Aumento de imposto poupa bancos e aprofunda recessão, por J. Carlos de Assis

Aumento de imposto poupa bancos e aprofunda recessão

por J. Carlos de Assis

O aumento de impostos para reduzir o déficit público é uma dessas demonstrações de estupidez da política econômica neoliberal que mostra o descompasso entre classes dominantes, donas dos meios de produção, e as elites dirigentes, que governam em seu nome. Uma política econômica progressista admitiria sem maiores problemas crescimento de déficit público e rejeitaria o aumento de impostos. A estupidez neoliberal propõe o oposto.

É muito importante que as elites dirigentes continuem estúpidas. A receita keynesiana para superação do desastre econômico em que nos encontramos pressupõe o gasto público deficitário, convertido em compras reais de bens e serviços pelo governo. Busca-se, com isso, estimular a economia, a demanda, o investimento, o emprego. Entretanto, esse déficit será inútil para o crescimento se for “queimado” na ciranda financeira.

Nossa sorte é que o contador Henrique Meirelles, tão ignorante de economia como o próprio Michel Temer, esteja afogado em ideologia neoliberal de tal forma que acredita que o déficit público é sempre prejudicial. Bom mesmo é o equilíbrio orçamentário, diz ele, que para isso fez a emenda do congelamento dos gastos públicos por 20 anos. A partir dele o empresariado adquire “confiança” no governo e, em seguida, começa a recuperação econômica. Acreditar nisso é como acreditar em Branca de Neve e nos Sete Anões.

Esse tipo de crença ideológica nos pressupostos neoliberais tem suas vantagens para a cidadania. Se acreditasse no déficit público para reverter a recessão, como fazemos nós, keynesianos, Meirelles poderia tomar o caminho de aumentá-lo, porém em lugar de destinar os recursos para a economia real, de forma a puxar os investimentos e o emprego,  poderia destiná-lo exclusivamente à especulação financeira com a dívida pública, como já faz com o déficit de 139 bilhões de reais previsto para este ano.

O aumento anunciado de impostos sobre a gasolina é absolutamente inútil. Reduzirá a massa de lucro ou, mais provavelmente, a massa salarial. Em ambos os casos, serão novos elementos de contração da economia, que continuará em depressão pelo terceiro ano consecutivo.  Se  não implicasse mais desemprego e mais queda de renda real, a medida anunciada seria um bom motivo para festejar o eventual “remorso” das classes dominantes em ter forçado o impeachment dois anos atrás.

O tipo de imposto escolhido por Meirelles para ser aumentado poupa o sistema financeiro. Este ponto  infelizmente é pouco percebido pelo empresariado produtivo. Este se comporta ideologicamente como escravo da financeirização. Os sintomas dessa escravidão são remotos. Há décadas toleramos  as taxas básicas  de juros mais altas do mundo. Em parte por ser sócio menor da financeirização, o empresário produtivo tem medo de atacar, por solidariedade de classe, os assaltos explícitos do setor financeiro. Entretanto, ao perceber o peso de um tributo que ficará à margem dos bancos, o empresariado produtivo poderá vir a ser um aliado do povo nessa batalha econômica contra o deus Mamon, o dinheiro – conforme denunciado pelo senador Roberto Requião seguindo a linha do Papa Francisco.

 

Redação

Redação

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  • No Brasil, o empresário

    No Brasil, o empresário também joga no time das finanças. É mais uma jabuticaba.

  • Não têm pra onde correr

    O déficit vai aumentando, aumentando, e se correr o bicho pega, se ficar ele morde...

    Se o déficit aumentar demais, eles terão de :

    Alternativa 1. começar a emitir dinheiro sem lastro, com o que a meta de inflação iria para o espaço. Esta alternativa causa horror aos banqueiros. voltariamos aos tempos da hiper inflação de Sarney que era ruim, mas melhor do que hoje.

    Alternativa 2. Chamar o FMI e... Chamar o FMI ? Negativo. O FMI já condenou o arrocho que a PEC dos gastos está dando no país. Se chamarem o FMI então Meireles vai levar uma bronca descomunal do Fundo Monetário que provavelmente só vai ajudar se eles revogarem a PEC dos gastos.

    Alternativa 3. Não fazer nada e ir empurrando com a barriga para ver até onde a economia cai. Provavelmente só vão parar quando um grupo suficientemente grande da elite se irritar com esta paradeira do comércio e exigir o fim da política de arrocho.

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