O fenômeno do vandalismo nos transportes

 

A crise da mobilidade urbana

Por Jorge Ivan

Um fenômeno está a desafiar os cientistas sociais de nosso país, todos os dias assistimos pelos meios de comunicação às depredações e queimas dos ônibus como forma de variados protestos, hoje por qualquer motivo, seja de natureza social, política ou econômica, de grupos e até particulares, a saída encontrada é fechar as ruas e para dar visibilidade às ações, queima-se os ônibus, que tudo indica virou a Gení pós – moderna, (lembra-se da música?).

E por que isso vem acontecendo com uma frequência cada vez maior, uma resposta apressada nos leva a conclusão que o único intuito dessa forma de “protestar” é dar visibilidade a ação e, será só isso? Só o tempo dirá! Mas a quem serve, para que serve e qual sua importância social, econômica, estratégica e constitucional na garantia do sagrado direito de ir vir dos cidadãos.

Os ônibus são equipamentos que atua no sistema de transporte e tem por finalidade social, transportar coletivamente grupos de pessoas para realizarem tarefas relacionadas ao trabalho, lazer, consumo e outros afazeres da vida moderna, portanto, os mesmos cumprem uma função social e essencial, tanto nos sistemas produtivos, como no de circulação e consumo de bens e serviços, percebe- se claramente seu papel de grande indutor e dinamizador da economia.

Estrategicamente os ônibus são peça fundamental na resolução do grande problema da mobilidade urbana que ameaça tanto o direito de ir e vir, como aumenta os custos gerais do desenvolvimento, crescimento e deslocamentos das pessoas nas cidades. Um sistema de transporte eficiente e eficaz, integrado por vários modais, trens, VLT, metrô, marítimo e aéreo, além de diminuir o stress, garante rapidez e resolutividade nas decisões das empresas e também nas necessidades do dia a dia da população nos seus deslocamentos, seja para trabalhar, seja para resolver problemas particulares.

Economicamente podemos afirmar que, se o sistema capitalista fosse um corpo humano, os ônibus seriam o sangue que através dos vasos, veias e artérias levam à oxigenação necessária que mantém os órgãos e os tecidos vivos, similarmente os ônibus através das ruas, avenidas e estradas faz cumprir todo ciclo da produção de mercadorias transportando os operários desde o processo da extração da matéria prima até a fase final da venda e do consumo de toda riqueza produzida em nosso país.

A crise da mobilidade urbana atual realçou de sobremaneira a importância e o papel dos ônibus como meio de transporte coletivo, hoje com as cidades abarrotadas de veículos, com suas vias de trafego já com limite ultrapassados, há de se pensar em políticas públicas que privilegie esse importante meio de transporte. Cada ônibus emprega cerca de 05 pessoas, sendo 02 cobradores (onde existem), 02 motoristas e assumem nos seus custos, um funcionário da manutenção ou da administração das operadoras, são por conseguinte grande geradores de mão de obra em sem conjunto.

Dessa forma não é possível compreender o porquê de um equipamento tão essencial e acessível principalmente às camadas menos favorecidas financeiramente da sociedade, que por qualquer motivo, se volta contra um bem que tanto lhes serve, nos deslocamentos para realização de suas necessidades, haja vista que o modelo de crescimento das cidades é cada vez mais excludente, empurrando a cada dia o povão para as periferias enquanto vão concentrando o comercio, os serviços, lazer, enfim o trabalho, nos centros das cidades.

Deve ser ressaltado que quem acaba pagando a conta da depredação é o mesmo usuário, uma vez que nas tarifas tem um percentual destinado para esse objetivo, ou seja, de alguma forma quem depreda acaba pagando a conta, isso sem falar nos efeitos colaterais dessa atitude, pois muitas vezes a depender da quantidade e da gravidade do dano causado, tipo, incêndio dos veículos, as linhas por eles servidas ficarão dias, ou quiçá, meses sendo servida com uma frota reduzida.

Assim entendemos que já passou da hora da sociedade pressionar as autoridades, para juntos, usuários, rodoviários, permissionários e autoridades responsáveis pela área, achem uma saída, a fim de coibir essa pratica que em nada ajuda a melhorar o nosso já caótico sistema de transporte, uma vez que, essas práticas, além da depredação do patrimônio público, ainda geram uma enorme insegurança para uma população e uma categoria que já vive pra lá de estressada.

Redação

13 Comentários

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  1. Não entendí…

    … por que dar tanto destaque a um texto tão longo contra uma coisa obviamente reprovável: a destruição de equipamentos (no caso ônibus)  essenciais à população em geral  e a pessoas de qualquer estrato social.

    Haveria alguem a favor – excetuando bandidos e anormais- da destruição de ônibus e que precise ser convecido de que isso é errado ??

    Ou tô ficando burro ?

    1. Aqui mesmo está cheio de

      Aqui mesmo está cheio de comentaristas que justificam a queima de onibus, basta ler os comentarios, põe a culpa na imprensa, como em tudo que existe de ruim no Brasil, são adestrados como periquitos de realejo.

  2. Fácil explicar.Funciona

    Fácil explicar.

    Funciona assim em SP: Morador da periferia (inocente ou não)  é morto por PMs em  “confronto”.  Todo dia tem. Na maior parte das vezes isso não ganha destaque nenhum na mídia, (a  não ser que seja um black bloc ou tenha envolvido mais pessoas ou patrimônios)  Recentemente foi revelado que nem nas estatísticas esses crimes aparecem, já que são camuflados pela Secretaria de Segurança.

    A solução encontrada por moradores que conheciam a vítima, muitas vezes com o auxílio dos soldados do PCC, é exatamente esse de incendiar ônibus e chamar a atenção para os crimes da PM.

    Ainda assim, a invisibilidade dessas pessoas é tão dramática que a imprensa sequer procura saber o motivo da queima de determinado ônibus em determinada região. A notícia é apenas o “ônibus incendiado”.

    Para se coibir isso enviam mais PMs para a periferia. O resultado é óbvio…

    Na hora que enviarem advogados, promotores e juízes para essas pessoas, pode não ser mais necessário “botar fogo no busão”.

    Não tem nada a ver com mobilidade urbana. Tem a ver com violência da PM.

  3. Surpreendente é que não tenha

    Surpreendente é que não tenha acontecido antes … O ônibus é o símbolo do descaso do poder público com o trabalhador e com a cidade , nada é mais afrontoso. Montados em carrocerias de caminhão , o passageiro foi pensado para ser uma carga e não um cliente . É caro , quente , velho e perigoso . O fenômeno é que seja tratado como o principal vetor da mobilidade urbana…

  4. Pensando em Violência e Abuso.

    Tem a ver com violência da PM.

    Sim preservando o individual!

    Tem também de andar por e com a terrível violentacão do transporte individual sobre o coletivo.

    Se formos resgatar os incêndios dos ônibus veremos que a colisão tem a ver com a rua como arma. A rua não é da coletividade e individualizada, mudança profunda que vem nestas ultimas décadas.  A via de mobilidade urbana coletiva retardou, mas,  cresceu e continua ao individualizar e este meio é um afronta ao individualismo e a sociedade, as construções e moradias populares.

     Não podemos deixar passar este texto que tenta colocar o emprego como função social maior enquanto comparado com o beneficio do verdadeiro transporte coletivo que não são os ônibus, que aqui se você retirar a palavra ônibus e colocar caminhão e carro verificará que não é a realidade do transporte social e coletivo nem o transporte modal. Os transportes de cargas e massa  aeroviário, ferroviário, hidroviário e por ultimo o rodoviário, com custos e características operacionais próprias adequados para cada tipos de aplicação, operações e produtos.

    Na escolha do meio mais adequado ao transporte público, segurança, qualidade, tempo, velocidade, custos, eficiências, flexibilidade e manutenção com evolução são necessário estudar todas as rotas possíveis, estudando os modais e individuais fora das cidades e mais saudáveis e benefícios sociais nas massas em cada percurso urbano. Dutos para líquidos (aguas, suco de laranja), gases, produtos químicos e também como não pensar em grãos em áreas agrícolas. Precisamos pensar e repensar em transportes coletivos e modais.  

    Transporte individual e as vias sempre priorizando um transporte menor e não coletivos são os ônibus, caminhos e carros. Porque não coloca e compara os trens, navios e metros? Estar salvando a mobilidade em primeiro plano dos carros cinco passageiros, depois dos ônibus com 50 pessoas enquanto os de 1000 ou mais em transporte coletivo continuaram no século 19 e ainda sem consideração, esquecido, esta é a mentalidade em transporte de superfície em grandes cidades brasileiras, vejamos em Brasília inaugurado em 1962, e quando existe são como os trens com mais de 50 anos de atrasos, enquanto em outras grandes cidades do mundo já existe em evolução para mais de 100 anos.

    Outro dia lia uma reportagem que os trens novos e os intervalos entre eles seriam os mesmos, longos e demorados por ter um sistema de sinalização antigo e perigoso. O certo queira ou não esta nas vias de transporte massa na mobilidade sanguínea das cidades não serem construídas aéreas ou subterrâneas para ser eficientes e rápidas comparando o transporte coletivo e social e individual que seriam deixados para o segundo plano mais não é isto que acontece.

    Precisamos sim vias de carros e ônibus no mínimo em grandes cidades e periferias colocando, valorizando o  transporte público coletivos nestes locais da grande massa social.

    Os ônibus sempre serão complementos e nunca solução nos transportes publico no Brasil e no mundo.

    O resto é falácia e mascarar a realidade social no abuso!

  5. Quem queima ônibus não é quem

    Quem queima ônibus não é quem os utiliza. Os soldados do crime organizado têm seus carrões e,principalmente, motos.

    O povo não se impressiona,nem sente ímpetos de vingança, quando um bandidinho morre.Pratica o incêndio quem está à margem da lei.Trabalhador não se envolve nisso.

    Deve haver algum motivo político.

  6. Vai além disso. Até porque  é

    Vai além disso. Até porque  é  incentivado pela  mídia  golpista e seus finaciadores e simultaneamente  criticada.

    Esse movimento difuso da mídia  cresceu  pontualmente   a partir  das manifestações de junho,que  me parecem  ,não passaram de um ensaio para algo maior  e de  consequências mais graves.

  7. o ônibus não é do povo e os

    o ônibus não é do povo e os usuários sabem disso, toda vez que tem de pagar para utilizar, toda vez que as linhas são alteradas de forma autoritária e sem consulta prévia, toda vez que eles tomam a condução de baixa qualidade para ir trabalhar, ou seja, tomar ônibus é parte do trabalho, que as vezes toma mais de 2 horas do dia do trabalhador, sabendo que 90% das vezes que é usado é por trabalho e não por lazer.

    é por isso que o povo queima ônibus sem pestenejar. O dia que for do povo, gratuito e sob gestão popular, certamente os alvos mudam.

  8. O Ovo da Serpente
    *Fascismo à Brasileira*
     
     
     
     
     
     
    *Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasilque importantes setores
    da classe média e classe altasimpatizam com ideais semelhantes aos que
    formaramo caldeirão social do fascismo*
     
     
     
    *Por Leandro Dias*, no Pragmatismo Político*
     
     
     
    *Historicamente, a adesão inicial ao fascismo foi um fenômeno típico das
    classes dominantes desesperadas e das classes médias empobrecidas e apenas
    pontualmente conquistou os estratos mais baixos da sociedade,
    ideologicamente dominados pelo trabalhismo social-democrata ou pelo
    comunismo.*
     
    *Nos mais diversos cantos do mundo, dos nazistas na Alemanha e
    camisas-negras na Itália, aos integralistas brasileiros e caudilhistas
    espanhóis seguidores de Franco, as classes médias, empobrecidas pelas
    sucessivas crises do pós-guerra (1921 e especialmente 1929), formaram o
    núcleo duro dos movimentos fascistas.*
     
    *Esse alinhamento ao fascismo teve como fundo principal uma profunda
    descrença na política, no jogo de alianças e negociatas da democracia
    liberal e na sua incapacidade de solucionar as crises agudas que seguiam ao
    longo dos anos 1910, 1920 e 1930.*
     
     
    *Enquanto as democracias liberais estavam estáveis e em situação econômica
    favorável, com certo nível de emprego e renda, os movimentos fascistas
    foram minguados e pontuais, muito fracos em termos de adesão se comparados
    aos movimentos comunistas da mesma época.Porém, uma vez que a democracia
    liberal e sua ortodoxia econômica mostraram uma gritante fraqueza e falta
    de decisão diante do aprofundamento da crise econômica nos anos 1920 e
    1930, a população se radicalizou e clamou por mudanças e ação.*
     
    *Lembremos que, quando os nazistas foram eleitos em 1932, a votação foi
    bastante radical se comparada aos pleitos anteriores; 85% dos votos dos
    eleitores alemães foram para partidos até então considerados mais radicais,
    a saber, Socialistas (social-democracia), Comunistas e Nazistas
    (nacional-socialistas), os dois primeiros à esquerda e o último à direita.*
     
    *Os conservadores ortodoxos, anteriormente no poder, estavam perdidos em
    seu continuísmo e indecisão, sem saber o que fazer da economia e às vezes
    até piorando a situação, como foi o caso da Áustria até 1938, completamente
    estagnada e sem soluções para sair da crise e do desemprego, refém da
    ortodoxia de pensadores da escola austríaca, tornando-se terreno fértil
    para o radicalismo nazista (que havia fracassado em 1934).*
     
    *Além disso, o fascismo se apresentava como profundamente anticomunista, o
    que, do ponto de vista das classes dominantes mais abastadas e classes
    médias mais estáveis (proprietárias) menos afetadas pelas crises, era uma
    salvaguarda ideológica, pois o “Perigo Vermelho”, isto é, o medo de que os
    comunistas poderiam de fato tomar o poder, era um temor bastante real que a
    democracia liberal parecia incapaz de “resolver” pelos seus tradicionais
    métodos, especialmente após a crise de 1929.*
     
    *O fascismo, desta maneira, se apresentou como último refúgio dos
    conservadores (sejam de classe média ou da elite) contra o socialismo.*
     
    *Os intelectuais que influenciavam os setores sociais menos simpáticos ao
    fascismo, o viam como um mal menor “temporário” para proteger a “boa
    sociedade” das “barbáries socialistas”, como o guru liberal Ludwig von
    Mises colocou, reconhecendo a fraqueza da democracia liberal face ao
    “problema comunista”:*
     
    *”Não pode ser negado que o Fascismo e movimentos similares que miram no
    estabelecimento de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que suas
    intervenções, no momento, salvaram a civilização europeia. O mérito que o
    Fascismo ganhou por isso viverá eternamente na história. Mas apesar de sua
    política ter trazido salvação para o momento, não é do tipo que pode trazer
    sucesso contínuo. Fascismo é uma mudança de emergência. Ver como algo mais
    que isso, seria um erro fatal”. (L. von Mises, Liberalism, 1985[1927], Cap.
    1, p. 47).*
     
    *Além da descrença na política tradicional e do temor do perigo vermelho
    num cenário de crise, houve ainda uma razão fundamental para as classes
    médias adentrarem as fileiras do fascismo: o medo do empobrecimento e a
    perda do status social.*
     
    *Esse sentimento – chamado de déclassement ou declassê no aportuguesado,
    algo como “deixar de ser alguém de classe” – remetia ao medo de se
    proletarizar e viver a vida miserável que os trabalhadores, maior parte da
    população, viviam naquela época.*
     
    *Geralmente, associava-se ao receio de que o prestígio social ou o
    reconhecimento social por sua posição econômica esmorecessem, mesmo para
    pequenos proprietários e profissionais liberais sem títulos de nobreza (ver
    Norbet Elias, Os Alemães).*
     
    *Esse medo entra ainda no contexto de uma evidente rejeição republicana,
    uma reação conservadora do etos nobiliárquico que dominava as classes altas
    e parte das classes médias urbanas nos países fascistas, à consolidação dos
    ideais liberais (mais igualitários) na estrutura social de poder e de
    privilégios, isto é, na tradição social aristocrática.*
     
    *Não foi por acaso que o fascismo foi uma força política exatamente onde os
    ideais liberais jamais haviam se arraigado, como Itália, Espanha, Portugal,
    Alemanha e Brasil.*
     
     
    *Por fim, cumpre lembrar que os fascistas apelam à violência como forma de
    ação política.Como disse Mussolini: “Apenas a guerra eleva a energia humana
    a sua mais alta tensão e coloca o selo de nobreza nas pessoas que têm a
    coragem de fazê-la” (Doutrina do Fascismo, 1932, p. 7).*
     
    *A perseguição sem julgamento, campos de trabalho e autoritarismo não só
    vieram na prática muito antes do genocídio e da guerra, mas também já
    estavam em suas palavras muito antes de acontecerem.*
     
    *No discurso e na prática, a sociedade é (ou destina-se) apenas para
    aqueles que o fascista identifica como adequados; há um evidente elitismo e
    senso de pertencimento “correto” e “verdadeiro”, seja uma concepção de
    nação ou de identidade de raça ou grupo. E essa identidade “verdadeira”
    será estabelecida à força se preciso.*
     
    *Mas por que estamos falando disso?*
     
    *Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil que importantes
    setores da classe média e classe alta simpatizam com ideais semelhantes aos
    que formaram o caldeirão social do fascismo?*
     
    *Vimos em texto recente
    (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/brasil-elite-e-capitalismo.html
    <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/brasil-elite-e-capitalismo.html>)
    que
    a sociedade brasileira, em particular a classe média tradicional e a elite,
    carrega fortes sentimentos antirrepublicanos (ou anticonstitucionais),
    herdados de nossa sucessão de classes dominantes sem conflito e mudança
    estrutural, sem qualquer alteração substancial de sua posição material e
    política, perpetuando suas crenças e cultura de Antigo Regime.*
     
    *Privilégios conquistados por herança ou “na amizade”, contatos pessoais,
    indicações, nepotismos, fiscalização seletiva e personalista; são todas
    marcas tradicionais de nossa cultura política.*
     
    *A lei aqui “não pega”, do mesmo jeito que para nazistas a palavra pessoal
    era mais importante que a lei.*
     
    *Há um paralelo assustador entre a teoria do ‘fuhrerprinzip’
    (http://en.wikipedia.org/wiki/Fuhrerprinzip
    <http://en.wikipedia.org/wiki/Fuhrerprinzip>) e a prática da pequena
    autoridade coronelista, à revelia da lei escrita, presente no Brasil.*
     
    *Talvez, por isso, também tenhamos, como a base social do fascismo de
    antigamente, uma profunda descrença na política e nos políticos. Enojada
    pelo jogo sujo da política tradicional, das trocas de favores entre
    empresas e políticos, como o caso do Trensalão ou entre políticos e
    políticos, como os casos dos mensalões nos mais variados partidos, a classe
    média tradicional brasileira se ilude com aventuras políticas onde a
    política parece ausente, como no governo militar ou na tecnocracia de
    governos de técnicos administrativos neoliberais.*
     
    *Ambos altamente políticos, com sua agenda definida, seus interesses de
    classe e poder, igualmente corruptos e escusos, mas suficientemente
    mascarados em discursos apolíticos e propaganda, seja pelo tecnicismo
    neoliberal ou pelo nacionalismo vazio dos protofascistas de 1964, levando
    incautos e ingênuos a segui-los como “nova política” messiânica que vai
    limpar tudo o que havia de ruim anteriormente.*
     
    *Por sua vez, como terceiro ponto em comum, partes das classes médias
    tradicionais e a elite têm um ódio encarnado de “comunistas”, e basta ler
    os “bastiões intelectuais” da elite brasileira, como Reinaldo Azevedo,
    Rodrigo Constantino ou Olavo de Carvalho ou mesmo porta-vozes do soft power
    do neoconservadorismo brasileiro, como Lobão e Rachel Sherazade.*
     
    *É curioso que o mais radical deles, Olavo de Carvalho, enxergue “marxismo
    cultural” em gente como George Soros (megaespeculador capitalista),
    associando-o ao movimento comunista internacional para subjugar o mundo
    cristão ocidental.*
     
    *Esse argumento, em essência, é basicamente o mesmo de Adolf Hitler: o
    marxismo e o capital financeiro internacional estão combinados para
    destruir a nação alemã (Mein Kampf, 2001[1925], p. 160, 176 e 181).*
     
    *E, ainda, somam-se a isso tudo o classismo e o racismo elitista evidentes
    de nossa “alta” sociedade.*
     
    *Da “gente diferenciada” que não pode frequentar Higienópolis, passando
    pelo humor rasteiro de um Gentili, ou o explícito e constrangedor classismo
    de Rachel Sherazade (http://www.youtube.com/watch?v=8hZ4cewFSl4
    <http://www.youtube.com/watch?v=8hZ4cewFSl4>), que se assemelha à “pioneira
    revolta” de Luiz Carlos Prates (http://www.youtube.com/watch?v=QIKvrC5gOa4
    <http://www.youtube.com/watch?v=QIKvrC5gOa4>), ao constatar que “qualquer
    miserável pode ter um carro”, culminando com o mais vergonhoso atraso de
    Rodrigo Constantino
    (http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/o-rolezinho-da-inveja-ou-a-barbarie-se-protege-sob-o-manto-do-preconceito/
    <http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/o-rolezinho-da-inveja-ou-a-barbarie-se-protege-sob-o-manto-do-preconceito/>)
    em sua recente coluna, mostrando que nossos liberais estão mais inspirados
    por Arthur de Gobineau e Herbert Spencer
    (http://en.wikipedia.org/wiki/Herbert_Spencer#Social_Darwinism
    <http://en.wikipedia.org/wiki/Herbert_Spencer#Social_Darwinism>) do que
    Adam Smith ou Thomas Jefferson.*
     
    *A elite e a classe média tradicional (que segue o etos da primeira) não
    têm mais vergonha de expor sua crença no direito natural de governar e
    dominar os pobres, no “mandato histórico” da aristocracia sobre a patuleia
    brasileira.*
     
    *O darwinismo social vai deixando o submundo envergonhado da extrema
    direita para entrar nos nossos televisores diariamente.*
     
    *Assim, com uma profunda descrença na política tradicional e no parlamento,
    somada a um antirrepublicanismo dos privilégios de classe e herança,
    temperados por um anticomunismo irracional sob auspícios de um darwinismo
    social histórico e latente, aliado a uma escalada punitivista alinhada a
    “ciência” econômica neoliberal, temos uma receita perigosa para um
    neofascismo à brasileira.*
     
    *Porém, antes que corramos para as montanhas, falta um elemento fundamental
    para que esse caldeirão social desemboque em prática neofascista real:
    crise econômica profunda.*
     
    *Apesar do terrorismo midiático, nossa sociedade não está em crise
    econômica grave que justifique esta radicalização filo-fascista recente.*
     
    *Pela primeira vez em décadas, o país vive certo otimismo econômico e,
    enquanto no final dos anos 1990, um em cada cinco brasileiros estava abaixo
    da linha da pobreza, hoje este número é um em cada onze.*
     
    *A Petrobras não só não vai quebrar como captou bilhões recentemente. A
    classe média nunca viajou, gastou no exterior e comprou tanto quanto hoje,
    nem mesmo no auge insano do Real valendo 0,52 centavos de dólar. O otimismo
    brasileiro
    (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,taxa-de-otimismo-do-brasileiro-cai-pela-primeira-vez-desde-2009-revela-ibope,1117414,0.htm
    <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,taxa-de-otimismo-do-brasileiro-cai-pela-primeira-vez-desde-2009-revela-ibope,1117414,0.htm>)
    está muito acima da média mundial, mesmo que abaixo das taxas dos anos
    anteriores.*
     
    *No entanto, apesar de tudo isso, parte das antigas classes médias e elites
    continuam se radicalizando à extrema direita, dando seguidos exemplos de
    racismo, intolerância, elitismo, suporte ao punitivismo sanguinário das
    polícias militares, aplaudindo a repressão a manifestações e indiferentes a
    pobres sendo presos por serem pobres e negros em shopping centers.*
     
    *Isso tudo com aquela saudade da ditadura permeando todo o discurso. Se não
    há o evidente déclassement, o empobrecimento econômico, ou mesmo um medo
    real do mesmo, como explicar esta radicalização protofascista?*
     
    *Não é possível que apenas o tradicional antirrepublicanismo, o
    conservadorismo antiesquerdista e o senso de superioridade de nossas elites
    e classes médias tradicionais sejam suficientes para esta radicalização,
    pois estes fatores já existiam antes e não desencadeavam tamanha
    excrescência fascistoide pública.*
     
    *Não.*
     
    *O Brasil vive um fenômeno estranho.*
     
    *As classes médias tradicionais e elite estão gradualmente se radicalizando
    à extrema direita muito mais por uma sensação de déclassement do que por
    uma proletarização de fato, causada por alguma crise econômica.*
     
    *Esta sensação vem, não do empobrecimento das classes médias tradicionais
    (longe disso), mas por uma ascensão econômica das classes historicamente
    subalternas. *
     
    *Uma ascensão visível. Seja quando pobres compram carros com prestações a
    perder de vista; frequentam universidades antes dominadas majoritariamente
    por ricos brancos; ou jovens “diferenciados” e barulhentos frequentam
    shoppings de classe média, mesmo que seja para olhar a “ostentação”; ou
    ainda famílias antes excluídas lotando aeroportos para visitar parentes em
    toda parte.*
     
    *Nossa elite e antiga classe média cultivaram por tanto tempo a sua
    pretensa superioridade cultural e evidente superioridade econômica, seu
    sangue azul e posição social histórica; a sua situação material foi
    portanto tão sem paralelo num dos mais desiguais países do mundo, que a
    mera percepção de que um anteriormente pobre pode ter hábitos de consumo e
    culturais similares aos dela, gera um asco e uma rejeição tremenda.*
     
    *Estes setores tradicionais, tão conservadores que são, tão elitistas e mal
    acostumados que são, rejeitam em tal grau as classes historicamente
    humilhadas e excluídas, “a gente diferenciada”
    (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/etnografia-do-201crolezinho201d-8104.html
    <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/etnografia-do-201crolezinho201d-8104.html>)
    que deveria ter como destino apenas à resignação subalterna (“o seu
    lugar”), que a ascensão destes “inferiores” faz aflorar todo o ranço
    elitista que permanecia oculto ou disfarçado em antiesquerdismo ou em
    valores familiares conservadores.*
     
    *Não há mais máscara, a elite e a classe média tradicional estão mais e
    mais fazendo coro com os históricos setores neofascistas, racistas e
    pró-ditadura.*
     
    *Elas temem não o seu empobrecimento de fato, mas a perda de sua posição
    social histórica e, talvez no fundo, a antiga classe média teme constatar
    que sempre foi pobre em 

  9. Prezados e prezadas,
    Atos de

    Prezados e prezadas,

    Atos de vandalismo contra transporte público não são raros, nem recentes da vida social brasileira.

    Um dos momentos onde os transportes mais sofreram foi durante as duas primeiras décadas do século XX, onde a Revolta da Vacina alcançou níveis de depredação grandes, onde vários bondes eram virados e incendiados.

    O texto parece uma propaganda do sistema de ônibus, um verdadeiro câncer nas estruturas urbanas de mobilidade brasileiras.

    É um modal poluidor, pouco eficiente e que necessidade de largas faixas de rolamento para se movimentar. Tem alto índice de letalidade no trânsito.

    Nenhuma grande cidade do mundo que resolveu minimamente seu problema de mobilidade o fez com ônibus. Eles, no máximo, são modais complementares e de ligação, só isto.

    O motivo pelo qual a população ataca os ônibus e outras facilidades urbanas (como trens, estações, etc) é o acúmulo de tensão a que estaõ submetidas estas populações ao longo de anos e anos de maus serviços, desrespeito e altas tarifas.

    As empresas concessionárias dos serviços de transportes rodoviários de passageiros  no Brasil se organizaram, na maioria das vezes, como poderosos carteis, que se desenvolveram a custa de disputas sangrentas, na sua fase de transição da informalidade para a regulamentação (mais ou menos como vemos hoje com as vans piratas), carteis estes que hoje aumentam seu poder à custa de fraudes sucessivas, onde passivos trabalhistas enormes são jogados no esquecimento das empresas “falidas”, sucedidas por outras “novinhas em folha”, geralmente comandadas por “laranjas”.

    Este cartel controla as licitações através do financiamento pesado das campanhas eleitorais, mantendo uma plataforma constante de privilégios.

    A população está queimando o local errado. Tinha que queimar os donos das empresas.

    Saudações.

     

     

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