TV GGN 20hs: Rosa Weber deflagra o cerco a Bolsonaro

Luis Nassif entrevista Luiz Alexandre Souza da Costa, pesquisador do Laboratório de Estudos de Política de Defesa e Segurança Pública da UERJ

Jornal GGN – O programa começa apresentando os dados de covid-19 no Brasil: nesta sexta-feira, foram registrados 130.330 casos. Apesar do número elevado, a média semanal chegou a 52.101, queda de 30% ante sete dias e de 27,8% em 14 dias.

Quanto aos óbitos, 3.714 pessoas perderam a vida nesta sexta-feira. A média semanal ficou em 1544, queda de 14,5% ante sete dias e de 24,2% em 14 dias. Segundo Nassif, a queda dos dados se deve à eficácia das vacinas.

Sobre o caso da vacina vencida da AstraZeneca, Nassif diz que é resultado “da incompetência desse governo e da bancada militar da logística – e é na logística onde você tinha as maiores manifestações de corrupção”

A partir daí, Nassif detalha as operações de negócios estruturadas no governo, “dentro de um modelo que o Ricardo Barros já tinha inaugurado no Ministério da Saúde no período Temer, quando ele virou ministro da Saúde”

“Basicamente, você cria uma falsa escassez de medicamentos – no caso do Temer, 14 medicamentos de alta complexidade. Então, ele (Barros) criou a falsa escassez (…) E, em cima disso, ele abriu espaço para a Precisa e para a Global, ligadas a ele”

“Esse modelo foi implementado durante todo o ano de 2020, com o Bolsonaro sonegando e impedindo a compra de vacinas. Aquilo lá foi negócio, não foi só terraplanismo”, diz Nassif. “Foi atrasando a compra de vacinas e, em janeiro, veio o golpe fatal, que foi a medida provisória – em 50 anos de jornalismo eu nunca vi uma MP mais escandalosa assim”.

“Em vista da pandemia, ela (MP) abre a possibilidade de qualquer setor vender para qualquer ente público, sem licitação. Se der errado, se não conseguir entregar o produto, o fornecedor não é penalizado”, explica Nassif, afirmando que isso abriu espaço para pagamento antecipado, sem necessidade de aprovação pela Anvisa. “Em suma: é o mais descarado movimento público de um movimento para negócios. E aí você tem uma baita corrida de aventureiros em direção a esse negócio”

“É quando surgem o Carlos Wizard, o velho da Havan e outros querendo, defendendo vacina privada e esse negócio todo”, explica Nassif. “E dentro do Ministério da Saúde, você tinha toda a parte de compras de vacinas, o departamento de logística, controlado por um homem do Ricardo Barros. Então, nesse movimento, você tem dois grupos, de alguma forma ligados ao Bolsonaro, que tentam entrar nesse negócio da vacina”.

“E um deles é o deputado Luis Miranda (…) Na CPI, quando estava o cabo da polícia dando depoimento dele, ele mostra a gravação de uma conversa que não tinha nada a ver com vacina, mas era uma conversa entre Miranda e o representante desse Davati”.

“No Brasil, essa empresa tentou entrar inicialmente através do Luis Miranda. Daí Miranda vai até o Ministério da Saúde oferecendo 60 milhões de vacinas e recebe a proposta de suborno”, diz Nassif. “Mela o negócio dele. (Miranda) Fica indignado e vai falar com o Bolsonaro, e ele segura essa informação”.

“Quando essa distribuidora percebe que não ia conseguir nada com ele, se informa por alguns canais e vão dar em uma associação de Brasília, presidida por um reverendo – a coisa mais estranha do mundo”, ressalta Nassif. “E essa associação consegue um encontro lá no Ministério da Saúde, com a presença do cabo. É por isso que um cabo, que fazia a guarda do Palácio das Mangabeiras em Belo Horizonte, se torna o emissário de uma proposta de 60 milhões de vacinas”.

“E (o cabo policial) consegue ser recebido pelo alto comando do Ministério da Saúde, conduzido por coronéis. E quando chega lá bate de novo no esquema do Ricardo Barros, que pede propina” , explica Nassif. “E esse cabo, ele podia ter aceitado a propina de um dólar, o negócio estava feito, mas porque ele está tão poderoso assim ao ponto de negar esse caso? Porque ele está respaldado pelos Bolsonaro. É essa a lógica”.

“Tá tudo caracterizado – a demora em comprar vacinas, a medida provisória, esses movimentos todos, que você tinha quatro grupos atuando. Todo mundo ficou atrás desse negócio do século em cima de mortes”, diz Nassif.

“Era o grupo do Miranda que tenta emplacar as vacinas; é o grupo desse reverendo que aparece abraçado com esse Bolsonaro, o representante comercial da família; o grupo do Ricardo Barros e o grupo dos militares”.

Crimes e os militares

Diante desse cenário de crime nítido, ainda tem o papel da ministra Rosa Weber. Para isso, Nassif entrevista Luiz Alexandre Souza da Costa, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.

“Em relação aos militares no governo, eu acho que é um momento em que eles se aproveitaram muito para conseguir ter um protagonismo que eles não tinham desde a redemocratização”, diz Souza da Costa.

“Bolsonaro, para eles, atendeu a uma pauta muito importante e corporativista. Então, por um lado é uma pauta corporativista – de aumentos salariais, estruturação da carreira, não serem atingidos duramente pela reforma da Previdência”

“E, por outro lado, você tem interesses pessoais: determinados generais querendo aparecer, querendo ministério, querendo entrar na política por meios que não diretamente pelo voto”, pontua o pesquisador. “Então, acabou casando Bolsonaro, um deputado fracassado, um militar fracassado, com os interesses dos militares em voltar ao protagonismo político”.

E todo esse cenário se deu em meio a crise econômica e o viés conservador. “Tudo descambou para as eleições que conseguem fazer Bolsonaro se eleger”, explica o pesquisador da UERJ. “É realmente um cenário catastrófico que culmina com a eleição do Bolsonaro”

“Eu não vejo os generais apoiando Bolsonaro para um golpe”, diz Luiz Alexandre. “Minha preocupação maior hoje são com as polícias militares. Em sua maioria, inclusive seus oficiais de mais alto escalão, comandantes de unidade, esses sim apoiam umbilicalmente o bolsonarismo”

Rosa Weber e Supremo coesos contra Bolsonaro

Nassif destaca as posições recentemente anunciadas pelo Supremo Tribunal Federal, por conta das ameaças de Bolsonaro com relação às eleições.

“De um lado, você teve o Alexandre de Moraes abrindo um novo inquérito para essas fake news, dando um bypass na Procuradoria Geral da República, e você teve a Rosa Weber mandando investigar Bolsonaro – o procurador-geral Augusto Aras queria esperar o fim da CPI e ela (Rosa Weber) mandou abrir a investigação”, pontua Nassif.

Para o comentarista jurídico Eduardo Appio, “o Supremo Tribunal Federal está absolutamente coeso, à exceção feita ao ministro Nunes Marques, em relação à maior parte das políticas do presidente Bolsonaro”.

“O presidente Bolsonaro tem sofrido sucessivas derrotas, tanto na área administrativa, menos na área tributária, mas em área de direitos humanos, agora nessa questão relacionada à covid é uma sucessão praticamente infindável de derrotas da AGU (…)”, pontua Appio.

“A ministra Rosa Weber faz parte desse grupo mais coeso, que entende que ocorreram omissões notáveis e históricas no combate à covid desde seu início, em março do ano passado, e que portanto cabe à PGR, cabe ao MPF adotar medidas civis e criminais”, diz Appio

“O que nós estamos vendo hoje é algum ativismo judicial por parte da própria ministra Rosa Weber, que antevê que o procurador-geral Aras, talvez diante da possibilidade de uma vaga no Supremo onde seria conduzido em setembro, se veja um pouco limitado na sua autonomia funcional – tanto é verdade que o inquérito contra o presidente, ou para investigar um suposto superfaturamento da vacina indiana, foi instaurado por determinação do vice-procurador geral, não do procurador-geral Aras”, diz Appio.

“O que nós temos é um Supremo bastante coeso contra a maior parte das políticas da covid do governo Bolsonaro”, ressalta Eduardo Appio

Nassif também exibiu em primeira mão um mini-documentário produzido pela equipe do Jornal GGN mostrando como se deu o golpe das vacinas. Inscreva-se no canal da TV GGN para conferir o documentário completo assim que ele for ao ar!

Redação

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