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TV GGN 20h: Bolsonaro, Jacarezinho e o maior desafio do STF

O programa começa com os dados de covid-19. Segundo Nassif, sem novidades: “está tendo queda, mas teve uma alta na média nos últimos três dias. A média voltou aos níveis de uma semana atrás”.

Sobre o caso Jacarezinho, em uma análise jurídica, Nassif diz que o Supremo tem um grande desafio: “você tem duas operações que foram feitas pelo bolsonarismo visando colocar em xeque o Supremo”

“Você pega três figuras totalmente ligadas ao Bolsonaro: o governador do Rio, o governador de Goiás e o jornalista Alexandre Garcia, que é o porta-voz oficial do bolsonarismo . O Garcia usando todo tipo de fake news para atacar o Supremo – não aquele Supremo abusivo, mas o Supremo que está garantindo o mínimo de coerência na política de saúde”, pontua Nassif.

“O Caiado (Ronaldo Caiado, governador de Goiás), quando ele atropela uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski e coloca as forças de segurança como prioridade para vacina. E esse caso do Rio de Janeiro”.

Rio de Janeiro e a influência do bolsonarismo

Para se ter uma ideia do jogo que, segundo Nassif, “vai ser decisivo para a democracia brasileira”: “quando o (Wilson) Witzel entra (no governo do Rio de Janeiro), ele acaba com a Secretaria de Segurança e cria duas secretarias com poderes totais sobre suas tropas”

As secretarias criadas são a Secretaria da Polícia Civil e a Secretaria da Polícia Militar. “Em qualquer governo minimamente sério, você tem a Secretaria de Segurança controlando essas duas secretarias. E ele (Witzel) colocou essas secretarias com poder. Ele cai e entra esse governador, Claudio Castro. E o Bolsonaro, ele se imiscui em todos os aspectos da segurança do Rio de Janeiro”.

“Primeiro aspecto: ele tira da Superintendência da Polícia Federal o delegado Ricardo Saadi, que é considerado um dos melhores delegados da Polícia Federal (…) Tinha as melhores estatísticas da Polícia Federal sobre o Rio de Janeiro, e tinha uma ofensiva contra milícias”

“O Bolsonaro implica, pressiona o Sergio Moro, até que tira o Ricardo Saadi. E antes de tirar, ele fala que saiu por questão de produtividade. E quando você vê a produtividade, era a melhor superintendência do Brasil”, lembra Nassif.

“Ele (Bolsonaro) avança sobre a Receita do Porto de Itaguaí, que é a porta de entrada do contrabando de armas entre as milícias. Ele se imiscui na Polícia Rodoviária Federal (…) Sem contar as ligações com o chefe do Escritório do Crime”, ressalta. “Quando cai o Witzel, o Bolsonaro se aproxima do Cláudio Castro e, pelas informações na época, tem interferência na escolha do secretário de Polícia Civil e do secretário de Polícia Militar”.

“Esses dois secretários, o coronel Figueredo e o delegado (Allan Turnowski), foram apontados pelo Curicica, que era o chefe de uma das principais milícias do Rio, como recebendo dinheiro das milícias, em uma delação que ele faz”, diz Nassif.

“Esse delegado (Turnowski)… Lá trás, em 2011, quando aquele grupo da Polícia Civil investe contra milícias, esse delegado apronta uma denúncia contra o principal delegado que investigava as milícias. Ele cria uma falsa denúncia, e afasta o delegado – e depois o delegado volta, e é punido (…) Esses dois (coronel Figueredo e o delegado Turnowski) são estreitamente ligados ao governador e ao Bolsonaro”, diz Nassif.

“Na véspera desse massacre, o Bolsonaro esteve no Rio de Janeiro a pretexto de visitar o motorista que foi preso na Rússia”, diz Nassif. “E visita o Claudio Castro, e tem uma reunião a portas fechadas com Claudio Castro – segundo agenda, ele foi lá para discutir obras conjuntas entre o governo dele e o Rio de Janeiro. Não saiu nenhum comunicado dizendo que obras que eram essas”, diz Nassif.

“Nesse dia, ele está sob o fogo geral da CPI – a CPI cerca, o Pazuello foge vergonhosamente, a CPI cerca o atual ministro da Saúde, o Mandetta fala da interferência do Carlos Bolsonaro… Ele (Jair Bolsonaro) está sob um tiroteio geral. No meio desse tiroteio, ele larga tudo e vai ao Rio de Janeiro”, lembra Nassif.

“No dia seguinte, você tem essa operação que é planejada para morticínio mesmo (…) Na entrevista dada para a imprensa para falar da morte, o chefe da operação diz que a culpa daquilo é do Supremo Tribunal Federal”, diz Nassif. “(Segundo o chefe da operação), o Supremo Tribunal Federal impediu, através de uma decisão do ministro Edson Fachin, impediu as operações nas favelas durante a pandemia e, com isso, permitiu aos traficantes se fortalecerem”

“Agora, vem a informação de que as pessoas que foram marcadas para morrer, pegaram fotos deles no Facebook com armas – então, você não tinha uma quadrilha montada”

“Os abusos foram revelados em todos os níveis. Isso vai ter julgamentos em cortes internacionais, mas o ponto central é o seguinte: o Bolsonaro pagou para ver. Ele (Bolsonaro) joga para cima do Supremo, o Supremo tem que atuar contra o governo do Rio de Janeiro, o Claudio Castro elogiou a operação, o Hamilton Mourão disse que todos eram bandidos sem saber quem era quem – a irresponsabilidade desse pessoal é impressionante”, afirma Nassif

“Todo o clima foi preparado dentro de uma situação que ‘eram bandidos que aliciavam crianças’. Faz 40 anos que crianças são aliciadas no Rio de Janeiro”, diz Nassif. “Você tem o maior desafio até agora ao Supremo Tribunal Federal. E por que o Bolsonaro faz isso: lá trás, ele tentou levar as Forças Armadas para o golpe, naquela manifestação que ele fez em frente ao Supremo. Não colou”

“Depois, (Bolsonaro) demitiu o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas. Houve uma reação e ele foi obrigado a cumprir o regulamento na indicação dos demais comandantes”.

“Nós estamos cantando aqui há semanas que a saída dele seria a radicalização – usando as milícias, clubes de caça e tiro e as Polícias Militares e Civis ligadas às milícias” pontua Nassif. “O que houve foi uma bola cantada. E agora o Supremo fica com esse desafio”

“É um desafio muito grande e mostra o grau de insensatez que foi permitir a um sociopata do nível de Bolsonaro chegar onde chegou”, ressalta Nassif. “Esse jogo vai ser uma semana nervosa. E esse pessoal, para fazer um ato político, não se peja de matar 25 pessoas”

“Estamos aí com as milícias, com o Bolsonaro se apoiando nas milícias – todo esse discurso de radicalização dele contra o Supremo foi para dar luz verde para esse pessoal. Se teve atuação direta nesse massacre ou se foi só uma forma de indução, a gente vai saber com o tempo”

“A intenção foi, efetivamente, colocar o Supremo Tribunal Federal na berlinda, e nós chegamos nesse ponto inacreditável”, afirma Nassif. “Vai ter que se aprender, a ferro e fogo, o significado daquela frase que a democracia é uma plantinha tenra que precisa ser regada todo dia”, diz Nassif.

“A partir do momento em que se permitiu a destruição da política, você criou o vácuo. Quando você cria um vácuo político, qualquer pessoa pode se habilitar. Pode ser um Napoleão Bonaparte, pode ser um Hitler. Aqui no Brasil, quem se habilitou foi o Bolsonaro”

“Nós temos um país a ponto de ser tomado pelas milícias. Isso vai exigir uma coragem institucional que o Supremo já mostrou em alguns momentos com o Alexandre de Moraes e o Gilmar Mendes, que vai ter que reiterar agora”, diz Nassif

“Veja o que fizeram com o Brasil, a profunda irresponsabilidade. A profunda ignorância sociológica, histórica – será que não sabiam que, quando rompessem esses limites da institucionalidade, quando criminalizassem a política como criminalizaram, não ia dar um aventureiro qualquer?”

“E o aventureiro que deu foi o pior aventureiro que podia surgir. Um cara dos porões, um cara que enaltece a tortura. Um cara que finge que se solidariza com o motorista, que vai no Rio para se solidarizar com o motorista. Tem 419 mil óbitos (de covid-19)”

“Que ele (Bolsonaro) é um imbecil, isso não se discute. Agora, essa imbecilidade foi incorporada por parte da opinião pública brasileira. Ou seja, todo aquele trabalho de décadas que você teve desde a redemocratização, de construção de valores, de construção de formas de julgamento (…)

“Essa semana vai ser uma semana tensa, que precisamos acreditar. É hora de suspender qualquer crítica ao Supremo, de saber da relevância do Supremo apesar dos problemas que podem ocorrer”, diz Nassif

Nassif conversa com o professor Dawisson Lopes, da UFMG. “Eu falo, brincando um pouco, das Leis de Newton e das Leis de Bolsonaro, como ele acaba reagindo toda vez que está contra a parede. Ele (Bolsonaro) vai para o corner, tá na lona, ele tem uns truques – e a gente já conhece esses truques”, diz o professor da UFMG.

“Invariavelmente, ele vai prometer golpe para a turma dele, para a plateia dele, ele vai criar factóide e vai cometer crime de responsabilidade – essa é a especialidade do presidente”, diz Lopes. “Ele está fragilizado nesse momento, não tenho dúvida”.

“A gente assistiu a uma espiral de enfraquecimento institucional nos últimos seis, sete anos, que nos trouxe até aqui. Isso eu acho mais ou menos pacífico entre os analistas sérios”, diz Lopes. “Não tem esse papo de que as instituições estão funcionando – quando a gente diz que as instituições não estão funcionando, sempre tem como pressuposto uma certa normatividade – quando a gente diz que não está funcionando, é que não está funcionando nos termos desejáveis, razoáveis, adequados”.

“A confiança nas instituições foi sendo minada, e se a pessoa não confia na instituição, não acredita em política, a gente chega nesse estágio em que estamos, em que qualquer um – literalmente qualquer um, qualquer desqualificado – pode pegar as alavancar para brincar”.

“O governo federal não se ocupa de planejar o Estado, de pensar organicamente a intervenção do poder público e, nesse vácuo, todo tipo de perversão, todo tipo de conduta criminosa acaba florescendo”, diz Lopes. “Nesse estágio de coisas, o Supremo tem um papel importantíssimo (…) Se forem ultrapassados em sua autoridade, o Congresso e o STF, aí é barbárie pura e simples, não resta mais nada. Então, tem que confiar no STF mesmo”.

Redação

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