependendo da curso). As demais disciplinas não vejo nada de super cálculos ou qualquer coisa focada para a área financeira para ter essa absorvição pelo mercado. Por que há essa absorvição desses profissinais no financeiro? qual, ou quais disciplinas chamam a atenção, os cursos específicos para a área financeira não dão conta ou a grade é defasada? Em outros países acontece a contratação de engenheiros para a área fianceira também?

    Não vejo também o reconhecimento para o graduado em matemática ou a física. Aliais um colega meu sai da faculdade de física na USP, para cursar tecnologia na Fatec, pois, segundo ele, o mercado não reconhece tal curso.

    Tudo isso digo a respeito no meu micro-universo, pois, somente com uma pesquisa pode-se ter uma melhor análise.

     

    1. Como disse este artigo foi

      Como disse este artigo foi tirado de um comentário e não tinha a mínima pretensão de ser politicamente correto ou ter cuidado em não ferir sentimentos, agora que os médicos nem tem condição nem formação para serem caixas de banco não tem, isto não é desmerecer classe nenhuma é simplesmente reconhecer as especificidades de cada formação.

      Outra coisa, na área financeira não são necessários grandes cálculos que juificariam uma formação mais aprimorada em matemática, porém quando se estuda a parte de análise de projetos das mais diversas áreas de engenharia, os engenheiros ganham pontos para uma performace mais qualificada no setor financeiro. Não é a matemática que permite a contratação de engenheiros para este setor mas sim a visão mais completa de sistemas, coisa que por exemplo não é apreendida em física ou matemática. O conjunto da obra que vai definir o perfil e não a análise fragmentada de partes do todo.

  9. O que existe na realidade no

    O que existe na realidade no Brasil eh uma diferenca gritante em relacao a muitas carreiras de nivel universitario.

    Em paises desenvolvidos, tomando se o exemplo dos EUA, um engenheiro recem formado ganharia 60 mil dolares anuais. Um engenheiro senior estaria em torno de 100 mil dolares anuais. Ou seja, a diferenca pos impostos entre uma pessoa com experiencia e sem experiencia nao varia na aberracao que eh o Brasil.

    Agora, se comparar com muitas outras carreiras, a engenharia paga melhor do que muitas outras, mas a normalmente eh de apenas 10, 20 mil dolares anuais. Sim, um fisionterapeuta, quimico, professor, economista, banqueiro, etc tem salarios similares (tirando medicos).

    Quando um engenheiro brasileiro se depara com o mercado, com a crescente desindustrializacao brasileira e posicoes que pagam 3 vezes mais, eh logico que no final o dinheiro fala mais alto.

    Se a realidade eh assim para engenheiros, as outras carreiras no Brasil chegam a ser uma piada.

    1. Marcelo o teu cálculo da

      Marcelo o teu cálculo da remuneração inicial de um engenheiro está errado, o salário mínino de um engenheiro em 2014 é de  R$ 6.154,00, se considerarmos 13 salários ao ano dará R$80.000,00, ou seja, pelo dolar do dia de hoje dará US$31.129,00 re não US$10.000,00 anuais. Agora isto é o salário mínimo profissional, que mesmo em cidades como Porto Alegre é respeitado pelas empresas. Em outros estados este valor é fácilmente superado e um engenheiro senior está ganhando em torno de US$45.000,00 a US$60.000,00 ou mais, dependendo do porte da empresa.

      Pode-se dizer que a distância salarial entre um médico norte-americano e um brasileiro é maior do que a de engenheiros.

      1. Empresas fogem do piso salarial mínimo de engenheiro

        Para não ter de pagar o piso salarial mínimo de engenheiro, diversas empresas fazem o registro na carteira de trabalho como analista ou outros nomes, mas não registram como engenheiro

    2. Só para mostrar que não estou inventando

      Só para mostrar que não estou inventando salários retirei de um site de empregos estes dois anúncios.

       

      Fui até modesto na minha previsão de engenheiro senior.

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