TV GGN 20hs: o fim dos grupos de midia nacionais

Acompanhe o comentário do jornalista Luis Nassif sobre a mídia na era da globalização nesta quarta-feira, 23 de dezembro

O programa começa apresentando os últimos dados da covid-19 no Brasil: nesta quarta-feira, foram registrados 46.696 novos casos e 961 novos óbitos.

A média diária semanal de casos apresentou uma leve queda, chegando a 46.416 novos casos, enquanto a média de novos óbitos subiu para 784.

Os Estados com maiores aumentos de casos em sete dias são São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rondônia, enquanto o aumento de óbitos em sete dias é mais expressivo no Mato Grosso, Alagoas, Goiás, São Paulo e Amazonas.

Segundo Nassif, os números da covid-19 refrearam um pouco, mas o patamar registrado ainda é muito elevado.

“O Jair Bolsonaro – que vai ser julgado pelo Tribunal Internacional quando sair do governo – indicou a desembargadora Mônica Sifuentes. Ela não conseguiu votos suficientes e ficou fora da disputa”

“O Doria não tem jeito, a insensibilidade dele em relação a qualquer questão social é massacrante” – diz Nassif, sobre a retirada do direito dos idosos da gratuidade da passagem no transporte público de São Paulo

“Tem um movimento relevante sendo feito – não em relação ao meu caso, mas em relação à questão da liberdade de expressão”, diz Nassif, a respeito do cerco que tem sido feito para calar a informação livre.

“A imagem pública é um ativo público. Se você consegue com seu trabalho e tudo ter uma imagem pública, tem que ser em favor do público. Então, o fato de ser mais conhecido do que os demais me fez dar a cara pra bater, sabendo que vem represálias”, afirma Nassif.

“Um ponto que é muito importante é a condenação do jornalista Amauri Ribeiro Junior a sete anos e 10 meses de prisão por supostamente ter comprado informações confidenciais, que deram suporte a matérias envolvendo José Serra através de um despachante. É em primeira instância, e tem recurso”

“O Amauri é autor do livro ‘Privataria Tucana’, mas não é apenas isso. Desde os anos 90, ele é um dos principais jornalistas investigativos do país. Ele fez parte da equipe que, em 1996, ganhou o Prêmio Esso por um conjunto de matérias sobre a guerrilha do Araguaia”

“Segundo pessoas que participaram da equipe, ele (Amauri) foi a peça mais importante dessa equipe. E o trabalho dele em 1994 no Tocantins foi fundamental para a Polícia Federal prender o último dos assassinos do padre Josino Tavares, assassinado em 1986”

“É um baita jornalista investigativo, e essa prisão é uma ameaça a todo o conceito de liberdade de imprensa e direito à informação”, afirma Nassif.

Sobre o tema do dia, que são os grupos de mídia, quando a internet começou a avançar diversos grupos estrangeiros começaram a entrar no país – e a Associação Nacional dos Jornais tentou entrar no STF para impedir a entrada desses grupos por serem de capital estrangeiro.

“Era interessante: todo o trabalho da mídia em geral era contra qualquer forma de reserva de mercado, de política de reservar mercado interno para as empresas brasileiras, mas sempre se preservou esse feudo”.

“Quando começou a dispersão de audiência, com a TV a cabo, depois com internet, a Globo se manteve na liderança graças a algumas âncoras – campeonato nacional, as novelas, Fórmula 1, que são muito mais relevantes do que a audiência que se consegue no dia do evento”

“São âncoras que ajudam a conduzir a audiência ao longo dos dias. E tinha também o bônus de veiculação – quanto mais publicidade trouxesse para o grupo, mais retorno em bônus de veiculação. Isso foi derrubado pelo CADE, algo que seria impensável no governo Dilma ou no governo Lula”

“Quando se reservou o mercado interno para os grupos de mídia nacionais (…), o mercado brasileiro é um ativo nacional, tinha que ser usado para o desenvolvimento da economia nacional.

“Em relação a informação, o enfoque era mais abrangente ainda: a informação, ela é fundamental para a democracia e para a defesa dos interesses nacionais”.

Por isso ela tem de ficar nas mãos de grupos nacionais, que vão defender os interesses nacionais melhor do que os grupos estrangeiros – foi o que consolidou o conceito de reserva de mercado para a mídia”

O auge do poder da mídia ocorreu nos anos 90, quando chegou a derrubar um presidente (Collor) – “foi quando, digamos, chegou a exorbitar o poder da mídia de influenciar a política”

“Em 99, a mídia quebra quase que totalmente por conta da maxidesvalorização do FHC. Ela ainda mantém uma relativa diversidade nos anos 90 (…)”

“Quando vem 2004/2005, os grupos em crise e a internet escancarando que o modelo de mídia estava condenado, e não se sabia o que vinha pela frente, começa a chamada guerra cultural introduzida pelo Roberto Civita (…)”

“Então, você monta todo um modelo de guerra cultural – ‘vamos destruir todo mundo que tenha luz própria e não vai se enquadrar nessa guerra cultural para impor o poder da mídia especificamente”

“E vem o discurso de ódio, que vai se ampliando (…) Você acaba com a diversidade, e então uma parte do público vai embora. E começa o discurso de ódio – aquele público neutro, de melhor nível, vai embora”

“E esse discurso de ódio vai em um crescendo, alimenta tudo isso que a gente está vendo agora, cria-se um mercado para o colunista de ódio (…) E os princípios jornalísticos, você joga fora”.

“E comete-se o crime maior contra o jornalismo: a imprensa podia ter tudo, podia ter a interpretação que quiser, mas não podia comprometer o ponto central da imprensa que é a informação objetiva. Isso, que é a espinha dorsal do jornalismo, foi jogado fora”

“E você começa a usar fake news, começa a usar discurso de ódio, começa a utilizar a mentira, deixa de lado a informação (…) Tudo aquilo que a gente viu foi um dos episódios mais dantescos (…) O jornalismo foi jogado fora”.

“E quando você derruba um presidente da República, atravessou o rubicão (…) Não tem mais jeito, nenhum presidente iria aceitar conviver com um grupo que se vangloriava de derrubar um presidente da República. Isso não existe”

“O excesso de poder, não é só nas democracias – é por isso que existem as ditaduras: dentro desse ambiente democrático, o excesso de poder não prospera. Você começa a mostrar a cabeça muito para fora e leva bordoada”

“O que a mídia fez nesse período foi um crime muito mais amplo do que meramente a campanha do impeachment. Ela começou a desconstruir tudo o que é politicamente correto. Era o discurso do momento (…)”

“A destruição do politicamente correto visou você desvirtuar (…) Foi um trabalho genial do Olavo de Carvalho. O Olavo é um gênio do mal”

“O que é o politicamente correto: é aquele conjunto de conceitos civilizatórios que você vai criando ano após ano, até ter um acervo de normas que regem a sociedade. Não é politicamente correto você defender racismo, não é politicamente correto o machismo (…)”

“Tudo isso foi se desmontando (…) E tudo dentro de um trabalho de criar um novo Olimpo cultural, para tentar criar uma guerra cultural em espaço amplo – igual a Fox News fez nos Estados Unidos”

“E com isso, você foi destruindo todos esses princípios englobados no politicamente correto, que nada mais é do que princípios civilizatórios.

“Quando você desmonta isso – e era importante desmontar para poder vir toda aquela campanha de factóides (…) Você vai desmontando tudo aquilo que constrói uma sociedade civilizada que é a informação”

“Como você cria uma sociedade democrática civilizada? Você tem que ter informação objetiva, ou o máximo possível de objetiva. E em cima disso você vai tendo as discussões, as interpretações, e em cima dessas interpretações você vai criando consensos”

“E como é que você tem uma sociedade civilizada, que é a que emerge da Constituição de 88, esses conceitos vão criando degraus civilizatórios.

Quando você começa a desmontar a informação, não só com fake news, com mentiras, mas com julgamentos manipulados – como considerar a compra de paçoca como um escândalo – você vai desmontando todo esse processo a partir do qual você gera as discussões, gera os consensos, geram as leis, geram as Constituições, e o país entra embaixo da Constituição e todos os conflitos são administrados pela Constituição. Você começa a desmontar tudo”

“E você encontra ministros do Supremo dispostos a reescrever a Constituição, acabam todos os princípios e fica um quadro em branco para você jogar o que você quiser”

“Então, você começa a reescrever a Constituição e o que acontece: com todo esse caos, quem é que consegue fazer um jornalismo tradicional – que a essa altura o jornalismo alternativo entrou em guerra também?”

“Quem que faz esse jornalismo tradicional? El País, BBC, Reuters. Os grupos estrangeiros. E aí você olha para trás e fala ‘vem cá, a Constituição disse que tem que defender o interesse nacional'”.

“Uma defesa do interesse nacional é a informação objetiva, e quem é que tá entregando? Os grupos de mídia nacionais ou estrangeiros? “E ali você começa a quebrar a legitimidade dos grupos de mídia nacionais. Esse é só um aspecto da história”

“O outro aspecto é o modelo de negócios (…) Eu fiz um artigo dizendo que o acomodamento vai fazer a Globo perder todo o impulso criativo que ela tinha”

Nos anos 90, quando se começou a abrir a economia, os dois motivos de orgulho que se tinha era o Padrão Globo de Qualidade e a TAM do Comandante Rolim. A cada ano, tinha o lançamento da programação que era um tema nacional. E isso foi se perdendo”

“A Globo, na época, se falava ‘ela tinha que estar procurando mercado externo, com a TV a cabo tinha de estar fazendo programação para países de língua portuguesa (…) Mas não, você tem publicidade pública, publicidade privada, então vai acomodando e perde a vitalidade”

“E entra o novo modelo de negócios. O que está acontecendo com os grupos nacionais: você tem a Internet, basta a telefonia oferecer o cabo que tudo vem, com o 5G os grupos vão colocar (conteúdo) diretamente, não vai nem precisar de cabo, e o que restou para os grupos nacionais?”

“Nenhum deles tem dimensão para segurar a peteca (…) Resta a Globo, que ainda é uma grande empresa. E como ela vai se colocar? Ela tem um grande acervo de conteúdo efetivamente, que comove expectadores de mais de 40 anos, que viram as novelas lá trás”

“Quando você pega as novas produções, só a Netflix – o que ela tem de verba para novas produções é mais do que todo o orçamento da Globo. Você pega a Disney, a Apple, a Amazon, você não tem comparação”

“E aí tem outro aspecto que é o modelo de programa (…) Quando você pula para os tempos atuais, você compara o padrão de jornalismo da CNN com a Globo News, é uma diferença abissal”

“E como fazer para enfrentar todos esses grupos e esse padrão? De um lado, o jornalismo foi muito machucado nesse período. Nos anos 90, você tinha uma pressão permanente entre a redação e donos de jornal. Essa pressão garantia criatividade”

“Você tinha toda aquela preocupação dos diretores de redação, mostrando até onde iam os limites de interesses de negócios dos grupos, que são grupos empresariais”

“Tudo isso foi para o vinagre (…) Quando você começa com as deslealdades internas, você rompe com o caráter da redação. Você intimida aqueles que tem luz própria e cria uma nova geração amedrontada”

“O que é o caráter do jornalismo, que o Claudio Abramo falava tanto: é a soma dos caracteres individuais dos jornalistas que fazem um veículo. Não é um caráter único, não é um caráter do dono, o dono faz uma miscelânea, mas aquela soma tem vida”

“Você tem uma geração agora que é intimidada totalmente pelo alinhamento ideológico de 2005/2006. Então, ele olha e fala o seguinte ‘se eu não fizer isso, eu não vou caber nesse modelo. Como é que eu faço?’ Então você tem esse enquadramento que tira toda a vitalidade do jornalismo”

“Você tem algumas vozes que aparecem, mas agora é que começam a ter algum espaço de respiro para poder se manifestar. Você passa a ter discurso único na economia, você tem o fantasma do Bolsonaro que traz de volta os conceitos de liberdade de opinião”

“Quando você pega os jornalistas mais experientes, como é que vai ser o ajornamento? Então, por esse caminho, você vai ter uma retomada do jornalismo através de parcerias internacionais”.

Redação

3 Comentários

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  1. Caro Nassif, estamos juntos com VC nesse embate. Vivemos isso na família parental, quando ACM tentou fechar o Jornal da Bahia , onde nosso pai era gerente.

    Força , a Democracia merece !

    AXÉ !

  2. “…Em relação a informação, o enfoque era mais abrangente ainda: a informação, ela é fundamental para a democracia e para a defesa dos interesses nacionais”.

    Por isso ela tem de ficar nas mãos de grupos nacionais, que vão defender os interesses nacionais melhor do que os grupos estrangeirosEm relação a informação, o enfoque era mais abrangente ainda: a informação, ela é fundamental para a democracia e para a defesa dos interesses nacionais”.

    Por isso ela tem de ficar nas mãos de grupos nacionais, que vão defender os interesses nacionais melhor do que os grupos estrangeiros…” Agora? Nos instantes finais do 2.o tempo da prorrogação? NACIONALISMO? Mas NACIONALISMO não é Pecado Mortal segundo a Esquerdopatia? “E Conheceis a Verdade. E a Verdade Vos Libertará”. Se a Informação é Matéria Estratégica e Imprescindível para SOBERANIA NACIONAL, como é aceta a manipulação desta Informação pelos Interesses Estrangeiros quanto ao Nosso Território, Meio Ambiente, Povo e Produção AgroPecuária???!!!! Uma coisa é uma coisa e vice-versa? Somos assim tão lunáticos?! E como apenas a Informação é Produto Estratégico para Desenvolvimento, Segurança e Soberania Nacionais? E todo o restante da Estrutura Financeira, Comercial, Industrial, Tecnológica? Realmente a Verdade é libertadora !!!!

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