Janio de Freitas: Aumento da tarifa deve gerar mais protestos incompreendidos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Janio de Freitas

Na Folha

A mensagem do quebra-quebra

O tumulto paulista sugere que o problema das passagens de ônibus excede o âmbito decisório das prefeituras. O fato de ter havido só um breve bafafá no Rio e nem isso em outras capitais (ao menos à hora da sexta-feira em que escrevo), não significa que o problema seja paulista. Nenhum usuário de transporte urbano no Brasil pode estar satisfeito. Logo, a ocorrência de protestos contra as condições e os preços desses transportes é lógica. Como é lógico que a crescente parcela desordeira da população utilize manifestações para o quebra-quebra de bens públicos e privados.

As passagens não mais subirão, para que não haja quebra-quebra? As prefeituras arcarão com os aumentos? Com que dinheiro? E vão por aí as perguntas que nem precisam de respostas.

Mas, sobretudo, as passagens de ônibus demonstram que o seu poder de pretexto está pronto para se estender a outros possíveis protestos. A longa e numerosa ocupação das escolas em São Paulo, por exemplo, não foi só o caso bacaninha como é visto nos jornais. Ou só episódico, como visto pelo governo paulista.

Todos esses acontecimentos são linguagens, são reflexos, são indicações. Que as classes bem servidas, e as paulistas mais do que as outras, preferem não perceber. Tal como fizeram com a deterioração de suas cidades, ainda mais na mais rica de todas.

PROVOCAÇÕES

Com suas diferentes posições sobre o governo Dilma, os 40 embaixadores aposentados que assinaram um manifesto de apoio ao governo brasileiro, e de repúdio ao de Israel, eliminaram qualquer dúvida na questão: Israel violou a praxe da indicação de embaixadores, apoiada na Convenção de Viena, e o Brasil está correto ao ignorar o indicado. Mesmo com ameaças israelenses de retaliação.

Mas permanece em aberto uma indagação. Se as relações comerciais e outros contatos entre os dois países não se alteraram nos últimos tempos, o que motiva e o que pretende Israel com os insultos agressivos que passou a fazer ao Brasil, desde pelo menos meado de 2014? Em 24 de julho daquele ano, um porta-voz do ministro do Exterior e premiê Netanyahu definiu o Brasil como “anão diplomático”. Para comprovar que não foi apenas idiotice de um assessor, no dia seguinte o mesmo sujeito disse ser o Brasil “politicamente irrelevante”. As duas vezes, em entrevistas internacionais.

A meio do ano passado, Netanyahu divulgou na internet a sua escolha para embaixador no Brasil: Dani Dayan, por seis anos presidente do Yesha, entidade propagadora das ocupações e dos “assentamentos” em terras palestinas, muitas vezes condenados na ONU. E contrário ao recente Estado da Palestina, já reconhecido por mais de 70% da ONU. Dani Dayan é um praticante da teoria de “conquista de espaço vital” que Netanyahu e alguns antecessores foram buscar na década de 1930.

Netanyahu ainda tardou semanas a encaminhar ao Brasil o pedido de “agrément” (concordância, aprovação) para Dayan. Ao recusar a consulta preliminar e sigilosa, que é ato de praxe, e antecipar pela internet o escolhido impróprio, Netanyahu fez um insulto e uma provocação. O Brasil não respondeu e não vai responder.

Nas relações internacionais, há atitudes que são contra um governo e atitudes que são contra o país. Netanyahu adota a segunda, confirmada pelo aviso de futura “retaliação ao Brasil” feito por Dayan. Ao visar o país, fizeram a escolha certa. Reprovar a ação extremista e violenta de governos israelenses, contra decisões da ONU e contra direitos palestinos, para nem falar em vidas, é uma posição do Brasil, mantida com o passar dos governos no regime democrático.

Se em tal posição o extremismo israelense não reconhece valor, também não o tem a posição que apoiou a criação e hoje apoia a existência de Israel: as duas posições nasceram juntas, partes da mesma resolução da ONU e da mesma posição e mesmo voto do Brasil em 1948, repetido desde então.

O convívio cordial que é dado aqui à comunidade judaica não faria prever os insultos e provocações que Israel vem dirigindo ao Brasil. Essa comunidade tem os seus extremistas. Será melhor, para todos, que eles sejam contidos e não importem o espírito de Natanyahu. Os ânimos no Brasil não estão para riscos desse tipo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Dois assuntos relevantes.
    O

    Dois assuntos relevantes.

    O primeiro,referente aos movimentos sociais pela melhoria da condição de vida,nesta abordagem,sobretudo,das tarifas de ônibus.

    Lá pelos idos dos anos 1990 havia uma planilha que pasava por discussão com conselho de usuários em algumas cidades para somente após esta discussão a tarifa ser aprovada.

    Está na hora de discutirmos isso novamente e,mais que isso,discutirmos o sistema de transportes como um todo.

    Nào dá para ficar com um transporte ineficiente e caro. É preciso que haja uma adequação a realidade de cada cidade e,sobretudo,as novas tecnologias existentes que permitem a redução dos custos.

    Quanto ao segundo tema é um pouco mais complicado. O sionista de plantão não faria estas provocações de graça. Isto tem a ver com o anão diplomático ter se metido a besta em resolver ,junto com os anões turcos,a questão nuclear com os anões iranianos,coisa que,aparentemente,ofendeu muito o grande irmão que,como sabemos,confunde-se com os sionistas. Nào sabemos se os sionistas mandam no grande irmão ou o grande irmão manda nos sionistas. O resumo da ópera é o mesmo: São farinha do mesmo saco.

    Os anões brasileiros devem fazer exatamente o que fizeram: Ignorar

  2. O Brasil se constitui de povo

    O Brasil se constitui de povo e povão, que precisa usar conduções para seus transportes. É gente trabalhadora, ainda sem perspectivas, mas que pagam impostos como todos. Mereceriam ter trasnportes de ótima qualidade; com segurança; com ar condicionado. Nada mais absurdo que uma mulher, grávida ou não, ter que se trasnportar nessas carcaças de ônibus, em pé, mal podendo elevar os braços para não se desequilibrar. Vivi isso há alguns anos na cidade carioca, e muitas vezes presenciei pessoas se esbrrachando nas plataformas dos transportes. O povo não reclama apenas dos aumentos, mas desses meios de transportes sem o mínimo de conforto e de segurança espalhados nas diversas cidades brasileiras. 

    O fato é que o povo anda mais esclarecido do que nunca. Não tá mais aguentando ser manipulado porque passou a conhecer melhor os seus direitos. Cabe aos governos estaduais e do DF abrirem a cuca para o que poderá acontecer se nada for mudado, investido, no sentido de retribuição ao povo pelo que ele paga religiosamente. 

      1. Nem sempre o que o meu opositor diz é automaticamente errado…

        Nesse caso, embora ele diga isso por motivos errados, ainda assim está certo: esse movimento é picareta.

  3. nesse texto há um alerta para

    nesse texto há um alerta para outros interesse que

    não o do preço da passagem…

    seria interessante desvelá-los para sabermos em que tempo estamos…

  4. Não reconhecer o óbvio, Ingenuidade ou Má- Fé ?

    1) A polícia do Alckmin não conseguiu impedir as depredações descaradas de seis ônibus , lojas e outras atitudes de selvageria desenfreada  nas últimas manifestações contra o aumento do preço de passagens de ônibus, porque:

    a) essa mesma polícia assim como a do psdb do parana é treinada para agredir alunos e professores em suas reivindicações legítimas e outras reivindicaçõs legítimas, mas quando enfrentam bandidos em suas tentativas de usurpação do poder, se acovardam, amolecem, fingem agir e entregam o ouro ao bandido.

    b) são todos da mesma turma e estão fazendo treinos para começar a insuflar a ação golpista terrorista contra o governo legitimamente eleito, assim como já tentaram outras vezes ( o interesse da população é mero pretexto).

    c) a e b estão corretas e ambos os lados recebem pixulecos para suas ações pseudocinematográficas, que são transmitidas pela grobollywood corrupta da histórica pindorama ( sem bombas, estratégicamente combinadas não haveriam efeitos bollywoodianos).

    d) a polícia do rio de janeiro já foi cooptada para o esquema.

    e) TODAS ESTÃO CORRETAS

    Dica: Não adianta reclamar pro bispo.

     

  5.  
    “Nas relações

     

    “Nas relações internacionais, há atitudes que são contra um governo e atitudes que são contra o país. Netanyahu adota a segunda, confirmada pelo aviso de futura “retaliação ao Brasil” feito por Dayan.”

    Discordo, esse netanyahu adota assim como a oposição do golpe, atitudes contra o governo dos trabalhadores, que defendem os direitos da maioria expoliada por essa direita nazista.

     

    1. Meire, q tal tirar o “judeus” e deixar só o sionistas?

      O antissemitismo só reforça o sionismo, dá a eles pretexto de justificaçao. Nao caiamos nessa! Ontem mesmo, ou anteontem, foi postado aqui no Blog um vídeo de rabinos judeus contra o estado de Israel. Há outros movimentos de judeus com o mesmo discurso, entre eles um chamado “Nao em nosso nome”. Há jovens israelenses presos por nao querer servir o exército contra o povo palestino. Entao, antissionismo sim, mas antissemitismo NAO!

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